Edificados Sobre o Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas
A Bíblia diz que os crentes estão edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas. Isso significa que a Igreja é o santuário edificado sobre a verdade de Deus revelada aos apóstolos e profetas. Essas pessoas que foram escolhidas e vocacionadas por Deus de forma extraordinária, receberam e registraram a revelação especial de Deus sob a inspiração e orientação do Espírito Santo.
O apóstolo Paulo foi quem escreveu em sua Carta aos Efésios que os redimidos – que constituem o povo de Deus – são “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina” (Efésios 2:20).
É interessante saber que no contexto imediato dessa declaração, o apóstolo Paulo fala da Igreja usando três analogias. Em primeiro lugar, ele fala da Igreja como uma nação: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos […]” (Efésios 2:19). A Igreja é a nação de Deus que reúne, num só povo, judeus e gentios.
Na antiga dispensação a revelação especial de Deus foi confiada à nação de Israel, enquanto que os gentios eram “estranhos aos concertos da promessa” (Efésios 2:12). Os gentios estavam longe; eles eram estrangeiros e forasteiros sem os mesmos direitos de cidadão. Mas a obra redentora de Cristo derrubou a parede da separação e aproximou os que estavam longe, unindo num só povo todos os escolhidos de Deus.
Em segundo lugar, Paulo fala da Igreja como uma família, dizendo que os crentes são “membros da família de Deus” (Efésios 2:19). Nitidamente a analogia avança nesse ponto. Os crentes não são apenas cidadãos de uma nação, mas são os próprios integrantes da família de Deus. Pelos méritos de Cristo os redimidos foram feitos filhos de Deus.
Em terceiro lugar, o apóstolo fala da Igreja como um edifício – mais precisamente um santuário. Ele diz que a Igreja, edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, que tem o próprio Cristo como sua pedra angular, é o templo em que Deus habita no Espírito (Efésios 2:20-22).
A Igreja como um edifício
Nos tempos do Antigo Testamento Deus ordenou que fosse construído um santuário para servir como o local de encontro especial entre Deus e o seu povo. Então primeiro foi construído um Tabernáculo móvel no tempo de Moisés. Depois, no tempo do rei Salomão, o Tabernáculo móvel deu lugar a um grandioso templo em Jerusalém.
Tanto o Tabernáculo móvel como o templo em Jerusalém, possuíam um santuário interior, ou seja, um lugar secreto e mais íntimo onde a presença de Deus se manifestava de forma especial. Esse lugar era chamado de Santo dos Santos e abrigava a Arca da Aliança.
Mas uma vez que Cristo veio, sendo Ele próprio o Emanuel – Deus conosco – o santuário em Jerusalém se tornou obsoleto. Por isso que o apóstolo João escreve: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, repleto de graça e de verdade” (João 1:14).
Então mediante sua obra redentora, Cristo não somente se tornou o lugar da habitação de Deus com o seu povo, mas possibilitou que os próprios redimidos pudessem ser, em união a Ele, o templo onde agora Deus habita no Espírito.
Portanto, quando Paulo escreve que somos “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas”, tão logo ele complementa dizendo que a pedra angular desse fundamento construído não pode ser outra se não o próprio Cristo. Os apóstolos e os profetas, no exercício de seus ofícios, foram os representantes de Deus e de sua palavra aos homens. Eles foram embaixadores divinamente designados que testemunharam a respeito de Cristo e comunicaram a doutrina da Igreja.
Por isso que num sentido secundário, Paulo os chama de “o fundamento”, mas não que houvesse qualquer mérito neles próprios para isso, porque todos os méritos são devidamente creditados unicamente a Cristo, a Pedra Angular que estabelece o fundamento e ajusta toda a edificação. Por tanto, isto está em harmonia com o ensino bíblico de que num sentido primário, o único fundamento da Igreja é o próprio Cristo (cf. 1 Coríntios 3:11).
Edificados no fundamento dos apóstolos e dos profetas: quem são essas pessoas?
Por fim, há uma discussão a respeito de a quem Paulo se refere quando escreve: “edificados no fundamento dos apóstolos e dos profetas”. Quanto aos apóstolos de Cristo, obviamente não há qualquer dúvida quanto à identidade deles. Eles foram os homens divinamente escolhidos a quem o próprio Cristo confiou a liderança de sua Igreja.
Então as discussões se concentram em relação à identidade dos profetas. Existem muitas interpretações sobre isso, mas dentre todas duas são as principais. A primeira considera que ao falar sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, Paulo tinha em mente os profetas do Antigo Testamento. Nesse sentido, eles foram, no Antigo Testamento, a contraparte dos apóstolos no Novo Testamento.
Na antiga dispensação foram os profetas que receberam, comunicaram e registraram a revelação especial de Deus; enquanto que na nova dispensação essa tarefa coube aos apóstolos. Portanto, os apóstolos do Novo Testamento naturalmente ficaram no lugar dos profetas do Antigo Testamento.
Uma objeção frequentemente levantada contra essa interpretação se apóia na sequência que Paulo utiliza ao mencionar primeiro os apóstolos e depois os profetas. Cronologicamente o correto seria primeiro falar dos profetas e depois dos apóstolos. Mas nem sempre Paulo está preocupado com a sequência cronológica em sua narrativa. Em outra parte o mesmo apóstolo escreve que os judeus “mataram o Senhor Jesus e os seus próprios profetas” (1 Tessalonicenses 2:15). Veja que ele coloca a perseguição aos profetas – que cronologicamente foi anterior à perseguição a Cristo – depois da perseguição a Cristo.
A segunda interpretação diz que esses profetas são os profetas do Novo Testamento que foram especialmente comissionados a exercer um ministério local no início da Igreja Primitiva. Num tempo em que a Escritura ainda não estava completa, esses profetas transmitiam, interpretavam e aplicavam a revelação especial de Deus à Igreja (Efésios 4:11; cf. Atos 15:32; 21:9-11; 1 Coríntios 14:3). A objeção mais comum a esta interpretação é justamente o fato de que são os apóstolos os equivalentes neotestamentários dos profetas veterotestamentários.