Qual é a Origem da Alma?
A Bíblia não fornece nenhuma explicação específica sobre qual é a origem da alma do homem. A exceção, é claro, é o caso de Adão. O texto bíblico diz que Deus formou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente (Gênesis 2:7).
Mas no que diz respeito à origem da alma dos descendentes de Adão e de todos os seres humanos que nasceram desde então, não há nenhuma informação bíblica conclusiva. Contudo, os estudiosos ao longo da História da Igreja têm apresentado algumas sugestões acerca dessa questão. Sobre isso, há três teorias principais: pré-existencialismo, traducionismo e criacionismo.
As teorias sobre a origem da alma na teologia
O pré-existencialismo defende a origem da alma num momento anterior à existência do corpo. Em outras palavras, segundo essa teoria as almas existem no céu num estado anterior à matéria. Então supostamente elas são enviadas por Deus ao embrião que é gerado no ventre.
Inclusive, muitos proponentes dessa teoria acreditam que as condições da existência material do homem estão diretamente ligadas ao estado anterior de pré-existência da alma. Orígenes era um defensor dessa teoria e dizia que os problemas enfrentados pelo homem durante sua vida na terra eram castigos pela desobediência cometida por sua alma numa existência anterior. Nos primeiros anos do Cristianismo essa teoria foi mais difundida na Escola Alexandrina.
Obviamente o pré-existencialismo é uma teoria muito problemática e não possui qualquer fundamentação bíblica. Não é difícil ver as ligações entre essa teoria e os ensinamentos da filosofia grega pagã que enxergava no corpo uma punição para a alma. Ela também ensina que o ser humano pode ser completo sem o corpo, confundido a natureza humana com a natureza dos anjos. Se isso fosse verdade, não haveria propósito algum na doutrina da ressurreição e da glorificação. Além disso, como diz Wayne Grudem, o pré-existencialismo está perigosamente ligado ao conceito de reencarnação.
As outras duas teorias alternativas para explicar a origem da alma do homem são o traducionismo e o criacionismo. A teoria traducionista diz que a alma do homem origina-se mediante a reprodução. Isso significa que alma é reproduzida naturalmente pela ocasião da concepção, e nesse aspecto é herdada dos pais. Tertuliano, Apolinário, Gregório de Nissa, Lutero e Jonathan Edwards são alguns dos que adotaram o traducionismo.
Já a teoria criacionista tenta explicar a origem da alma dizendo que Deus cria a alma de cada pessoa e a envia ao corpo em algum momento incerto – mas que ocorre entre a concepção e o nascimento. Então de acordo com essa teoria, cada alma humana deve ser vista como uma imediata criação de Deus por ocasião da concepção e nascimento de cada indivíduo. Entre os defensores de alguma forma de criacionismo estão Jerônimo, Tomás de Aquino e Calvino.
Qual é a melhor teoria para explicar a origem da alma?
Das três teorias sugeridas como possíveis explicações para a origem da alma, a teoria pré-existencialista deve ser definitivamente rejeitada, pois ela é completamente estranha ao ensino bíblico.
Quando às teorias traducionista e criacionista, ambas têm pontos fortes e pontos fracos – com a teoria criacionista levado alguma vantagem, visto que ela se resguarda das ideias problemáticas de que a alma é uma substância divisível e de que todos os seres humanos são numericamente da mesma substância. As duas teorias também foram defendidas por estudiosos muito capacitados.
Como a Bíblia não fornece um ensino claro sobre esse assunto, é prudente ter cautela. Um bom teólogo não é aquele que tem resposta para tudo, mas é aquele que sabe falar onde as Escrituras falam, e sabe se calar onde as Escrituras se calam.
Na verdade é melhor entender essa questão da origem da alma como um dos mistérios inescrutáveis que o Senhor achou por bem não nos esclarecer. Por isso alguns estudiosos têm sugerido que talvez seja melhor considerar que há verdades bíblicas expressas tanto no traducionismo quanto no criacionismo. Agostinho de Hipona, por exemplo, foi um dos eruditos cristãos que se recusaram a adotar decididamente uma das duas teorias.