Estudo Sobre a Carta à Igreja de Filadélfia
A igreja de Filadélfia é uma das igrejas citadas na Bíblia no livro do Apocalipse. Por causa da carta à igreja de Filadélfia registrada no texto bíblico, aquela igreja ficou conhecida por todos os cristãos como um exemplo de fidelidade ao Senhor e compromisso com a verdade do Evangelho.
A igreja de Filadélfia, como o próprio nome já diz, ficava localizada na cidade de Filadélfia, na província romana da Ásia Menor. A cidade de Filadélfia era um centro importante para a difusão da cultura grega entre os lados ocidental e oriental do Império Romano. Mas por conta da região vulcânica onde estava posicionada, a cidade sofria muito com terremotos. Inclusive, em 17 d.C. Filadélfia chegou a ser destruída por um grande terremoto.
Esses detalhes históricos são importantes diante do texto bíblico, porque na carta à igreja de Filadélfia há várias referências diretas às questões enfrentadas pelos habitantes daquela cidade.
Introdução da carta à igreja de Filadélfia
A carta à igreja de Filadélfia começa com uma saudação da parte de Cristo. A saudação foi destinada “ao anjo da igreja”, que era o líder e representante local daquela comunidade cristã (cf. Apocalipse 1:20).
Em seguida, Cristo se identificou como “o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá” (Apocalipse 3:7). Essa autodescrição de Cristo enfatiza sua santidade, veracidade e autoridade absolutas.
Jesus Cristo é Aquele que possui a chave de Davi. Isso quer dizer que Ele é Aquele em quem finalmente se cumprem todas as promessas messiânicas; e o único que tem o poder de abrir as portas do Reino de Deus para o homem.
Essa autodescrição de Cristo certamente trouxe um conforto muito grande aos crentes da igreja de Filadélfia. Isso porque aqueles cristãos eram perseguidos pela comunidade judaica daquela cidade que insistia que somente os judeus é que pertenciam ao povo de Deus. Mas ao falar à igreja de Filadélfia, Jesus Cristo deixou claro que a segurança de sua salvação não estava sob a autoridade do julgamento judaico, mas estava sob as mãos d’Aquele que verdadeiramente segura a chave de Davi.
Elogio à igreja de Filadélfia
Após informar que as questões da salvação são deliberadas por Aquele que é inteiramente santo e verdadeiro, a carta à igreja de Filadélfia mostra que Cristo está pessoalmente atento ao seu povo. Por isso, na carta, Ele próprio disse: “Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar — que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Apocalipse 3:8).
A igreja de Filadélfia era pequena em número e tinha pouca força, mas suas obras eram conhecidas pelo Senhor. Deus havia colocado diante daquela igreja uma “porta aberta”. A cidade de Filadélfia ficava às margens de uma importante rota comercial que ligava o Ocidente e o Oriente. Isso fazia com pessoas de todas as partes do Império Romano passassem por ali, criando uma grande oportunidade de evangelização.
Então a igreja de Filadélfia não desperdiçou essa maravilhosa porta aberta, e como uma verdadeira igreja missionária, pregou Evangelho com firmeza e fidelidade. E mesmo diante do escárnio e da oposição daqueles que eram inimigos da obra do Senhor, a igreja de Filadélfia não negou o nome de Cristo e guardou a sua palavra. A igreja de Filadélfia era pequena e insignificante aos olhos dos homens, mas era grande aos olhos do Senhor.
A perseguição à igreja de Filadélfia
A carta à igreja de Filadélfia tinha como pano de fundo o ambiente adverso que os crentes daquela cidade tinham de enfrentar. Na carta, Cristo disse que estava ciente da oposição daqueles que pertenciam a “sinagoga de Satanás”.
Assim como os crentes da igreja de Esmirna, os cristãos de Filadélfia também estavam sofrendo perseguição por parte dos judeus que viviam ali. Qualquer um que se convertesse ao Cristianismo, era identificado como herege e apóstata diante do Judaísmo, e impedido de frequentar as sinagogas.
Os membros da assembleia judaica em Filadélfia se orgulhavam de ser o povo eleito de Deus, mas na carta o Senhor disse que, na verdade, eles eram mentirosos e que aquela assembleia era uma sinagoga de Satanás, pois servia como instrumento nas mãos do inimigo para destruir a obra do Senhor. Jesus Cristo ainda disse que haveria de fazer com que os opositores reconhecessem que aquela igreja era mesmo o objeto do seu amor divino.
Diante desse cenário, Cristo também garantiu que assim como a igreja de Filadélfia tinha guardado a palavra de sua perseverança, Ele também guardaria aquela igreja da hora da provação que haveria de vir sobre o mundo (Apocalipse 3:10).
A palavra grega usada nesse versículo para falar da proteção do Senhor é a mesma aplicada na oração sacerdotal de Jesus pedindo que o Pai não retirasse seus seguidores do mundo, mas que os livrasse do mal (João 17:15). Então a declaração: “eu te guardarei da hora da provação” não implica na ideia de “retirada da provação”, mas de “preservação na provação”.
Em outras palavras, Cristo não estava dizendo que haveria de livrar os crentes de Filadélfia de passar pela provação, mas que Ele haveria de livrá-los através da provação. Essa é uma garantia que se estende aos cristãos de todas as épocas e lugares. Os crentes podem ser confortados de que o Senhor preserva o seu povo na hora da provação que abate o mundo.
Exortação à igreja de Filadélfia
À luz de toda essa verdade sobre a preservação divina, Cristo informou aos crentes de Filadélfia que Ele não demoraria a voltar, e deixou a importante exortação: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Apocalipse 3:11).
Nesse ponto fica muito clara a forma como a soberania divina e a responsabilidade humana são apresentadas lado a lado. O mesmo Senhor que disse: “eu te guardarei”, também recomendou: “conserve o que tens”.
Outro detalhe importante é que na carta à igreja de Filadélfia, Jesus Cristo diz que aqueles crentes já possuíam a coroa de um vencedor; ou seja, a exortação não dizia para eles conquistarem a coroa, mas para simplesmente cuidarem apropriadamente da coroa que eles já eram possuidores. A instrução era para que os crentes de Filadélfia continuassem sendo fieis, e para tanto, eles podiam contar com o cuidado pessoal do Senhor que haveria de mantê-los firmes sejam quais fossem as circunstâncias (cf. 1 Coríntios 1:8).
Promessa à igreja de Filadélfia
A carta à igreja de Filadélfia termina trazendo a promessa de recompensas gloriosas aos vencedores. Em primeiro lugar, Cristo prometeu fazer do vencedor “coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá” (Apocalipse 3:12). Essa era uma promessa muito significativa para os crentes de uma cidade que vivia assombrada por terremotos.
Inclusive, os tremores de terra eram tão frequentes e o medo da população era tão grande, que muitos habitantes de Filadélfia resolveram morar em campo aberto, fora dos muros da cidade. Mas Cristo prometeu uma estabilidade permanente aos vencedores, afinal, eles seriam pilares no templo de Deus, de onde jamais precisariam sair. Na cidade celestial, os crentes de Filadélfia jamais precisariam sair da cidade pela ameaça de um desastre.
Em segundo lugar, Cristo prometeu gravar sobre o vencedor o nome de seu Deus e o nome da cidade do seu Deus, isto é, a Nova Jerusalém, e o seu próprio novo nome. Quando Filadélfia foi arrasada pelo terremoto de 17 d.C., a cidade recebeu ajuda financeira do Império Romano para sua reconstrução. Em gratidão, Filadélfia teve seu nome trocado para honrar o Imperador Tibério. Depois, uma vez mais o nome da cidade foi alterado para homenagear o imperador Vespasiano.
Então a promessa de que os crentes fieis de Filadélfia receberiam um novo nome, realmente era muito significativa. Mas diferentemente daquela cidade que tinha recebido um nome em homenagem ao deus imperial romano, os crentes da igreja de Filadélfia teriam escrito sobre si o nome divino numa indicação de que eles pertenciam a Deus, à Nova Jerusalém, e a Cristo.
A igreja de Filadélfia foi fundada no tempo do apóstolo Paulo, e historicamente ela foi a única das sete igrejas da Ásia Menor que transpôs os séculos. Mesmo depois que os mulçumanos tomaram a província da Ásia e dominaram aquela região, a fé cristã persistiu em Filadélfia e ainda hoje há cristãos naquela região que agora pertence a Turquia.