O Verbo se Fez Carne e Habitou Entre Nós: O Que Isso Significa?
A declaração: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” significa uma afirmação a respeito da encarnação divina. Essa frase expressa o princípio de que Aquele que é eterno foi conformado ao tempo; Aquele que jamais foi criado assumiu a humanidade; o infinito tornou-se finito e por mais que nossa mente não consiga explorar plenamente a profundidade de tudo isso, a verdade é que Deus foi visto em carne e osso habitando entre os homens.
O termo “verbo” nessa declaração traduz o grego logos, que significa “palavra”. Mas o Logos a que João se refere não é um conceito abstrato de razão, mente ou sabedoria, e muito menos uma filosofia.
Embora esse termo fosse amplamente usado na filosofia grega, ao escrever que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” João usou esse mesmo termo para mostrar a seus leitores que o verdadeiro Logos não era algo impessoal, mas uma Pessoa real que revelava corporalmente a divindade e que podia ser ouvida, vista e tocada. Isso fica muito claro quando tomamos o versículo inteiro: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, repleto de graça e de verdade, e vimos a sua glória, como do Unigênito do Pai” (João 1:14).
E o verbo se fez carne
A doutrina da encarnação sem dúvida está no centro da Fé Cristã. Se alguém nega a encarnação de Deus na pessoa de Jesus Cristo não pode ser considerado um cristão. Mas nos primeiros anos do Cristianismo, nos tempos do apóstolo João, falsos mestres começaram a atacar a pessoa de Cristo.
Alguns negavam a divindade de Cristo e afirmavam que Ele era simplesmente uma criatura de Deus, ou mesmo uma pessoa comum que supostamente teria recebido uma virtude especial que o elevou a um grau superior ou divino ao supostamente ser adotado por Deus. Já outros negavam a humanidade de Cristo afirmando que seu corpo era simplesmente uma ilusão.
Mas João combateu essa ideia afirmando que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Com isso João deixou claro que Cristo não era uma criatura, mas uma Pessoa divina e eterna. Em seguida, João reprovou qualquer dúvida a respeito do corpo de Cristo escrevendo que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Dessa forma João testificou que Jesus não era um espírito, um corpo ilusório ou um fantasma. Ele era de carne e osso, isto é, plenamente humano como qualquer um de nós.
Alguém pode até perguntar: Como foi que o Verbo se fez carne? A Bíblia responde esta pergunta ao registrar o milagre do nascimento virginal de Jesus. Conforme havia previamente sido anunciado na Escritura, Jesus Cristo foi concebido de forma miraculosa no ventre de uma virgem, Maria, sem qualquer pai humano, mas exclusivamente por obra do Espírito Santo (Mateus 1:18-20; cf. Isaías 7:14). Então o Verbo se fez carne, ou seja, Ele assumiu a natureza humana – esta sem pecado.
E o Verbo habitou entre nós
Após escrever que o Verbo se fez carne, João completou: “e habitou entre nós”. A palavra “habitou” significa literalmente “tabernaculou”, ou seja, “armou sua tenda”. Em outras palavras, ao escrever que “o Verbo habitou entre nós” João afirmou que Deus habitou entre nós como que numa tenda.
É incrível pensar que o Verbo eterno, por um tempo, estabeleceu sua morada e viveu entre os seres humanos. Os textos bíblicos que registram a vida e o ministério do Senhor Jesus não deixam qualquer de que sua encarnação foi completa. Ele esteve sujeito a todas as limitações que os homens experimentam. Jesus sentiu cansaço, sede, fome e dor. Ele se alegrou, se entristeceu e também chorou. Ele nasceu, cresceu e morreu. Diferentemente de nós, no entanto, Ele não pecou. Nenhuma falha foi achada no Verbo de Deus. Cristo foi absolutamente perfeito em tudo (2 Coríntios 5:21; Hebreus 4:15; 7:26).
Mas ao dizer que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”, sendo que a palavra “habitou” significa basicamente “armou sua tenda”, João também enfatizou o elemento temporário dessa habitação. A habitação em tendas sempre transmitiu a ideia de uma habitação temporária num determinado lugar. Por exemplo: o Tabernáculo – que era uma tenda – era o santuário móvel no Antigo Testamento.
Mas em que sentido essa habitação foi temporária? Ela foi temporária no sentido de que o Verbo assumiu a natureza humana em sua condição enfraquecida apenas por um tempo, isto é, de seu nascimento até sua morte.
Mas jamais devemos pensar que depois disso Ele abandonou a natureza humana. Na verdade o Verbo eterno assumiu a natureza humana permanentemente. Quando Cristo ressuscitou, Ele continuou sendo humano, porém num corpo glorificado. Inclusive, Ele provou ao incrédulo Tomé que seu corpo era real e podia ser tocado. E ainda mais, Ele não deixou de ser plenamente humano quando ascendeu ao Céu.
Isso é realmente extraordinário, pois é a garantia de que temos um de nós no Céu, dentro do Santuário Celestial. Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, Ele mesmo é o representante perfeito que necessitamos, que Ele se compadece das nossas fraquezas e intercede por nós (Hebreus 4:14; 9:11-25).
E vimos a sua glória
É interessante notar a progressão no texto de João. Primeiro ele afirmou a plena divindade de Cristo – “No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” – e depois afirmou a plena humanidade de Cristo – “E o verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Mas antes que alguém pudesse pensar que Aquele que é Deus por toda a eternidade deixou de ser Deus para tornar-se homem, João concluiu que embora o Verbo tenha se feito carne e habitado entre nós, Ele assim o fez “repleto de graça e de verdade, e vimos a sua glória como do unigênito do Pai” (João 1:14).
Deus, o Filho, não abriu mão de sua divindade para tornar-se homem. Ele não abandonou seus atributos para assumir os atributos humanos. Sua natureza humana não absorveu sua natureza divina, e nem sua natureza divina absorveu sua natureza humana. Na verdade a doutrina bíblica correta é a de que as duas naturezas, humana e divina, na encarnação do Verbo tornaram-se unidas e indivisíveis; no entanto, sem mistura ou confusão, de modo que cada natureza retém seus próprios atributos.
Então no Verbo encarnado, mesmo durante seu período de humilhação, o brilho da graça, da majestade e da verdade divina, podia ser contemplado através de suas obras e palavras. Os atributos da divindade do Filho de Deus podiam ser vistos brilhando através do véu de sua natureza humana (Hendriksen, W. Comentário do Novo Testamento, 1953).
Isso está de acordo com o que o apóstolo Paulo escreveu na Carta aos Colossenses: “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9). Quando o Verbo se fez carne, Ele colocou de lado algumas de suas prerrogativas como Deus, mas jamais deixou de ser “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3).