O Que é Leviatã na Bíblia?
Leviatã é uma criatura mencionada na Bíblia e que aparece principalmente em textos com sentido poético, figurado ou simbólico. Os estudiosos divergem sobre o significado dessa palavra, bem como sobre a melhor maneira de entender o que é Leviatã na Bíblia.
O que significa Leviatã?
Leviatã é a transliteração da palavra hebraica levyathan, e que possui origem indefinida. Geralmente entende-se que Leviatã significa “mostro marinho”, “dragão” ou “grande réptil aquático”.
Muitas versões traduzem o termo levyathan como sendo “crocodilo”. No entanto, a descrição do Leviatã registrada pelo escritor de Jó parece não indicar um crocodilo, a menos que se entenda que o texto poético utiliza o recurso da hipérbole.
Quem era o Leviatã?
Se já é difícil responder com exatidão qual o significado de Leviatã, mais ainda é conseguir concluir de forma objetiva quem era o Leviatã mencionado na Bíblia, isso porque a palavra Leviatã aparece em cinco passagens do Antigo Testamento, e nem sempre com o mesmo sentido, ou seja, em algumas passagens seu uso parece ser simbólico ou metafórico enquanto em outras parece fazer referências a uma criatura literal.
Diante dessa dificuldade, surgiram diversas interpretações diferentes sobre esse assunto, que visam tentar responder o que é o Leviatã nos textos bíblicos. Vejamos a seguir algumas dessas sugestões.
O Leviatã era um animal literal? Um dinossauro, crocodilo ou baleia?
Alguns estudiosos defendem que as referências ao Leviatã devem ser entendidas como literais. Sob esse aspecto, alguns sugerem que realmente se trata do crocodilo, outros defendem ser uma grande baleia ou algum tipo de mostro marinho, e, outros, um animal já extinto, talvez um dinossauro.
O Salmo 104:26, menciona o Leviatã num contexto que parece ser definitivamente literal, ao afirmar que Deus criou o mar para que inúmeros seres, grandes e pequenos, incluindo o Leviatã, pudessem habitar, ou seja, nesse texto o Leviatã é descrito como sendo uma criatura criada por Deus.
Dessa forma, não há dúvida que o Leviatã pode se referir a um animal literal. Alguns estudiosos também argumentam que o Leviatã de Jó 41 deve ser entendido dessa mesma maneira
Agora a pergunta que deve ser feita é: Qual seria esse animal? Embora a palavra “crocodilo” apareça em algumas traduções, pelo que é dito nas duas passagens mencionadas acima, dificilmente o Leviatã seja uma menção ao crocodilo, a menos que, como já dissemos, ocorra o uso de hipérbole. Caso seja, de fato, o crocodilo, talvez os autores bíblicos então estavam se referindo aos crocodilos do Nilo.
O texto de Jó descreve o Leviatã como sendo uma criatura muito grande, que possui uma força descomunal, com uma pele extremamente resistente e que expelia fogo de sua boca (Jo 41:18-35).
Com base nessa descrição, alguns intérpretes sugerem que o Leviatã fosse um tipo de dinossauro marinho. Sobre o fato de ele cuspir fogo, alguns também recorrem a estudos que levantam a possibilidade de algumas espécies de dinossauros terem tido a capacidade de armazenar um composto químico inflamável que era expelido como um mecanismo de defesa, talvez algo semelhante ao besouro-bombardeiro.
O Leviatã é um demônio?
Não é correto afirmar que o Leviatã é um demônio, porém podemos afirmar que a palavra Leviatã aparece em algumas passagens bíblicas sendo empregada de forma simbólica e figurada para representar a perversidade ou as forças do mal, principalmente para se referir ao modo com que os principados e potestades malignos atuam por de trás dos poderes políticos opressores.
Sob esse aspecto, o hebraico levyathan não é o único termo utilizado, há também outros, como por exemplo, os hebraicos rahab e tanniym (cf. Jó 3:8; 26:12; Sl 74:14; 84; Is 27:1; 30:6-7; 51:9; Ez 29:3-5).
Para que esse uso fique mais claro, podemos usar como exemplo a referência de Salmo 74:14, onde Leviatã é uma serpente de várias cabeças, que no texto de Asafe talvez faça referência aos atos de Deus na criação ou mesmo ao livramento dado ao povo de Israel na ocasião do êxodo.
O profeta Ezequiel também utilizou o hebraico tanniym, que também pode ser traduzido como “monstro do mar” ou “crocodilo”, como referência simbólica ao Egito e seu Faraó (Ez 29:3-5). De forma muito semelhante, na profecia do profeta Isaías Leviatã também é aplicado como uma referência simbólica ao mal (Is 27:1).
O Leviatã era uma criatura mitológica?
Também não há como negar que nas mitologias dos povos do antigo Oriente Próximo são feitas várias referências a um grande monstro que representava o caos. Algumas vezes tal criatura é descrita como tendo várias cabeças e com as feições semelhantes à serpente.
Um exemplo de um monstro com essas características é o Lotã, uma criatura da mitologia cananéia que possuía sete cabeças. Alguns estudiosos também tentam relacionar o Lotã com a deusa da mitologia suméria e babilônica Tiamat, que pode ser descrita como uma serpente marinha ou um dragão.
Um material ugarítico que foi descoberto, traz uma inscrição muito interessante onde se lê: “Quando tiveres matado Lotã, a veloz serpente, e colocado um fim na traiçoeira serpente, o poderoso ser com sete cabeças”. Essa frase faz referência ao triunfo do deus cananeu Baal sobre a criatura mitológica Lotã.
Assim como no paganismo de Canaã o Baal era quem conquistava as águas ao derrotar Lotã, no paganismo babilônio Marduque era aquele quem havia derrotado a deusa Tiamat, que como já mencionamos, era descrita como um tipo de grande monstro marinho.
Nas mitologias desses povos, tais conflitos aconteciam relacionados aos eventos da criação, ou seja, esses grandes monstros eram criaturas que se opunham a criação.
A inscrição ugarítica mencionada acima, em parte nos lembra a passagem já citada de Isaías 27:1, onde o profeta Isaías escreveu que “Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar” (Is 27:1).
Aqui podemos citar mais uma vez o Salmo 74:14, onde o Leviatã é descrito como sendo uma besta que tinha várias cabeças, indicando, como já vimos, que esse texto possivelmente se trata de uma referência simbólica.
Diante dessas informações, há quem defenda que o Leviatã, em alguns textos bíblicos, pode ser uma referência a essas criaturas mitológicas, não no sentido de validá-las, mas como um tipo de recurso literário utilizado pelos autores veterotestamentários com fins específicos.
É certo que o povo de Israel, incluindo, é claro, os autores bíblicos, tinham conhecimento de tais mitos dos povos circunvizinhos. O que não podemos afirmar é se os autores bíblicos tinham em mente esses mitos quando fizeram referências ao Leviatã, principalmente no sentido simbólico e figurado.
O que sabemos é que criaturas monstruosas aparecem lutando com Yahweh e sendo derrotadas por Ele em determinados textos bíblicos (cf. Jó 26:12; Sl 74:14; Is 27:1). Assim, se os autores bíblicos realmente tinham em mente os mitos comuns aos povos do mediterrâneo quando fizeram tais referências, eles tinham o objetivo de demonstrar que o Deus de Israel é superior a todos os falsos deuses pagãos cultuados no politeísmo daquelas nações gentílicas.
Se esse for o caso, isso não deve, de forma alguma, ser entendido como uma afronta à inspiração, a inerrância e a infalibilidade das Escrituras como a Palavra de Deus. Os autores do Novo Testamento, por exemplo, também citaram a mitologia e a literatura greco-romana, não no sentido de encorajar a crença em divindades pagãs ou validar tais tradições, mas, sim, como um recurso poético e literário com o objetivo de auxiliar o entendimento de seus leitores com figuras que lhes eram conhecidas. Esse é o caso de quando o apóstolo Pedro mencionou o Tartarus (2Pe 2:4).
Portanto, se Leviatã é, em algum desses textos, uma referência a qualquer mito pagão como um representante do mal, seu significado deve ser entendido como enfatizando a soberania do Deus Todo-Poderoso, tanto na criação quanto na consumação escatológica de todas as coisas (cf. Is 27:1; Ap 12:7-9).
Assim, não foi Baal ou Marduque que criaram o universo e derrotaram Leviatã, mas o Deus Todo-Poderoso, o criador de todas as coisas, que julga as nações e seus falsos deuses (cf. Gn 15:13,14; Is 41).