A Visão do Trono de Deus em Apocalipse
Entre os capítulos 4 e 7 do livro de Apocalipse temos a descrição da visão que o apóstolo João teve acerca do Trono de Deus e o livro selado com sete selos.
Os capítulos 4-7 representam a segunda seção do livro do Apocalipse. Enquanto na primeira seção (cap. 1-3) João tem a visão de Cristo no meio de Sua Igreja, e como Ele a conhece profundamente, tratando de seus problemas, protegendo e prometendo a vitória, agora João tem a visão de como as coisas acontecem da perspectiva do Trono de Deus, e também sobre as tensões que a Noiva de Cristo enfrentará até a Sua segunda vinda.
Essa seção (cap. 4-7) descreve todo o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, e faz uma referência direta ao Juízo Final, com a condenação dos ímpios e a grande alegria dos salvos.
Neste texto, vamos nos concentrar apenas na visão sobre o Trono de Deus e o Cordeiro exaltado (capítulos 4 e 5). Em um próximo texto estudaremos de forma mais detalhada os capítulos 6 e 7, que tratam especificamente do livro com os sete selos. Antes, recomendamos a leitura do texto “Como Estudar o Apocalipse” para melhor compreensão deste assunto.
A visão do Trono de Deus no Apocalipse (capítulo 4)
No capítulo 4, encontramos o apóstolo João sendo convidado à subir ao céu para que pudesse ver “o que deve acontecer”. Imediatamente João se achou em espírito, ou seja, ele não subiu ao céu fisicamente, nem mesmo viu e ouviu essas coisas com seus olhos e ouvidos carnais.
Ninguém suportaria ver o que João viu em corpo humano, portanto ele teve uma visão. É importantíssimo considerar o simbolismo presente na visão, pois, se não for assim, o texto ficará impossível de se compreender.
Então, João viu um Trono no Céu. Trono significa autoridade, domínio, poder e honra. Aqui começa ficar clara a expressão “o que deve acontecer“. João contempla que nada acontece por acaso, que a História não está sem controle, ao contrário, há um Trono no céu que controla todas as coisas, nele, o Criador, Deus Todo Poderoso, governa o universo e conduz a História segundo os Seus propósitos.
Continuando a visão, João vê que Deus está assentado sobre o trono. Lembre-se que o livro foi primariamente escrito às sete Igrejas da Ásia, cujos cristãos enfrentavam duras perseguições. Saber que Deus está assentado sobre o Trono é certamente reconfortante. As sete Igrejas, espiritualmente, representam todas as Igrejas de todas as épocas, portanto, esse consolo também é para nós. Nosso Deus governa!
João não consegue descrever propriamente Deus, mas descreve o seu esplendor e majestade, destacando dois de Seus atributos. Ele diz que o que viu é semelhante à pedra de jaspe (ou no original algo como diamante branco e translucido) e a pedra de sardônico.
A pedra branca, pura, e cristalina, representa a santidade de Deus. Já o sardônico é vermelho vivo e representa o juízo de Deus. Assim, Deus é santo e justo.
João também viu ao redor do trono um arco-íris, parecendo uma esmeralda, que simboliza a graça e a misericórdia de Deus, ou seja, há uma aliança que demonstra que, para os eleitos de Deus, a tempestade já passou, pois Cristo é quem nos justificou.
Após o arco-íris, João viu relâmpagos, vozes e trovões, o que evidencia o juízo e a ira, isto é, o Trono de Deus é um Trono de juízo. Diante do trono estavam acessas sete tochas de fogo, que simbolizam o Espírito Santo, que é sábio, que tudo vê, que é fogo consumidor contra os ímpios, e santificador em relação aos santos.
Note que o arco-íris é visto antes dos relâmpagos, vozes e trovões. Isto quer dizer que a graça antecede o julgamento. Deus derrama a Sua misericórdia, mas também derrama sua ira em juízo. Aqueles que rejeitam a graça de Deus não poderão escapar da justiça dEle.
João viu algo como um mar de vidro, claro como cristal. Talvez uma boa interpretação seja que, simbolicamente, isso representa o poder santificador, ou seja, o sangue purificador do Cordeiro, em quem os santos lavaram suas vestes (Ap 7:14).
Os vinte e quatro tronos e os vinte e quatro anciãos
João viu vinte e quatro tronos, e assentados neles vinte e quatro anciãos. Alguns sugerem que os vinte e quatro anciãos são seres celestiais, anjos. Outra interpretação defende que os vinte e quatro anciãos representam o povo fiel de Deus, a Igreja em sua totalidade representada diante de Deus, ou seja, a Igreja do Antigo Testamento (doze Patriarcas) e a Igreja do Novo Testamento (doze Apóstolos). Penso que esta seja a melhor interpretação.
Perceba que os anciãos estão vestidos de roupas brancas que demonstram a justificação, estão sentados em tronos para reinar e julgar e possuem coroas de ouro que representam a posição de honra e prestigio, isto é, os vencedores são coroados (Ap 2:10; 3:11). Tudo isso está de acordo com passagens bíblicas que afirmam que os eleitos de Deus são reis e sacerdotes (1 Pe 2:9). Por fim, aos fiéis foram prometidas vestes brancas (Ap 3:4) e não há justificação para os anjos, portanto, os vinte quatro anciãos não podem ser anjos, mas são uma referência aos homens redimidos.
Os quatro seres viventes
João viu quatro seres viventes no meio e ao redor do trono, cobertos de olhos. O primeiro se parecia com leão, o segundo com novilho, o terceiro com rosto de homem e o quarto parecia uma águia voando.
Algumas interpretações sobre quem são estes quatro seres viventes são sugeridas:
- Eles representam os quatro Evangelhos: segundo quem defende esta posição, o leão representa Jesus como Rei no Evangelho de Mateus, o novilho mostra Jesus como servo em Marcos, o homem mostra Jesus como homem perfeito em Lucas e, a águia, mostra Jesus como aquele que veio do céu e volta ao céu no Evangelho de João.
- Eles representam a totalidade da natureza: o número quatro no livro do Apocalipse sempre está ligado à criação, portanto, os quatro seres viventes representam toda a grandeza da natureza. O leão representa os animais selvagens, o novilho os animais domésticos, a águia todas as aves, e o homem a coroa da criação de Deus. Algumas referências bíblicas também são utilizadas para declarar que toda a criação louva ao Senhor (Sl 19:1-2; 103:22; 148).
- Eles representam seres angelicais: os quatro seres viventes são querubins, uma ordem superior de anjos. A canção que cantam é a canção dos anjos (Is 6:1-4). A descrição como leão, novilho, homem e águia representa fortaleza, capacidade para servir, inteligência e rapidez. Essa posição estabelece um paralelo incrível com o capítulo 1 de Ezequiel, além de se apoiar que tais características são amplamente atribuídas aos anjos na Bíblia (Sl 103:21,21; Hb 1:14; Dn 9:21; Lc 12:8; 15:10).
Creio que dentre as interpretações citadas, a mais fraca é a primeira. Particularmente prefiro a última interpretação, pelo simples fato de que parece haver uma distinção no capítulo 5 entre os quatro seres viventes e a criação representada (Ap 5:13), mas não considero a segunda interpretação um problema, ao contrário, grandes teólogos aderem à segunda interpretação. Penso que o importante aqui é ressaltar que os quatro seres viventes adoram a Deus sem cessar e, em seus cânticos, eles declaram que Deus é santo, onipotente e eterno.
Dia e noite repetem sem cessar: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir”.
(Apocalipse 4:8)
A Igreja também adora ao Cordeiro
Juntamente com os quatro seres viventes, os vinte quatro anciãos também adoram ao que está assentado sobre o trono. Como os vinte quatro anciãos representam a Igreja de Cristo, podemos perceber claramente como a verdadeira Igreja adora o Deus Todo Poderoso:
- Eles se prostram diante daquele que está assentado no Trono;
- Eles lançam suas coroas diante dEle em sinal de completa submissão, pois suas coroas não vieram por seus próprios méritos;
- Eles declaram que o que está assentado no Trono é Senhor e Deus, o Criador de todas as coisas, e Soberano em Sua vontade.
O Cordeiro exaltado e o livro selado com sete selos (capítulo 5)
Continuando a visão, João viu na mão direita daquele que está assentado no trono (Deus Pai), um rolo (pergaminho) escrito por dentro e por fora. Esse livro representa o plano eterno de Deus, o decreto dEle sobre todas as coisas. O fato de ter sido escrito por dentro e por fora significa que nada foi esquecido, nada foi omitido.
O livro selado por sete selos representa que, na visão, o livro está totalmente selado e ninguém no céu, nem na terra, nem mesmo debaixo da terra pode desatar os sete selos. Lembre-se que o número “sete” no Apocalipse é muito representativo no sentido de “totalidade”. João então se desesperou ao saber que ninguém seria capaz de abrir o livro.
Logo, João é consolado, pois o Leão de Judá, a Raiz de Davi, venceu e é capaz de abrir o livro e desatar os sete selos. O Cordeiro recebeu o livro da mão direita daquele que estava assentado no Trono. Isso mostra que Jesus Cristo tem o livro da História em Suas mãos, e que, apenas através dEle, a História faz sentido. A referência ao “Cordeiro digno de desatar os sete selos” significa que Ele é o único que revela e pode cumprir o plano de Deus.
O livro, agora aberto, demonstra que o universo é governado no interesse da Igreja, e o propósito redentivo passa a ser conhecido, de forma que o plano de Deus é executado no decorrer da História. Deus governa o universo por meio do Cordeiro.
O Cordeiro é descrito como quem “parecia ter estado morto“, e isso representa a Sua marca, a vitória conquistada na cruz. Ele possui sete chifres. Chifres em toda a Bíblia simbolizam poder e força, bem como o número “sete” no Apocalipse representa algo completo.
Assim, Ele é totalmente forte e poderoso, Ele é onipotente. Ele também possui muitos olhos que simbolizam Sua onisciência. Ele está de pé no meio do trono, ou seja, Ele tem autoridade e poder e o livro da História está nas mãos dEle. Tanto para a Igreja perseguida da época, quanto para nós, à certeza de que nosso Deus tem todo o controle em Suas mãos é algo extraordinário.
Cristo, na sua ascensão ao céu, foi coroado e recebeu autoridade para governar todo o universo, segundo o decreto eterno de Deus. Ele recebeu do Pai o reino, Ele foi exaltado, e lhe foi dado um nome que é sobre todo nome (Sl 2; Sl 110; Dn 7:9-14; Lc 19:12; Hb 2:8-9; Fp 2:6-11). A coroação do Filho não implica que o Pai deixou o trono, mas que Ele se assenta juntamente com Seu Pai (Ap 22:1), pois Ele é igualmente e totalmente Deus.
Assim que o Cordeiro pega o livro e assume o reino, ocorre uma explosão de adoração. Os quatro seres viventes e os anciãos se prostram diante dEle. Cada um dos vinte quatro anciãos possui uma harpa, um instrumento de música usado no louvor, e taças de ouro repletas de incenso, que simbolizam as orações dos santos. Eles cantavam um novo cântico:
Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação.
Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra.
(Apocalipse 5:9,10)
Os milhares de milhares e milhões de milhões de anjos rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos. Em alta voz eles cantavam:
Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!
(Apocalipse 5:12)
A cena final descreve uma adoração total. Todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar diziam:
Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!
(Apocalipse 5:13)
Para nós, Igreja de Cristo, a mensagem é muito clara. Nós somos invencíveis! Fomos comprados pelo Cordeiro, e o Cordeiro tem o livro da História em Suas mãos. Certamente somos mais que vencedores!
Meu Deus que texto explicativo é esse,simplesmente maravilhoso. O fato de ser super simplificado me chamou muito a atenção, parabéns! Deus abençoe grandiosamente. Obrigada por esse estudo que edificou minha vida trazendo conhecimento. Paz!