Segui a Paz Com Todos e a Santificação – Estudo Hebreus 12:14
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” é um ensino bíblico registrado no capítulo 12 e versículo 14 da Epístola aos Hebreus. Esse é um dos versículos mais conhecidos da Bíblia, e certamente nos trás lições muito importantes.
O contexto da frase “segui a paz com todos e a santificação”
O escritor do livro de Hebreus estava escrevendo para cristãos judeus que viviam fora da Palestina. Esses cristãos estavam enfrentando muitas dificuldades e sofrimento por causa de sua fé. Inclusive, para alguns deles o martírio era uma possibilidade real na perseguição implacável do século 1 d.C.
Então o escritor neotestamentário escreveu uma carta encorajando esses cristãos a permanecerem firmes em Cristo Jesus. Na primeira parte do capítulo 12, ele fala sobre a disciplina divina (Hebreus 12:1-13). Ele exorta seus leitores a:
- Olharem para Jesus (versículos 1-3).
- Aceitarem a correção de Deus (versículos 4-6).
- Suportarem o sofrimento (versículos 7-11).
- Serem fortes (versículos 12,13).
Na segunda parte do capítulo 12, onde a frase “segui a paz com todos e a santificação” está incluída, o escritor ensina seus destinatários a como viver uma vida santa diante de Deus. Ele indica como ter uma conduta da qual o Senhor se agrada (Hebreus 14-29). Com base nesse propósito, ele também enfatiza a importância do bom relacionamento e o cuidado que os cristãos devem ter uns para com os outros.
Tendo entendido o contexto, vejamos a seguir um pouco mais sobre o significado da frase “segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”.
Segui a paz com todos
Quando o escritor escreve “segui a paz com todos” ele está dizendo literalmente “corram em direção à paz”, “persigam a paz”. A expressão grega utilizada por ele implica no sentido de empenhar toda energia necessária para que esse alvo seja alcançado. O mandamento nesta frase é o que nos esforcemos pela paz. O termo traduzido como “segui” é o grego diokete, que transmite a ideia de correr prontamente e com determinação a fim de capturar alguma coisa, nesse caso, a paz.
A paz é uma virtude do fruto do Espírito Santo. Ela aparece intimamente relacionada às outras virtudes mencionadas por Paulo em Gálatas 5:22, especialmente com o amor e a alegria.
Na verdade a sequência que o apóstolo estabelece é “amor, alegria e paz”. Essa ordem é facilmente compreendida, pois como pode haver alegria se não houver amor? Como a paz pode estar presente se faltar a alegria?
A palavra “paz” nesse texto é o grego eirene. Essa é a mesma palavra que a Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento, utiliza para traduzir o hebraico shalom. Esse termo hebraico possui um significado muito amplo que expressa um sentido de bem-estar completo.
No Novo Testamento, além desse conceito ser mantido, os autores também enfatizam o seu significado espiritual, especialmente relacionado à nova vida, à justiça e ao estado de tranquilidade da alma daquele que tem a certeza de sua salvação através de Cristo.
É por isto que essa paz tem origem em Deus. Ela é um de seus atributos comunicáveis, ou seja, uma de suas qualidades que Ele compartilha conosco (Números 6:26; Isaías 45:7; Romamos 13:33; 2 Coríntios 13:11; etc). Em outras palavras, podemos dizer que é através da íntima comunhão com Cristo, o Príncipe da Paz, que podemos obter a verdadeira paz (Isaías 9:6; cf. Colossenses 3:15).
Portanto, apesar do contexto em Hebreus enfatizar, especialmente, o bom relacionamento entre os cristãos, aqui também podemos entender que esse “todos” com os quais devemos ter paz, abrange, de alguma forma, aqueles que são nossos inimigos declarados (Mateus 5:44,45). A condição de “pacificadores” não se limita apenas ao nosso círculo cristão (Mateus 5:9).
O conselho de seguir a paz com todos, muito nos faz lembrar o que disse Davi no Salmo 34. Ele escreve: “Aparta-te do mal e pratica o que é bom. Procura a paz e esforça-te por alcançá-la” (Salmo 34:14). Esse mesmo conselho também foi citado pelo apóstolo Pedro (1 Pedro 3:11).
E a santificação
A mesma aplicação e intensidade que o autor expressou para exortar acerca da busca pela paz, ele também utilizou para falar sobre a necessidade da santidade. A ordem é para seguir a paz com todos e a santificação! Isto significa que a busca pela paz é inseparável da busca pela santificação. Logo, devemos perseguir a paz tanto quanto devemos perseguir a santificação.
A santificação é um processo que ocorre durante toda a vida daquele que foi redimido. A santidade não é um estado de completa perfeição que podemos alcançar nesse mundo, mas é algo que só alcançará seu cumprimento pleno no dia vindouro do maravilho retorno de nosso Senhor Jesus.
Nesse mundo ainda estamos sujeitos ao pecado, mas através da santificação nós vamos mortificando nossa carne e nos submetendo a vontade de Deus. O objetivo é que possamos ser cada vez mais parecidos com Cristo por meio da obra do Espírito Santo em nosso coração. Então a ordem é clara: “Segui a paz com todos e a santificação”.
Sem a qual ninguém verá o Senhor
O escritor deixa claro que o resultado de não seguir a paz com todos e a santificação é ser privado de contemplar o Senhor. Automaticamente o “seguir a paz com todos e a santificação” leva alguém ao maior de todos os privilégios. Este privilégio não é outro a não ser ver o próprio Deus! Contemplar o Senhor é a única razão de nossas vidas, é o nosso maior alvo. Tudo se explica no ato de poder ver o Senhor face a face.
Aqui vale dizer que algumas pessoas entendem equivocadamente que a santificação é a causa da nossa salvação. Elas pensam que só somos salvos porque nos santificamos. Mas na verdade a santificação não é a causa, e, sim, o efeito da nossa salvação. Nos santificamos porque somos salvos!
Em outras palavras, se alguém diz ser salvo, mas sua conduta não reflete o caráter de Cristo e vive uma vida distante da vontade de Deus, onde não se podem ver os resultados efetivos da santificação, então tal pessoa nunca foi verdadeiramente salva.
Isso ocorre porque apenas os redimidos é que estão aptos a santificação. O mesmo escritor de Hebreus destaca isto ao ensinar que é Cristo quem santifica aqueles que são santificados (Hebreus 2:11).
Diante de tudo isso, a conclusão realmente é uma só: sem paz e santidade ninguém poderá ver o Senhor. Nosso Deus é amor, mas também é igualmente santo e justo. Nenhum de seus atributos é depreciado em favor de outros, apesar dos homens muitas vezes pensarem que sim. Eles distorcem a verdadeira revelação de Deus através das Escrituras, para poderem acreditar num tipo de deus desenhado segundo seu próprio gosto.
Porém, o homem goste ou não, Deus é totalmente amor, totalmente justiça e totalmente santo. Isso implica numa verdade que muitos tentam ignorar. Um Deus santo não pode, de maneira alguma, aceitar a comunhão com alguém que não é santo, e sua justiça exige que o pecado seja punido.
Em outras palavras, só é possível que alguém tenha paz com Deus e seja considerado justo diante dele, se for reconciliado e feito santo mediante a obra de Cristo (Hebreus 2:10; 10:10,14,29; 13:12).
O profeta Isaías escreveu dizendo que até mesmo os serafins que constantemente estão proclamando a santidade de Deus, diante de seu trono cobrem seus rostos. Isto revela como é tamanha a presença santa do Senhor dos Exércitos (Isaías 6:2).
Logo, a única conclusão possível de acordo com essa verdade é: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”.
E todos os salvos que não estiverem em processo de santificação no espírito, na alma e no corpo, não serão arrebatados, conforme 1 Tessal. 5.23