Lição 8: Salvação e Livre-Arbítrio

Salvação e livre-arbítrio é um tema que causa muita dúvida nas pessoas. Na verdade esse assunto vem sendo debatido há séculos dentro da História do Cristianismo. A grande questão é que a Bíblia ensina a soberania de Deus na salvação, mas ao mesmo tempo revela a liberdade e responsabilidade das criaturas.

Salvação e livre-arbítrio: a eleição

A Bíblia mostra em diversos textos a eleição divina. Essa eleição significa uma escolha por parte de Deus. A eleição aparece nos textos bíblicos em mais de um sentido. No Antigo Testamento, destaca-se a eleição de Israel como uma nação escolhida por Deus. O povo israelita foi separado para um serviço especial e consequentemente foi alvo de privilégios especiais (Deuteronômio 4:37; 7:6-8; 10:15; Oséias 13;5).

Outro tipo de eleição é aquela em que indivíduos são escolhidos por Deus para algum oficio ou serviço especial (Deuteronômio 18:5; 1 Samuel 10:24; 78:70; Jeremias 1:5; João 6:70; Atos 9:16).

A Bíblia também fala em eleição para a salvação. Essa eleição consiste na escolha de certos indivíduos para serem filhos de Deus em e por meio de Cristo. Os eleitos por Deus são herdeiros da glória eterna (Mateus 22:14; Atos 13:48; Romanos 1:5; 1 Coríntios 1:27,28; Efésios 1:4; 2:10).

Se por um lado há eleitos, naturalmente por outro também há reprovados. Esses reprovados são aqueles indivíduos que, por seus próprios pecados, são destinados à condenação eterna. Eles negligenciaram a oferta de salvação, e não reconheceram a pessoa de Cristo como Salvador (Mateus 11:25; 1 Pedro 2:8; Judas 4).

Salvação e livre-arbítrio: a presciência

Vimos que a Bíblia realmente fala de eleição para salvação, bem como reprovação para a perdição. Mas a grande questão discutida entre os cristão é: Como ocorre essa eleição? Nos últimos séculos, há duas linhas de interpretação dentro do Cristianismo Protestante que se propõe a responder isto: Calvinismo e Arminianismo.

O Calvinismo defende que a eleição é uma escolha soberana e absolutamente livre da parte de Deus. De acordo com sua vontade, Deus resolveu salvar alguns indivíduos da raça humana caída, elegendo-os em Cristo para a vida eterna.

O Arminianismo entende que a eleição é baseada na presciência de Deus. Deus, então, teria visto quais indivíduos, de entre a raça humana, responderiam favoravelmente, por sua própria vontade, à oferta de salvação. Estas pessoas depositariam sua fé em Cristo como seu Salvador. Então, antes da fundação do mundo, Deus elegeu e predestinou tais pessoas para a vida eterna. Saiba mais sobre o que é a presciência de Deus.

Há um seguimento dentro do Arminianismo que ensina uma eleição corporativa. Nela, Deus teria eleito e predestinado um grupo, e não os membros desse grupo em particular. Assim, enquanto pertencerem a esse grupo, seus membros estarão eleitos e predestinados. Na verdade essa posição não é a mais tradicional dentro do Arminianismo Clássico. Ela já foi mais difundida, mas na atualidade encontra-se em declínio.

Para entender melhor essa questão, leia esse texto sobre o que é a doutrina da predestinação. Nele, apresentamos as duas interpretações sobre o assunto.

A Discussão sobre o livre-arbítrio na salvação

Quando se fala em salvação e livre-arbítrio entre os cristãos na atualidade, logo se imagina o debate entre Calvinismo e Arminianismo. Embora seja verdade que o livre-arbítrio é um dos aspectos discutidos em ambas as linhas teológicas, não é correto identificar o Calvinismo como a visão contra o livre-arbítrio, e o Arminianismo como a visão a favor. Quem assim o faz, mostra um profundo desconhecimento de ambas as linhas teológicas e do próprio assunto em si.

Na verdade a própria definição acerca do que é o livre-arbítrio é bastante complexa. Essa não é uma discussão apenas teológica. A filosofia, psicologia e ciência, também discutem acerca da existência do livre-arbítrio. Na maioria das vezes fica entendido que o livre-arbítrio é apenas uma ilusão, visto que é impossível que alguém seja absolutamente livre em todos os sentidos.

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A salvação e livre-arbítrio antes da Reforma

A visão teológica que defende realmente a existência do livre-arbítrio em seu sentido mais pleno é o Pelagianismo. A doutrina exposta por Pelágio ensina que o homem possui sua vontade absolutamente livre. Os ensinos de Pelágio foram combatidos por Agostinho de Hipona. Esse foi o primeiro grande debate acerca da salvação e livre-arbítrio antes da Reforma Protestante.

Pelágio negou o pecado original, e acreditava que o pecado de Adão não afetou toda a humanidade, apenas a si próprio. Logo, todos nascem inocentes, num estado de neutralidade, podendo escolher livremente entre o bem e o mal. Em outras palavras, o homem pode ou não resistir ao pecado e ao próprio Deus.

Pelágio não podia negar a pecaminosidade universal da humanidade, então ele afirmou que o homem nasce puro, mas por causa dos maus exemplos acaba se corrompendo. A doutrina herética de Pelágio é chamada de Pelagianismo.

Depois de Pelágio, surgiu uma nova doutrina que não negava o pecado original. Ela dizia que o homem realmente está corrompido pelo pecado e precisa da graça de Deus para alcançar a salvação. Porém, a vontade do homem não foi destruída pelo pecado, mas encontra-se apenas enfraquecida.

Em outras palavras, o homem caído ainda tem livre-arbítrio, embora este esteja doente. Assim, o homem pode ou não resistir ao pecado e ao próprio Deus. Essa heresia é chamada de Semipelagianismo.

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A salvação e livre-arbítrio depois da Reforma

Depois da Reforma Protestante, mais uma vez a liberdade humana foi objeto de debate. O professor de teologia Jacó Armínio, produziu muito material acerca desse tema com algumas objeções à doutrina ensinada pela Igreja Reformada. Após a sua morte, um grupo de alunos de Armínio pediu formalmente uma revisão da doutrina reformada com base nos escritos de Armínio. Esse grupo ficou conhecido como Remonstrantes, e a interpretação sugerida por eles, Arminianismo.

O Arminianismo, pelo menos em sua forma mais clássica, também nega o conceito de livre-arbítrio do homem caído. Para Jacó Armínio, maior expoente dessa linha, o poder do arbítrio ainda permaneceu no homem depois da Queda, mas sem a graça preveniente ele é incapaz de se inclinar a qualquer coisa boa. Isso significa que o livre-arbítrio do homem caído não está apenas debilitado como no Semipelagianismo, mas preso e destruído.

Portanto, para Armínio, por causo do pecado original a vontade do homem não é mais livre para o bem, a menos que seja assistida pela graça de Deus. John Wesley, outro nome influente do Arminianismo, também negava completamente o livre-arbítrio do homem caído. Para Wesley, a vontade do homem caído é por natureza livre apenas para o mal.

Wesley e Armínio acreditavam que o homem tem o voto decisivo com relação a sua condenação ou salvação por causa da graça preveniente, mas sozinho, sem o auxílio da graça, ele não é capaz de consentir em sua própria salvação.

Aqui se percebe que a visão arminiana ensinada e defendida na atualidade, na maioria das vezes apresenta-se muito distante do Arminianismo Clássico ou Wesleyano. Isto se dá pelo fato de que com o tempo, muitos líderes arminianos adotaram uma posição mais próxima do Semipelagianismo, ou mesmo do Pelagianismo, do que do próprio Arminianismo.

Por último, o Calvinismo também nega o livre-arbítrio, pelo menos em seu conceito mais pleno. O Calvinismo entende que o homem é um agente livre, apto a fazer escolhas e responsável por elas. Porém, sem ter sido regenerado pelo Espírito Santo, o homem é incapaz de se inclinar para Cristo.

Partindo do ponto que o Calvinismo e o Arminianismo Clássico rejeitam a ideia de livre-arbítrio, podemos destacar algumas diferenças entre ambos nesta questão:

  1. No Arminianismo Clássico, o homem natural, que tem seu livre-arbítrio destruído, só pode se inclinar a Cristo quando é assistido pela chamada “graça preveniente”. Essa graça é concedida por Deus ao pecador quando ele ouve o chamado do Evangelho. Ela habilita o pecador a poder decidir aceitar ou rejeitar a Cristo.
  2. No Calvinismo, o homem só pode receber a Cristo após ter sido ressuscitado pelo Espírito Santo de seu estado morto. Essa ressurreição é chamada de regeneração ou novo nascimento, dando ao homem uma nova natureza inclinada a Deus. Para essa nova natureza a graça de Deus é irresistível. Então o pecador recebe a Cristo, e é capacitado pelo Espírito Santo a viver uma vida de acordo com a Palavra de Deus. Saiba o que é o novo nascimento.

Este texto teve a finalidade de expor apenas o que as principais linhas de interpretação entendem sobre este assunto. Num próximo texto poderemos analisar qual é a posição mais coerente com as Escrituras. Para se aprofundar mais nessa questão sobre salvação e livre-arbítrio, leia um estudo completo sobre o que a Bíblia diz acerca do livre-arbítrio.

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