O Que Significam as Torrentes do Neguebe?
Neguebe é a região desértica ao sul de Hebrom, a sudoeste do Mar Morto. O Neguebe é citado na Bíblia desde o livro de Gênesis. O livro de Salmos, por exemplo, também fala das famosas torrentes do Neguebe. O significado de Neguebe muitas vezes é traduzido como “sul” com o objetivo de fazer referência à sua região geográfica, mas em hebraico Neguebe significa “seco”.
Como é a região do Neguebe?
A região do Neguebe cobre uma área de aproximadamente 7.250 quilômetros quadrados ao sul de Judá. No geral esse território não é montanhoso. Como foi dito, Neguebe é um terreno desértico. O volume de chuvas naquela região é muito baixo. Por isso não é um lugar indicado para o cultivo de lavouras.
Então nos tempos bíblicos a região do Neguebe possuía características mais pastoris. Havia ali criadores de gado além de atividades mercantis. O Neguebe era cortado por uma importante rota: o caminho de Sur. Essa rota que atravessava o Neguebe vinha desde o Egito, o centro norte da Península do Sinai, até à Judeia, chegando a noroeste a Hebrom e Berseba. Próximo à parte dessa estrada havia poços que possibilitavam que seu trajeto fosse percorrido.
Então o Neguebe possuía uma importância estratégica comercial muito significativa. Além disso, cobre era encontrado e retirado na parte oriental do Neguebe. Cidades conhecidas da narrativa bíblica estavam edificadas na região do Neguebe ou bem próxima a ela; por exemplo: Cades, Berseba, Ziclague, Arade etc.
Aquela região também é caracterizada por impressionantes torrentes de águas. Nos tempos bíblicos, apesar de o Neguebe ser uma terra seca, na estação das chuvas na Palestina grandes temporais formavam rios que se transformavam em verdadeiras torrentes de águas que corriam como riachos inundados no Neguebe. Algumas vezes essas torrentes do Neguebe podiam ser até perigosas, mas eram muito importantes para a vida das pessoas que habitavam aquele lugar.
O Neguebe na Bíblia
O Neguebe aparece na Bíblia com certo destaque durante a jornada de Abraão. O escritor de Gênesis diz que Abraão saiu de Betel e seguiu para o Neguebe, até que depois acabou descendo para o Egito (Gênesis 12).
Mais tarde, Abraão novamente retornou ao Neguebe (Gênesis 13). Parte importante da vida de Abraão ocorreu naquela região, seja como parte de sua jornada para outro destino, ou seja como residência por um tempo (Gênesis 20:1; 21:33; 24:62).
Os estudiosos dizem que no tempo de Abraão já havia muitos assentamentos na área do Neguebe. A importante rota que cruzava o Neguebe certamente foi percorrida por alguns personagens bíblicos importantes. Além dos patriarcas, é possível que o profeta Jeremias e também José e Maria, mãe de Jesus, tenham passado por ali (Jeremias 43:6-12; Mateus 2:13-15).
Ao longo da história de Israel, o Neguebe também foi cenário de batalhas entre os israelitas e outros povos que acampavam naquela região, como os amalequitas, os edomitas e povos cananeus. Na época da monarquia de Israel, o rei Uzias chegou a construir torres na região norte do deserto do Neguebe (2 Crônicas 26:10). Sem dúvida havia um grande interesse dos povos em controlar as ações comerciais do Neguebe.
As torrentes do Neguebe
Como já foi explicado, durante as estações das chuvas havia torrentes que corriam pelo Neguebe. Um dos Salmos de Romagem, o Salmo 126, faz uso exatamente das torrentes do Neguebe como figura da bênção restauradora de Deus.
O contexto desse salmo faz referência ao retorno dos judeus do exílio na Babilônia, e destaca como a permissão para os exilados voltarem à sua terra teve a ver com a ação direta de Deus. Era Deus restaurando o Seu povo novamente! Por isso o salmista escreve: “Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe” (Salmo 126:4).
Ao fazer referência as torrentes do Neguebe, o salmista estava falando da expectativa de completa transformação do estado do povo de Israel. Rios correndo em pleno deserto é sempre algo espetacular! Isso porque eles retratam coisas completamente opostas: de um lado a aridez e a improdutividade; e de outro a possibilidade de fertilidade e abundância.
Então quando o salmista pediu para que Deus restaurasse a sorte de Israel como as torrentes do Neguebe, ele basicamente estava orando para que o Senhor transformasse totalmente a situação dos remanescentes do exílio; ele estava suplicando que a aridez dos tempos de cativeiro desse lugar a abundância das bênçãos de Deus derramadas sobre eles.
O salmista entendia que somente o favor divino seria capaz de restaurar Israel. Mas ele não estava falando apenas de uma restauração geográfica; ele estava falando da restauração da presença de Deus no meio de Seu povo. Ele observou que assim como as torrentes do Neguebe traziam vida ao deserto, as bênção de Deus haveriam de trazer alegria de vida aos remanescentes judeus que tinham se arrependido de seus pecados.