A Bíblia é a Palavra de Deus?
A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela registra a revelação especial de Deus aos homens. Essa revelação não consiste apenas da automanifestação pessoal de Deus, mas também do que Deus diz a respeito de si mesmo. Em outras palavras, ao se revelar de forma especial, Deus também o faz de modo a dizer-nos algo acerca de si. Então a Bíblia é o registro fiel do que Ele tem a nos dizer.
Mas alguém pode questionar: Como saber se realmente a Bíblia é a Palavra de Deus? Existem provas disso? Como pode um conjunto de livros escrito por seres humanos ser mesmo a Palavra de Deus?
As respostas para tais questionamentos passam essencialmente pelo que a própria Bíblia diz acerca de si mesma. A Bíblia afirma ser ela mesma a Palavra de Deus, ela fornece inúmeras provas disso, bem como também explica como pode ser possível que homens finitos puderam registrar as palavras do Deus infinito.
Se a Bíblia é a Palavra de Deus, por que ela foi escrita por homens?
O Deus infinito e transcendente se revela ao homem de forma pessoal e proposicional, de modo a dar-lhe um conhecimento claro e objetivo acerca de Sua natureza, obra e vontade. Isso significa que Ele decidiu se comunicar de forma especial conosco em termos humanos e inteligíveis. Para tanto, ele escolheu certas pessoas para serem suas porta-vozes neste mundo.
Então quando falamos que a Bíblia é a Palavra de Deus, também estamos afirmando sua inspiração divina. Em outras palavras, a Bíblia só pode ser a Palavra de Deus se ela for mesmo inspirada por Deus – visto que seus escritores eram homens como nós.
Mas há inúmeras evidências dentro da própria Bíblia que atesta sua inspiração. O apóstolo Paulo, por exemplo, escreve que “toda a Escritura é inspirada por Deus…” (2 Timóteo 3:16). A palavra “inspirada” traduz o grego theopneustos, que significa literalmente que a Escritura foi “soprada por Deus”.
Então o próprio Espírito de Deus operou de forma sobrenatural na vida das pessoas que foram escolhidas por Ele para registrarem Sua Palavra. No processo de composição das Escrituras, Deus guardou essas pessoas do erro e as inspirou a registrar com perfeita precisão Sua Palavra expirada.
Toda a Bíblia é a Palavra de Deus?
Há uma grande diferença entre dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus e dizer que a Bíblia apenas contém a Palavra de Deus. Quando dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus, estamos afirmando a inspiração divina de cada uma de suas palavras. Mas quando dizemos que a Bíblia apenas contém a Palavra de Deus, caímos no erro de considerar que pode haver partes da Bíblia que não são inspiradas e, portanto, não são a Palavra de Deus.
A boa notícia é que há realmente muitas declarações na Bíblia que testificam que todas as suas palavras são mesmo as palavras de Deus. Começando pelo Antigo Testamento, centenas de vezes lemos expressões como: “Assim diz o Senhor”, “Veio a mim a palavra do Senhor”, “Ouvi a palavra que o Senhor fala”, “São estas as palavras que disse o Senhor”, entre outras (Isaías 7:7; Jeremias 1:4; 30:4; Amós 3;1; Ageu 1:7; etc.). Isso significa que os profetas falaram o que o próprio Deus falou.
Outras partes do Antigo Testamento ainda confirmam que de fato o Senhor falava por intermédio dos profetas (cf. 1 Reis 14:18; 16:12,34; 2 Reis 9:36; 14:25; Jeremias 37:2; Zacarias 7:7; etc.). Além disso, todas as demais porções das Escrituras são a Palavra de Deus – e não apenas aquelas que trazem citações diretas atribuídas a Deus (Êxodo 24:7; Deuteronômio 31:24-26; Josué 24:26; 2 Reis 23:1-3; etc.).
No Novo Testamento essa verdade é ainda mais evidente. Já citamos aqui o que o apóstolo Paulo escreve: “Toda a Escritura é inspirada por Deus…” (2 Timóteo 3:16). O apóstolo Pedro também explica que toda a profecia da Escritura é procedente de Deus, e não da vontade humana (2 Pedro 1:20,21).
Embora o termo “Escritura” no Novo Testamento se refira principalmente aos escritos do Antigo Testamento, os escritores neotestamentários também reconheciam que o processo de composição da Escritura não havia sido concluído ainda, e que os novos escritos que estavam sendo produzidos pelos apóstolos ou pessoas ligadas a eles, também tinham valor de Escritura e, portanto, eram a Palavra de Deus (cf. 1 Coríntios 14:37; 1 Tessalonicenses 2:13; Pedro 3:16; 1 João 4:6).
Cada palavra da Bíblia é a Palavra de Deus?
Como foi dito, se toda a Bíblia é a Palavra de Deus, isso significa que cada uma de suas palavras são as palavras de Deus. Isso nos leva a afirmar a inspiração verbal da Bíblia.
Essa inspiração não significa que o Espírito Santo apenas influenciou os escritores humanos ou sugeriu conceitos gerais que eles deveriam registrar cada qual ao seu modo. Mas a inspiração da Bíblia é verbal. Isso quer dizer que a obra do Espírito Santo foi tão abrangente que envolveu até mesmo a escolha das palavras. Portanto, a inspiração divina não cobre simplesmente a ideia geral da informação bíblica, mas cada palavra registrada na Escritura (cf. Mateus 5:18).
Isso, no entanto, não significa que a inspiração foi algo mecânico. Dizer que cada palavra da Bíblia é a Palavra de Deus inspirada, não quer dizer os escritores bíblicos escreveram as Escrituras como um aluno escreve um ditado dado por seu professor. Isso seria uma Idea muito simplista do conceito de inspiração verbal.
Na verdade a inspiração verbal de cada palavra da Bíblia significa que a providencia divina cuidou de cada detalhe do registro da Escritura. Isso incluiu a plena preparação das pessoas escolhidas para escreverem-na – desde o local onde nasceram, a época em que viveram, a educação que tiveram, as informações que receberam, as experiências que vivenciaram etc.
Como diz Wayne Grudem, “a superintendência e a direção divina providenciais de Deus na vida de cada autor foram de tal ordem que a personalidade e a habilidade deles foram exatamente o que Deus queria que fossem para a tarefa de escrever a Escritura. Então quando eles realmente chegaram a escrever, as palavras eram plenamente as suas próprias palavras, mas também eram plenamente as palavras que Deus queria que eles escrevessem, palavras que Deus também afirmaria serem suas” (Manual de Teologia Sistemática – Editora Vida).
É válido dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus com base nela mesma?
Muitas pessoas levantam a objeção de que dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus, e recorrer a ela mesma como sendo a fonte e a prova final de tal afirmação, consiste num argumento circular. Isso porque o cristão crê que a Bíblia é a Palavra de Deus porque ela mesma afirma isso; e o cristão crê que essa afirmação é verdadeira porque a Bíblia é a Palavra de Deus.
Mas a questão é que quando se quer provar algo sobre determinado assunto, deve-se recorrer à autoridade máxima sobre aquele assunto. Então se a Bíblia dependesse de outra fonte para provar que ela é a Palavra de Deus, então ela não seria a autoridade absoluta sobre si mesma e, consequentemente, não seria a Palavra de Deus.
Por exemplo: se tivéssemos que recorrer à ciência para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, então estaríamos assumindo que a verdade da ciência é superior e mais confiável que a verdade de Deus.
Neste mundo caído realmente há muitas reivindicações de autoridade absoluta. Aqueles que contestam que a Bíblia é a Palavra de Deus, geralmente o fazem com base em sua própria lógica, razão, experiência, metodologia etc.
Esse tipo de coisa também não deixa de ser, em certo sentido, um argumento circular, pois em última análise quem discorda que a Bíblia é a Palavra de Deus, o faz com base em sua própria lógica e razão. Embora possa se valer de outras fontes, no final a pessoa que rejeita a Bíblia como Palavra de Deus toma essa posição porque isso lhe parece lógico e razoável.
Além disso, afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus, principalmente com base no que ela diz sobre si mesma, não é um típico argumento circular. Isso seria uma visão muito reduzida do assunto.
Em primeiro lugar, dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus porque ela mesma afirma isso, não significa invalidar outros argumentos que testemunham a seu favor. Do ponto de vista humano, a Bíblia possui precisão histórica, uma coerência literária impecável e contém inúmeras profecias que comprovadamente foram cumpridas centenas de anos após terem sido registradas.
A Bíblia é também o livro mais bem documentado que existe. Wayne Grudem também lembra que a história da humanidade tem sido influenciada pela Bíblia mais do que qualquer outra obra; bem como é inegável que ela tem mudado a vida de milhões e milhões de pessoas ao longo dos tempos.
Em segundo lugar, afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus porque ela diz isso, é uma coisa. Mas estar convencido dessa verdade, é outra. A verdadeira persuasão de que a Bíblia é a Palavra de Deus só pode existir em nós se for operada pelo Espírito Santo. Pela Palavra, e com a Palavra, Ele testifica ao nosso coração que aquilo que a Bíblia Sagrada diz de si mesma é a mais absoluta verdade, e que, portanto, ela é a Palavra de Deus. Sem a obra do Espírito Santo, a pessoa jamais acreditará que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Por fim, uma vez que o Espírito Santo opera em nós a Sua obra, e ilumina o nosso entendimento para que possamos não somente estar convencidos de que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas também crescer no conhecimento de sua verdade, nossa visão de mundo muda. Então até mesmo a nossa percepção acerca das coisas criadas passa a contribuir com o aperfeiçoamento da nossa convicção de que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Isso significa que passamos a ser habilitados a contemplar a revelação geral de Deus no Universo e perceber como ela se harmoniza com Sua revelação especial registrada na Escritura; de modo que fica ainda mais nítida para nós a certeza de que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Por causa do pecado, o incrédulo olha para o mundo criado e não consegue perceber o conhecimento de Deus revelado nele. Porém, o cristão olha para o mundo criado e consegue enxergar nele a revelação dos atributos invisíveis de Deus e a proclamação de Sua glória. Isto lhe serve de testemunho de que, de fato, só pode ser mesmo verdade que a Bíblia é a Palavra de Deus.