Deus Habita no Meio Dos Louvores?
Dizer que Deus habita no meio dos louvores significa que Deus é honrado quando seu povo fiel rende louvores a Ele. Deus não depende de qualquer aclamação ou invocação humana para existir ou se manifestar; mas o seu reino é manifestado aos seus adoradores quando eles lhe adoram.
A frase “Deus habita no meio dos louvores” tem origem num verso do Salmo 22. Nele, o salmista declara: “Porém tu és Santo, tu que habitas entre os louvores de Israel” (Salmo 22:3).
Nesse salmo Davi fala sobre sua angustia; ele fala sobre como se sentia abandonado por Deus em meio a um contexto de intenso sofrimento. O Novo Testamento revela que as palavras desse mesmo salmo expressam também os sofrimentos do Messias e se cumprem n’Ele (Mateus 27:35-46; João 19:23-28; Hebreus 2:12).
Esse verso possui alguma dificuldade de tradução. Por isso as versões bíblicas apresentam diferentes possibilidades de tradução para expressar o que realmente o salmista tem em mente.
Enquanto algumas versões traduzem: “Porém tu és Santo, o que habitas entre os louvores de Israel” (ARC); outras traduzem: “Contudo, tu és Santo, entronizado entre os louvores de Israel” (ARA); ou: “Tu, contudo, és o Santo, és o Rei, és o louvor de Israel” (KJA e NVI); e: “E tu és o Santo, habitando os louvores de Israel” (BJP).
A questão é que esse verso traz uma palavra que vem da raiz hebraica para “habitar”, “morar”, “assentar”, “permanecer”, “continuar” e “ser estabelecido”. Então da forma como a sentença é construída no hebraico, a mesma frase também pode ser traduzida como: “Mas tu permaneces Santo; os louvores de Israel”; ou, em outras palavras: “Mas tu continuas a ser Santo; tu és os louvores de Israel”.
Em que sentido Deus habita entre os louvores?
Como vimos, existem diferentes possibilidades de tradução para a frase que diz que Deus habita no meio dos louvores. Considerando o contexto apresentando no Salmo 22, é provável que o salmista esteja falando que, apesar de seu sentimento de abandono por causa do silêncio de Deus diante do seu clamor, o Senhor tem sempre se mostrado gracioso para com seu povo, e assim recebe dele constante louvor e ações de graças.
Como diz John MacArthur, o salmista reflete que embora Deus não tenha lhe respondido; Ele continua sendo o Santo de Israel que tem demonstrado sua graciosa atenção repetidas vezes para seu povo.
Então ao mesmo tempo em que o salmista se mostra ainda mais desolado como se fosse o único a não receber uma resposta de Deus, ele também faz das evidências da graça de Deus ao longo da história de Israel como uma âncora na qual ele prende sua esperança de obter socorro.
É nesse contexto, então, que ele diz que Deus habita no meio dos louvores; ou melhor, Ele é entronizado entre os louvores de Israel. O verdadeiro louvor enaltece os atributos de Deus; engrandece o seu santo nome; exalta suas maravilhosas obras e proclama o seu Reino.
Calvino explica que o salmista diz que Deus habita os louvores de Israel porque, ao mostrar tão pródiga liberalidade para com o povo eleito, derramando continuamente bênçãos sobre ele, assim Ele fornecia a Israel motivos para constantes louvores. Além disso, no contexto veterotestamentário, Israel era quem possuía a revelação especial de Deus; portanto o povo da aliança era o único que podia adorar a Deus de maneira aceitável. Então a ideia é que o salmista ansiava por finalmente se juntar aos que cantam louvores a Deus pela manifestação de sua benevolência.
Deus habita os seus louvores? Ele é entronizado em sua adoração?
Sem dúvida a visão geral das Escrituras acerca do louvor nos faz entender que os louvores dos santos envolvem o trono de Deus no Céu como uma nuvem de incenso. Mas a profecia do profeta Isaías diz que o Céu é o trono de Deus, e a terra o estrado dos seus pés; mas o Deus Criador de todas as coisas se atenta para o humilde e contrito de espírito (Isaías 66:1,2).
Então num certo sentido, podemos dizer que o trono ou a habitação de Deus na terra está nos corações e sobre os lábios de seu povo. Derek Kidner diz que a metáfora de que Deus habita no meio dos louvores coloca uma questão importante diante da Igreja: seus louvores é um trono para Deus ou uma plataforma para o homem?