A curiosidade sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse é um tema bastante discutido entre os cristãos. Essas duas testemunhas são mencionadas num capítulo do Apocalipse que descreve um contexto de perseguição contra o povo de Deus (Apocalipse 11).
Em harmonia com o restante do livro, esse capítulo traz muitas informações, e é caracterizado pelo uso de linguagem simbólica. Apesar dos detalhes, a identidade das duas testemunha não são reveladas diretamente.
O que a Bíblia diz sobre as duas testemunhas?
O autor do Apocalipse informa que as duas testemunhas recebem poder divino para profetizar por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco (Apocalipse 11:3). Em seguida, as duas testemunhas são identificadas com “duas oliveiras e dois castiçais que estão diante do Deus da terra”. Também é dito que se alguém fizer mal às duas testemunhas, sairá fogo de sua boca. Esse fogo devorará os seus inimigos, pois quem fizer lhes fizer mal, deverá ser morto (Apocalipse 11:4,5).
Além disso, também é dito que as duas testemunhas recebem poder para fechar o céu, para que não chova nos dias da sua profecia. Elas também têm poder para converter as águas em sangue, e para ferir a terra com pragas (Apocalipse 11:6).
Mas quando acabar o seu testemunho, a besta que sobre do abismo fará guerra contra as duas testemunhas. Essa beste vencerá as testemunhas e as matará. Então os corpos das duas testemunhas ficaram expostos na praça da grande cidade. Essa grande cidade é espiritualmente chamada de Sodoma e Egito, onde Cristo também foi crucificado (Apocalipse 11:7,8).
Os corpos das duas testemunhas serão vistos por homens de todas as partes da terra por um período de três dias e meio. Também não será permitido que seus corpos sejam sepultados. Então as pessoas celebrarão a morte das duas testemunhas. Eles presentearão uns aos outros, porque a profecia das duas testemunhas tinha atormentado os habitantes da terra (Apocalipse 11:9,10).
Mas depois de três dias e meio, Deus concederá espírito de vida novamente às duas testemunhas. Elas se levantarão e os homens ficarão atemorizados. Então a terra ouvirá uma grande voz do céu chamando as duas testemunhas. E assim elas subiram ao céu em uma nuvem, na presença de todos os seus inimigos (Apocalipse 11:12).
As diferentes interpretações sobre as duas testemunhas do Apocalipse
Existem realmente muitas interpretações que tentam explicar quem são as duas testemunhas. Muitas dessas interpretações que surgiram ao longo da História do Cristianismo foram defendidas por cristãos sinceramente comprometidos com a Palavra de Deus.
Neste texto iremos expor as principais interpretação sobre a identidade das duas testemunhas. Não iremos considerar aqui as interpretações defendidas por algumas seitas, pois isso desviaria nosso foco. Também é válido lembrar que, por conta da dificuldade do tema, é importante que haja respeito com quem defende uma interpretação diferente da nossa.
As duas testemunhas são Enoque e Elias
Dentre todas as interpretações sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse, provavelmente esta seja a mais popular entre os cristãos.O principal ponto de defesa para que as duas testemunhas sejam identificadas como sendo o profeta Elias e Enoque, diz respeito ao fato de que estes dois homens foram os únicos a estarem com Deus sem passar pela morte.
Então quem defende que eles serão as duas testemunhas, afirma que estes dois homens foram guardados para essa missão final. Será no ministério das duas testemunhas do apocalipse que eles finalmente experimentarão a morte.
As duas testemunhas são Moisés e Elias
Esta interpretação é bem semelhante a anterior. A diferença é que ao invés de Enoque, a outra testemunha será Moisés. A principal defesa para esta linha de interpretação fica por conta de que as duas testemunhas possuem características que lembram os dias desses homens na terra. As duas testemunhas poderão “ferir a terra com toda sorte de pragas” e “converter as águas em sangue”, como no ministério Moisés. Elas também terão “poder para fechar o céu, para que não chova”, assim como foi com Elias.
Outro ponto utilizado nesta interpretação é o fato de que Elias e Moisés foram os personagens presentes na transfiguração de Jesus (Mateus 17:3). Ainda sobre Elias, tanto essa interpretação quanto a anterior, geralmente utiliza uma profecia de Malaquias para defender um possível retorno do profeta a terra (Malaquias 4:5,6).
As duas testemunhas são cristãos desconhecidos
Esta interpretação diz que as duas testemunhas do Apocalipse não serão personagens bíblicos conhecidos. Na verdade os dois profetas serão cristãos, ainda anônimos, que serão levantados por Deus no período final, durante a grande tribulação.
Então estes dois cristãos exerceram um ministério muito importante e especial. Eles atuarão no espírito e no poder de Elias e Moisés, mas não serão eles próprios. Isto seria algo semelhante ao que ocorreu no ministério de João Batista (Lucas 1:15-17).
Outras interpretações sobre as duas testemunhas do Apocalipse
Outras duas importantes interpretações se destacam dentro da teologia reformada sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse. Em comum, estas duas interpretações se apegam ao estilo literário do livro do Apocalipse, considerando especialmente o amplo uso de simbolismos.
A primeira delas defende que as duas testemunhas são o Antigo e o Novo Testamentos. Em outras palavras, as duas testemunhas são referências simbólicas utilizadas pelo autor do Apocalipse para se referir ao propósito central das Escrituras reveladas no Antigo e no Novo Testamento.
A segunda e mais amplamente aceita dentro da teologia reformada, diz que as duas testemunhas são um símbolo da verdadeira Igreja de Cristo. Então as duas testemunhas representam no texto do Apocalipse toda a Igreja militante ao longo dos tempos.
Quem são as duas testemunhas do Apocalipse realmente?
Creio que neste ponto já tenha ficado claro a dificuldade em se determinar quem são as duas testemunhas do Apocalipse. Na verdade é impossível afirmar com exatidão a identidade das duas testemunhas, visto que a Bíblia não o faz explicitamente. Além disso, as duas testemunhas aparecem em um texto difícil, num livro escatológico que emprega muita simbologia em sua linguagem profética.
Além do mais, estes são pontos secundários em que divergências de interpretações não representam qualquer problema com relação a mensagem central das Escrituras. Descobrir quem são as duas testemunhas não significa uma das doutrinas principais da fé Cristã.
Então não precisamos falar em interpretações corretas ou erradas sobre a identidade das duas testemunhas. Podemos simplesmente falar em interpretações coerentes e menos coerentes. Claro, a coerência deve ser determinada com base unicamente na Palavra de Deus. O que podemos fazer é identificar qual das interpretações sobre as duas testemunhas do Apocalipse parece se harmonizar melhor com o restante das Escrituras.
Particularmente, creio que a interpretação mais coerente sobre a identidade das duas testemunhas, à luz da Bíblia, é aquela que diz que as duas testemunhas simbolizam toda a Igreja verdadeira. Como foi dito, obviamente nem todos concordarão com a minha posição. Mas isto é algo muito comum quando o assunto é escatologia. Se você é uma dessas pessoas, fale também sobre sua posição preferida nos comentários.
Não pretendo fazer uma grande exposição sobre minha defesa para que o texto não fique demasiadamente grande e cansativo. Porém, a seguir irei apresentar, resumidamente, alguns pontos fundamentais que me levam a entender que as duas testemunhas representam a Igreja do Senhor.
As duas testemunhas e o estilo literário do Apocalipse
O livro do Apocalipse é muito rico em simbologia, e esse padrão permeia o conteúdo do livro inteiro. Creio que para uma interpretação coerente desse livro, não podemos literarizar um texto nitidamente simbólico. No próprio capítulo 1 do Apocalipse, já temos um aviso claro que haverá muita simbologia no livro, e que não devemos tentar interpretá-las de forma literal (Apocalipse 1:20).
A simbologia pode ser notada até mesmo nas pequenas cartas individuais às sete Igrejas da Ásia Menor. Outra característica marcante do Apocalipse é o extenso uso de conteúdo do Antigo Testamento na composição do livro. João escreveu para irmãos que conheciam as Escrituras, e que facilmente poderiam perceber e interpretar tais ocorrências. Obviamente o texto sobre as duas testemunhas se enquadra em todo esse padrão.
As duas testemunhas e a estrutura de Apocalipse 11
Considerando o padrão simbólico do livro do Apocalipse e sua fundamentação no Antigo Testamento, o capítulo 11 pode ser interpretado de uma forma mais coerente sem apelar para algo literal que destoa desse padrão já estabelecido. Quem interpreta esse capítulo de forma literal, dirá que nos dois primeiros versículos João descreve uma futura reconstrução do templo em Jerusalém.
Porém, quando entendemos as características literárias do livro, naturalmente se percebe que o termo “santuário de Deus” simboliza a Igreja verdadeira. Isso está de acordo com outras referências bíblicas onde essa mesma expressão é utilizada para descrever a Igreja (cf. 1 Coríntios 3:16,17; 2 Coríntios 6:16; Efésios 2:21).
Quanto à medição do santuário nos versículos 1 e 2, devemos interpretá-la com base no contexto imediato, em sua referência paralela (Apocalipse 21:15) e no pano de fundo do Antigo Testamento utilizado por João (Ezequiel 40:5; 42:20; Zacarias 2:1). Então essa medição do santuário significa separá-lo de tudo que é profano, para que esteja perfeitamente seguro e protegido.
O santuário é aceito, enquanto o pátio é rejeitado (Apocalipse 11:2). Em outras palavras, essa medição simboliza a separação do povo de Deus do povo profano. Essa interpretação está diretamente ligada aos capítulos 7 e 9 do Apocalipse, onde o povo de Deus é selado. Tudo isto indica que as duas testemunhas são citadas em um capítulo que fala da separação e preservação do povo escolhido do Senhor.
Além disso, no livro do Apocalipse a Igreja verdadeira é designada e representada de várias forma diferentes. Por exemplo, no Apocalipse a Igreja aparece como: sete candeeiros, reis e sacerdotes, uma multidão de 144 mil, uma multidão incontável, anciãos, santuário de Deus, noiva, cidade santa etc. Agora, no capítulo 11, essa mesma Igreja é representada como sendo duas testemunhas.
O fato de serem duas testemunhas
Alguém pode perguntar: Por que duas testemunhas? Não poderia ser apenas uma? Não poderiam ser três?Naquela época, um processo só teria validade se fosse fundamentado no testemunho de pelo menos duas pessoas (Números 35:30; Deuteronômio 17:6; Mateus 18:16; Hebreus 10:28).
Logo, a referência às duas testemunhas indica a credibilidade e veracidade de suas palavras. Essa interpretação corresponde ao relato de Lucas 10:1, quando Jesus separou os setenta discípulos em dupla, enviando-os de dois em dois como seus missionários. Embora não seja conclusivo, a expressão “duas testemunhas” pode muito bem enfatizar a tarefa missionária da Igreja.
Além do mais, as duas testemunhas são identificadas com duas oliveiras e dois candeeiros. Essas mesmas figuras são encontradas em Zacarias 4:1-7. Na profecia de Zacarias, provavelmente elas se referem a Josué e Zorobabel, representando representando os ofícios pelos quais Deus abençoou Israel. Aqui, as duas oliveiras e os dois candeeiros são símbolos da Palavra de Deus proclamada pela Igreja.
O fogo que saiu da boca das duas testemunhas
O texto bíblico diz que sai fogo da boca das duas testemunhas. Obviamente este é outro ponto que não deve ser interpretado de forma literal. Mais uma vez temos uma passagem do Antigo Testamento nos ajudar a entender esta questão.
A Bíblia diz que o fogo do juízo e de condenação saiu da boca do profeta Jeremias para devorar os inimigos de Deus. Esse fogo era um símbolo da palavra pronunciada por Jeremias (Jeremias 5:14). No Apocalipse, o mesmo princípio é utilizado para se referir ao fato de que a Igreja, através de seus ofícios, anuncia os juízos de Deus e condena os ímpios com base na Palavra do Senhor. Essa condenação realmente resulta em destruição (Mateus 18:18).
O poder sobrenatural das duas testemunhas
Vimos que as duas testemunhas possuem poder sobrenatural, semelhantemente aos ministérios de Moisés e Elias. Moisés recebeu autoridade para ferir a terra com pragas e tornar a água em sangue (Êxodo 7:20). Elias orou para que o céu fosse fechado de modo que não chovesse (1 Reis 17:1). Da mesma forma, a autoridade conferida à Igreja, através de seu ministério, expõe o mundo ímpio que rejeita a mensagem do Evangelho ao julgamento e condenação por parte de Deus.
Isso é uma verdade real ensinada nas Escrituras. O Senhor envia punição ao mundo iníquo em resposta às orações da Igreja (Apocalipse 8:3-5). Ele assegura que a Igreja verdadeira tem autoridade de trazer juízo, pelo ofício de levar o Evangelho genuíno diante do mundo (cf. Mateus 16:19; 18:18,19; João 20:21-23).
O próprio versículo 5 do capítulo 11 deixa claro que qualquer um que causar danos aos verdadeiros seguidores de Cristo, será igualmente destruído. Por isso os inimigos das duas testemunhas perecem, porque eles são inimigos da Palavra que elas proclamam.
As duas testemunhas são mártires
A palavra grega traduzida por testemunha é martyria, que também significa “mártir” e “proclamador”. Esse termo sempre é empregado ao povo de Deus no livro do Apocalipse. O texto bíblico de Apocalipse 11 também informa que as testemunhas são derrotadas aos olhos dos homens. Elas morrem e seus corpos ficam expostos enquanto o mundo comemora.
Já em Apocalipse 13, somos informados que a besta faz guerra contra os santos e os vence. Porém, vemos que esse período de aparente derrota dura pouco (Mateus 24:22; Apocalipse 20:7-9). Assim entendemos que esse será o período onde a Igreja será duramente perseguida. Como uma instituição da forma como nos organizamos hoje, ela desaparecerá do mundo. Nesse período os cristãos nominais mostrarão sua falsa fé ao renunciarem o Evangelho, e os verdadeiros cristãos serão perseguidos, presos e até mortos.
Isso significa que aos olhos dos homens a Igreja estará por baixo. Porém, à medida que o sangue dos santos é derramado, acontece a vitória que os olhos humanos ainda não veem (Apocalipse 12:11). Esse é o período anunciado por Jesus, o qual Ele chamou de “grande tribulação” em seu sermão escatológico (Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21). O apóstolo Paulo se referiu a esse mesmo período como “a apostasia” (2 Tessalonicenses 2:3).
O próprio Jesus enfatizou que esse será um momento tão difícil, que se os dias não fossem abreviados, nem mesmo os escolhidos suportariam. Esse momento acontecerá exatamente na hora determinada por Deus, no dia em que as testemunhas terão terminado o seu testemunho (Apocalipse 11:7).
Os corpos das duas testemunhas serão expostos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor foi crucificado (Apocalipse 11:8). Essa descrição simbólica significa que a Igreja parecerá morta no meio do mundo anticristão. Isso fica claro pelas cidades utilizadas nesse símbolo.
As duas testemunhas ressuscitam
O mundo estará comemorando por acreditar ter vencido a Igreja e silenciado sua voz. O Evangelho não estará mais atormentando os habitantes da terra. Mas é nesse cenário que as duas testemunhas são ressuscitadas, ficam de pé e são chamadas ao céu.
Perceba que em Apocalipse 11:15 o toque da sétima trombeta anuncia a introdução do dia do juízo. A ressurreição das duas testemunhas simboliza de forma maravilhosa a segunda vinda de Cristo com o arrebatamento da Igreja aos céus. A Igreja que parecia derrotada, em meio a um mundo completamente anticristão, agora é levantada vitoriosa e ascende ao céu numa nuvem de glória. Note a expressão: “e os seus inimigos os viram”.
Logo em seguida, ocorre um grande terremoto precedendo o momento do juízo, e o pavor dos ímpios é revelado. O texto diz que os ímpios até darão glória ao Deus do céu (Apocalipse 11:13). Mas essa glória que eles darão não significará uma conversão. Ao contrário disso, essa glória dada pelos ímpios será um indicativo do terror que tomará conta de seus corações.
As duas testemunhas, que a pouco pareciam mortas, agora são levadas ao céu. Esse é o momento descrito por Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16,17 e 1 Coríntios 15:52. Os perseguidores que contavam vitória se apavorarão ao contemplarem o triunfo da Igreja sobre a proteção do Deus irado que se assenta no trono.
As testemunhas, antes perseguidas, finalmente serão glorificadas. Elas também receberão a tarefa de participarem do julgamento do mundo incrédulo (1 Coríntios 6:2). Nesse exato momento o mundo estará maduro e pronto para o juízo final. Esse será o momento do acerto de contas. Esse será momento anunciado em Apocalipse 11:14 como o terceiro ai.
O significado da mensagem sobre as duas testemunhas
A passagem bíblica sobre as duas testemunhas certamente traz uma mensagem maravilhosa para todos nós. Penso que muita gente, na tentativa de descobrir a identidade dessas duas testemunhas, infelizmente acaba perdendo o prazer de desfrutar do conforto que há nessa passagem para a Igreja de Cristo. Quando se entende que os cristãos verdadeiros, o povo escolhido do Senhor com a tarefa de proclamar o verdadeiro Evangelho, é quem são as duas testemunhas, naturalmente o propósito principal da passagem salta aos olhos.
Sem dúvida a passagem sobre as duas testemunhas trouxe grande esperança e conforto para os destinatários primários do livro do Apocalipse. Os crentes do primeiro século que viviam na Ásia Menor sob o regime romano, estavam enfrentando terríveis perseguições. O fim da Igreja parecia certo aos olhos humanos. Ela havia sido declarada inimiga do império mais poderosos do mundo.
Mas Apocalipse mostra a Igreja na figura de duas testemunhas que incomoda o mundo com seu testemunho. Essa Igreja pode perseguido e até morta pelo mundo ímpio, porém em Cristo, ela é mais que vencedora. Inevitavelmente haverá o dia em que os fieis ressuscitarão e reinarão eternamente com nosso Deus. O mundo jamais poderá impedir o encontro entre a noiva e seu Noivo, entre as duas testemunhas e o céu de glória. E para você? Quem são as duas testemunhas do Apocalipse?