O Que é Um Evangelista?

De maneira geral, o evangelista é a pessoa que foi chamada para anunciar o Evangelho por todos os lugares. Para entendermos melhor o que é um evangelista, precisamos estudar também o significado da palavra evangelista e pontuar algumas questões importantes sobre ela.

O que significa evangelista?

A palavra “evangelista” é um substantivo presente no Novo Testamento derivado do verbo grego euangelizomai, que significa “trazer boas-novas”, “anunciar boas-novas” ou, basicamente, “evangelizar”, “pregar o evangelho”. No Antigo Testamento, o termo equivalente seria o hebraico mebasser, utilizado, por exemplo, no livro do Profeta Isaías (40:9; 41:27; 52:7), denotando o mensageiro portador de boas-novas. Já no Novo Testamento, esse verbo é bastante comum, sendo aplicado a Deus (Gl 3:8), a nosso Senhor (Lc 20:1), aos Apóstolos em suas viagens missionárias, bem como aos cristãos comuns da Igreja (At 8:4).

Focando agora apenas no substantivo “evangelista“, podemos encontra-lo apenas três vezes em todo o Novo Testamento:

  1. No livro de Atos (At 21:8) o substantivo evangelista é atribuído a Filipe, chamado de “Filipe, o Evangelista”.
  2. Na Epístola de Paulo aos Efésios (4:11), a palavra é citada na lista de oficiais fornecida por Paulo.
  3. Na Segunda Epístola de Paulo a Timóteo (4:5), onde Timóteo é exortado a desempenhar a obra de um evangelista.

Com base nos textos apresentados acima, podemos perceber algumas questões interessantes sobre o que é um evangelista. No caso de Filipe, sabemos que ele foi separado para ser um dos sete diáconos que serviam a Igreja no auxílio aos Apóstolos, e tornou-se um grande pregador do Evangelho em regiões que ainda não haviam sido evangelizadas (At 8:5-40). Timóteo, por sua vez, pelas epístolas que Paulo lhes escreveu, podemos claramente perceber que suas atribuições eram explicitamente pastorais, mas Paulo o exorta para que ele fizesse o trabalho de um evangelista (2Tm 4:5). Nos dois casos aprendemos que o evangelista pode desempenhar outra função na igreja local e, ainda assim, exercer a função de evangelista, ou seja, no exemplo de Filipe, o diácono podia ser um evangelista, e, no exemplo de Timóteo, o pastor e mestre também podia desempenhar a função de evangelista.

Outro ponto que os textos bíblicos do Novo Testamento deixam bem claro é que, embora os Apóstolos essencialmente fossem evangelistas, ou seja, enviados como mensageiros para pregar o Evangelho, nem todos os evangelistas eram apóstolos. Isso fica evidente nos textos apresentados, onde Filipe e Timóteo não são incluídos entre os Apóstolos. Em relação a Timóteo, tal distinção é feita nitidamente na Epístola aos Coríntios (1:1) e na Epístola aos Colossenses (1:1). Embora em alguns aspectos a obra do evangelista se assemelhava bastante à obra do apóstolo, para o evangelista faltava as qualificações necessárias para ocupar o apostolado, ou seja, essa distinção está de acordo com as qualificações exigidas para o apostolado no livro de Atos dos Apóstolos, os quais necessariamente precisavam ter sido testemunhas oculares do ministério terreno de Cristo, principalmente de Sua ressurreição, e, além disso, ter sido, de alguma forma, comissionado pelo próprio Cristo para tal autoridade (At 1:21,22; 9:15). Essa diferença é confirmada na passagem em Efésios 4:11, onde o oficio de evangelista é mencionado separadamente ao de apóstolo.

Pelos relatos bíblicos aprendemos que, tanto os apóstolos quanto os outros membros que haviam sido separados para o ministério em ofícios específicos, desempenhavam também a obra de evangelista. Na verdade, em diversos textos no Novo Testamento podemos notar que muitos cristãos realizavam essa tarefa sagrada, de acordo com a oportunidade que lhes era conferida. O mesmo serve hoje para nós, pois temos o dever de anunciar as obras daquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:9). Entretanto, embora num sentido geral todo cristão verdadeiro seja um evangelista, o texto citado na Epístola aos Efésios deixa claro que havia pessoas que eram chamadas e capacitadas pelo Espírito Santo especialmente para essa tarefa, ou seja, era um dom distinto dentro da Igreja para o serviço da própria Igreja, já que é um dom de Cristo para ela.

Depois, ao longo da História da Igreja, o termo “evangelista” também passou a ser aplicado para designar os escritores dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), pois registraram o Evangelho de Cristo.

Existem evangelistas ainda hoje?

Há duas interpretações acerca desse assunto. Para alguns, o dom/ofício de evangelista é de caráter extraordinário, ou seja, serviu para um propósito específico em um determinado momento da História, e, juntamente com apóstolos e profetas, ele cessou. Para outros, esse dom/oficio é de caráter ordinário, isto é, continua até os dias atuais. De fato, essa não é uma questão tão simples de resolver, pois estudiosos extremamente preparados discordam sobre o assunto.

É bem verdade que, num certo sentido, não temos mais evangelistas como Filipe, Timóteo e Tito, que claramente serviam como auxiliares e representantes dos apóstolos naquele momento histórico e singular de expansão da Igreja descrito em Atos dos Apóstolos e nas Epístolas do Novo Testamento. Esse entendimento é óbvio pelo simples fato de que não temos mais apóstolos como Pedro, João e Paulo nos dias de hoje. Também, o ministério dos evangelistas estava diretamente ligado à operação de ações sobrenaturais como uma forma de autenticidade da mensagem do Evangelho que anunciavam. Por último, nas listas dos oficiais da Igreja, Paulo sempre cita o evangelista em maior grau de autoridade em relação ao pastor. Isso é explicado quando entendemos que, evangelistas como Timóteo e Tito, eram enviados para supervisionar as igrejas, além de serem responsáveis por designar presbíteros para as comunidades locais.

Entretanto, também devemos nos atentar que, embora o evangelista fosse um enviado, ele não lançava as bases da Igreja, pois essa incumbência, segundo Paulo, foi exclusiva aos apóstolos e profetas (Ef 2:20), ou seja, o evangelista desempenhava seu trabalho sob o fundamento já lançado pelos apóstolos e profetas. Considerando tudo isso, somado ao exemplo de grandes homens piedosos ao longo da História da Igreja que, indiscutivelmente, foram vocacionados e capacitados pelo Espírito Santo para dedicarem suas vidas a pregação do Evangelho nos lugares mais remotos do mundo, penso que os evangelistas servem a Igreja de Cristo em qualquer época, inclusive atualmente, desde que sejam compreendidas as características irrepetíveis presentes na Igreja Primitiva.

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As características de um evangelista

Utilizando os textos bíblicos, podemos notar as características que um evangelista necessariamente precisa ter. São vários os exemplos, porém iremos utilizar o perfil do Evangelista Filipe descrito no livro de Atos dos Apóstolos.

  1. O evangelista é comprometido com sua igreja local: Filipe foi um dos escolhidos para servir a igreja de Jerusalém cuidando das obras sociais e auxiliando os apóstolos (At 6:5). Mesmo depois da dispersão que houve após o martírio de Estêvão, Filipe continuou em contato com a sua liderança (At 8:14), pois em Samaria os apóstolos foram supervisionar o seu trabalho. Mesmo o Apóstolo Paulo, quando saia em suas viagens missionárias, procurava estar amparado por igrejas locais, como a igreja em Antioquia e, mais tarde, sua pretensão com a igreja em Roma. Hoje em dia vemos muitas pessoas que apenas querem ser “evangelistas itinerantes”, sem compromisso algum com uma comunidade cristã local.
  2. O evangelista é um homem de caráter: o livro de Atos nos informa que Filipe, quando foi escolhido como diácono da Igreja, necessariamente precisava ser um homem de boa reputação (At 6:3). A responsabilidade de um evangelista é muito grande ao ser o mensageiro que anuncia as Boas-Novas da salvação. Infelizmente muitos que se intitulam evangelistas servem apenas como escândalo para o Evangelho, com uma conduta de vida completamente imoral e reprovada.
  3. O evangelista é repleto do Espírito Santo e de sabedoria: mais um pré-requisito que Filipe possuía quando foi escolhido como diácono da Igreja (At 6:3). O fato de tais características serem pertinentes à sua escolha para a tarefa de servir a Igreja nas obras sociais no capítulo 6 de Atos, não anula a importância delas no desempenho da função de evangelista. Mais tarde, no capítulo 8 do mesmo livro, vemos que todas essas características estavam presentes em Filipe quando este pregava o Evangelho em diversos lugares. Filipe era alguém pleno do Espírito Santo e repleto de sabedoria, tanto servindo as viúvas e no cuidado aos pobres como desempenhando a tarefa de anunciar o Evangelho de Cristo.
  4. O evangelista é corajoso: mesmo diante do assassinato de seu companheiro de diaconato, o Evangelista Filipe não se calou (At 8:5). A possibilidade de que talvez fosse o próximo a ser apedrejado não fez com que Filipe abandonasse seu desejo de anunciar a Palavra de Deus.
  5. O evangelista não desiste nas adversidades e aproveita as oportunidades improváveis: como dissemos, após a morte de Estêvão houve uma grande perseguição contra a Igreja, de modo que, com exceção dos Apóstolos, todos se dispersaram. Filipe estava entre os que se dispersaram, mas, ao invés de se esconder, ele exerceu ainda mais a sua vocação. É exatamente nesse ponto de grande adversidade que temos, pela primeira vez, a descrição do Filipe Evangelista ao invés do diácono Filipe. Diante da ocasião que exigia que ele saísse de Jerusalém, Filipe aproveitou o momento para pregar o Evangelho pelos lugares em que passava.
  6. O evangelista prega a Cristo: a mensagem do evangelista é cristocêntrica. Para o verdadeiro evangelista não há outra mensagem mais importante do que o Cristo ressuscitado. Se a pregação de alguém que se diz evangelista não apontar para Cristo, então esse alguém não passa de um enganador. Filipe pregava a Cristo (At 8:5). É triste como hoje em dia qualquer coisa se tornou mais importante nos temas de pregações do que a verdade sobre o pecado e a obra de Cristo na cruz. Os ditos “evangelistas” estão mais preocupados em pregar bens e prosperidades, auto-ajuda, restituição e um monte de outras besteiras, do que de pregar sobre o arrependimento e a justificação mediante a fé em Cristo Jesus.
  7. O evangelista tem seu ministério focado na pregação do Evangelho: esse é um ponto extremamente importante de se compreender. O livro de Atos descreve que grandes sinais acompanhavam o ministério de Filipe, de modo que pessoas eram libertas da opressão de demônios e doentes eram curados. Entretanto, o mesmo texto deixa claro que esse não era o objetivo principal do ministério de Filipe, ao contrário, o foco estava sob a pregação do Evangelho de Cristo, e essas coisas eram apenas a consequência de tal pregação, de modo que serviam de evidência da autoridade que havia na mensagem pregada pelo evangelista. Com isso, aprendemos que curas e libertações só podem acontecer em decorrência da pregação do Evangelho verdadeiro que liberta o homem. Não existe milagre sem a pregação da Palavra genuína. Se houver qualquer milagre onde o Evangelho legítimo não está sendo pregado, então esse milagre não vem da parte de Deus. Ultimamente falsos evangelistas estão enganando muitas pessoas com espetáculos de demônios. Os verdadeiros sinais, aqueles que de fato são frutos do poder sobrenatural de Deus, sempre apontarão para o Evangelho da graça e nunca para o perfil “milagroso” do evangelista. Lutero definiu muito bem esse ponto ao dizer: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”.
  8. A grande satisfação do Evangelista é ver um pecador regenerado: esse certamente é o maior milagre que pode existir. Filipe pregava as Boas-Novas da salvação, e, conforme a soberana vontade de Deus, pessoas eram regeneradas pelo Espírito Santo, sendo batizadas em seguida como evidência de que, agora, eram novas criaturas em Cristo Jesus (At 8:12).
  9. O evangelista é disposto e está sempre atento a voz de Deus: Filipe não agia segundo a sua própria vontade, antes, ele se atentava em obedecer às ordens de Deus (At 8:26; 8:39). Com grande disposição, Filipe pregou em Samaria, Azoto, e em todas as cidades até chegar a Cesaréia (At 8:5,40).
  10. O evangelista sabe ensinar as Escrituras: Filipe, obedecendo à ordem do Senhor, foi para a estrada que desce de Jerusalém para Gaza. Ali, ele encontrou um eunuco que lia o livro do profeta Isaías, porém não conseguia compreender o que estava lendo. Filipe, como um autentico evangelista, ensinou-lhe as Escrituras mostrando ao eunuco que elas testificam de Cristo. Essa é uma verdade indivisível na tarefa da evangelização. Qualquer um que pretende desempenhar o evangelismo, obrigatoriamente precisa saber expor as Escrituras.

Para saber mais sobre este assunto, leia o texto sobre como evangelizar.

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3 Comentários

  1. PESQUISANDO ESTE ARTIGO SOBRE QUAL E A FUNCAO DO EVANGELISTA,ADOREI TODA A EXPLICACAO QUE EU ENCONTREI,ME APROFUNDEI E FIQUEI MUITO SURPRESO COM TODA A MATERIA.