A Epístola aos Hebreus: Estudo, Resumo e Esboço
A Epístola aos Hebreus é uma leitura fundamental para todos os cristãos. Nela o autor faz uma rica exposição acerca da superioridade de Cristo. Certamente todos aqueles que almejam crescer cada vez mais no conhecimento da Palavra de Deus deve ler essa carta.
Neste estudo faremos um panorama completo da Epístola aos Hebreus. Falaremos sobre as discussões acerca de sua autoria e conheceremos quem foram seus destinatários. Também entenderemos suas características e propósito.
Quem escreveu a Epístola aos Hebreus?
Um dos principais debates sobre a Epístola aos Hebreus se dá por conta da identidade de seu autor. Desde os primeiros séculos da história da Igreja, teólogos tentam estabelecer quem teria sido o autor da Epístola aos Hebreus.
Sendo bem direto, tudo o que podemos afirmar é que o autor da Epístola aos Hebreus é desconhecido. Apesar disto, sabemos algumas coisas importantes sobre ele:
- O autor foi um homem. Ele usou a forma masculina de um verbo grego ao escrever sobre si mesmo no capítulo 11 e versículo 32.
- Era alguém que dominava o grego. Ele era instruído no estilo literário helenístico.
- Era um profundo conhecedor do Antigo Testamento. Ele usava especialmente da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento.
- Ele conhecia pessoalmente seus leitores originais (Hb 13:22-23) e tinha um cuidado pastoral por eles.
- Ele foi convertido à fé em Cristo por meio do ministério instituído pelos apóstolos. Isso significa que ele não teve contato direto com Jesus (Hb 2:3-4).
- Ele também conhecia Timóteo pessoalmente (Hb 13:23).
É claro que tentativas para determinar o autor da Epístola aos Hebreus não faltaram. As principais sugestões são:
- Paulo: a igreja oriental no tempo de Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (185-253 d.C.) já atribuía a autoria da Epístola aos Hebreus à Paulo. A partir do século 16, essa sugestão foi aceita tanto na igreja oriental como na ocidental. Embora pela tradição antiga essa sugestão seja a mais forte, a Epístola aos Hebreus possui grandes diferenças em sua composição quando comparada as Epístolas Paulinas. João Calvino, em seu Comentário sobre a Epístola aos Hebreus, observou corretamente estas diferenças que englobam o estilo literário, o método de ensino e, principalmente, o fato do próprio autor se incluir entre os discípulos do ministério apostólico. Quando comparamos Hebreus 2:3 com Gálatas 1:1-12, vemos que parece não haver a mínima possibilidade de que o autor tenha sido o apóstolo Paulo. Obviamente a Epístola aos Hebreus possui algumas semelhanças teológicas com os escritos de Paulo. Mas também é verdade que ela possuí muitas afinidades com os escritos de João e os Evangelhos Sinóticos.
- Apolo: Lutero, no período da Reforma, sugeriu que Apolo poderia ter sido o autor da Epístola aos Hebreus. Apolo era o judeu alexandrino que foi instruído por Áquila e Priscila.
- Barnabé: na Igreja Ocidental Tertuliano (155-215 d.C.) sugeriu que a autoria de Barnabé. Barnabé foi um grande companheiro do apóstolo Paulo (At 4:36).
- Priscila: alguns estudiosos modernos começaram a propor a autoria da epístola a Priscila. No entanto, em Hebreus 11:32 fica claro que essa possibilidade não existe.
- Outros: outros autores foram sugeridos. Entre as sugestões, destacam-se: Lucas, Clemente de Roma (95 d.C), Epafras (Cl 1:7) e Silas (At 15:22-40; 1Pe 5:12).
A verdade é que é bem difícil fazer uma defesa convincente em favor de qualquer um destes nomes. Mas na verdade isso não importa. A identidade do autor de Hebreus pouco acrescentaria ao entendimento da epístola.
Data em que a Epístola aos Hebreus foi Escrita
Devido ao mistério sobre a identidade do autor dessa epístola, automaticamente existe alguma dificuldade em se determinar uma data exata para sua composição. Mas algumas características presentes em seu texto indicam uma data aproximada.
Aparentemente quando a Epístola aos Hebreus foi escrita, o Templo ainda existia e os rituais eram regularmente realizados (Hb 10:1-11). Sabemos que o Templo foi destruído por volta de 70 d.C. na queda de Jerusalém. Então a data mais provável para a composição dessa epístola é antes desse período.
Isso significa que a Epístola aos Hebreus pode ter sido escrita durante o período de perseguição de Nero aos cristãos (64 d.C.). Se isso for verdade, então o sofrimento mencionado em Hebreus 10:32-34 pode ter sido causado por Cláudio ao dar uma ordem para expulsar os judeus de Roma em 49 d.C. (At 18:2).
Quem foram os destinatários da Epístola aos Hebreus
Embora o próprio título da epístola já esclareça esse ponto, algumas informações importantes apresentadas na epístola nos ajudam a conhecermos um pouco mais do público para qual ela foi escrita.
Sabemos que os destinatários originais da Epístola aos Hebreus falavam a língua grega e usavam a Septuaginta. Isso fica claro quando percebemos que eles eram capazes de compreender os argumentos construídos com base no Antigo Testamento. Eles também estavam interessados no Templo, no sistema sacrifical e no sacerdócio do Antigo Testamento. Eles tinham ouvido o Evangelho por meio dos apóstolos (Hb 2:3), e não diretamente de Jesus.
Outra característica marcante é que os destinatários de Hebreus haviam passado por muitas dificuldades. No momento em que carta foi escrita eles estavam sofrendo perseguições (Hb 10:32-34; 13:3). Para eles, o martírio pela causa de Cristo era uma possibilidade real (Hb 12:4). Também é possível que eles tenham sido expulsos das instituições judaicas por confessarem Jesus (Hb 13:12-13). Eles também podem ter sidos tentados a retroceder para a incredulidade e para o judaísmo, desistindo de prosseguir rumo ao descanso de Deus (Hb 4:1-11; 10:38-39; 11:10-16; 13:14).
Finalmente, em Hebreus 13:24, temos uma informação muito importante. Os destinatários são saudados por intermédio do autor pelos “da Itália”, numa espécie de saudação enviada para “casa” pelos exilados. Considerando tudo isto, podemos concluir que os destinatários originais eram principalmente os cristãos judeus da dispersão. Esses judeus provavelmente viviam na Itália.
Propósito e características da Epístola aos Hebreus
Embora a composição de Hebreus se mostre altamente elevada no tocante aos seus interesses teológicos, podemos afirmar, de forma resumida, que o propósito principal da Epístola aos Hebreus é incentivar a fidelidade a Cristo e à sua nova aliança. Nessa epístola Cristo é apresentado como sendo o novo, último e superior Sumo Sacerdote.
O autor da epístola faz uma construção argumentativa minuciosa indicando que Jesus é o cumprimento do Templo, dos sacrifícios e do sacerdócio que haviam sido estabelecidos na Lei. Isso também revela de maneira clara que todo esse sistema era temporário.
A Epístola aos Hebreus é uma obra primorosa. Podemos se referir a ela como um sermão expositivo na forma escrita. Não sabemos quem foi o autor dessa epístola, mas certamente sabemos que ele foi um exímio expositor das Escrituras.
Pelas características da epístola, podemos perceber que ele era um grande pregador do Evangelho. Particularmente, arrisco-me a dizer que o autor da Epístola Hebreus foi um dos maiores pregadores da história da Igreja. A construção de seu sermão revela alguém que possuía muita habilidade. Ele mesmo, o autor, refere-se ao seu trabalho como uma “palavra de exortação” (Hb 13:22), e isso fica evidente, pois a exortação e o encorajamento estão no centro do propósito da carta (Hb 3:13; 6:17-20; 10:25; 12:5-6).
Em resumo, pode-se dizer que a Epístola aos Hebreus ressalta que Cristo é superior aos anjos, a Moisés, a casa de Arão e ao sacerdócio do Antigo Testamento. Também mostra que o próprio Antigo Testamento admite o caráter temporário dessas estruturas, de modo que a Nova Aliança não é de maneira alguma contrária à Antiga Aliança. Isso significa que recuar ao sistema temporário é voltar para algo inferior, desprezando a concretização da promessa já revelada em Cristo. Por fim, o autor faz um convite à perseverança até o fim em fidelidade a Cristo.
Esboço da Epístola aos Hebreus
- Cristo é superior aos anjos (1:1-2:18)
- Cristo é superior a Moisés (3:1-4:13)
- Cristo é superior a Arão (4:14-7:28)
- Cristo é superior ao ministério sacerdotal (8:1-10:18)
- Chamado a perseverar na fé (10:19-12:29)
- Conclusão (13:1-25)