A Ceia das Bodas do Cordeiro
As Bodas do Cordeiro é um evento descrito no capítulo 19 do livro do Apocalipse. Apesar de nos capítulos anteriores o Apóstolo João também ter registrado algumas referências acerca desse momento, apenas no capítulo 19 é que a revelação se torna mais clara e nos fornece mais detalhes.
Devido as diferentes correntes escatológicas, a festa das Bodas do Cordeiro é também um tema muito discutido entre os cristãos. Neste estudo bíblico, veremos de maneira objetiva o que é esse evento, e quais as diferentes opiniões acerca desse assunto.
As Bodas do Cordeiro e as diferentes correntes escatológicas
Sabemos que o livro do Apocalipse é muito debatido entre os cristãos. Tal debate originou métodos diferentes de interpretação e leitura do livro, o que acaba resultando em diversas opiniões acerca de um determinado assunto. Para saber mais sobre sobre isso, recomendo a leitura dos textos: “Métodos de Interpretação do Apocalipse“e “Leitura de Recapitulação ou de Sucessão em Apocalipse“.
Para se ter uma ideia, até mesmo dentro de uma escola escatológica especifica há discordâncias acerca de vários temas, principalmente com relação aos detalhes secundários.
Para que nosso texto não fique confuso e repetitivo, citarei as principais interpretações acerca das Bodas do Cordeiro, organizando-as em apenas três categorias: posição preterista, posição pré-tribulacionista e posição pós-tribulacionista.
Antes, para quem não sabe, o Pré-Tribulacionismo é a posição que defende um arrebatamento da Igreja antes da grande tribulação. Já o Pós-Tribulacionismo obviamente defende exatamente o contrário. Para entender melhor essa diferença, sugiro a leitura do texto “Pré-Tribulacionismo, Pós-Tribulacionismo e Meso-Tribulacionismo“.
As Bodas do Cordeiro e o Preterismo
A posição preterista, como o próprio nome já indica, entende que praticamente tudo o que é relatado no livro do Apocalipse já se cumpriu, ou seja, está no pretérito.
Entre os preteristas também é comum a fixação da data da escrita do Apocalipse antes de 70 d.C, ao invés de meados de 95 como é mais comum. Para eles, a queda da grande Babilônia e as Bodas do Cordeiro são eventos diretamente ligados a queda de Jerusalém que ocorreu exatamente nesse período.
Por tanto, muitos preteristas defendem que a festa das Bodas do Cordeiro faz referência a eventos que já ocorreram no século 1, embora ela pré-figure de alguma forma a segunda vinda de Cristo. Essa é a interpretação menos conhecida sobre o assunto, e é mais comum entre alguns Pós-Milenistas.
As Bodas do Cordeiro e o Pré-Tribulacionismo
Apesar de ser a mais recente de todas as posições, o Pré-Tribulacionismo é a interpretação predominante entre os evangélicos atuais, conhecido como Pré-Milenismo Dispensacionalista Clássico.
A interpretação dessa visão escatológica acerca das Bodas do Cordeiro defende que tal evento ocorrerá após a primeira fase da segunda vinda de Cristo, ou seja, será o arrebatamento secreto da Igreja antes da grande tribulação.
A sequencia geralmente defendida entre os pré-tribulacionistas é de que, após o arrebatamento, a Igreja passará pelo Tribunal de Cristo onde ocorrerá um julgamento de obras realizadas. Esse julgamento não será para condenação e sim para que os cristãos sejam galardoados.
Após receberem os galardões, ocorrerá então a ceia das Bodas do Cordeiro, com a celebração da grande Ceia do Senhor. Vale a pena dizer que algumas pessoas dentro dessa corrente escatológica defendem que o Tribunal de Cristo ocorrerá nas Bodas do Cordeiro, enquanto outros acreditam que a ordem será inversa, ou seja, primeiro as Bodas e depois o Tribunal de Cristo. Como já disse antes, essa diferença ocorre devido ao fato de que dentro dessa posição escatológica existem diferentes opiniões entre seus adeptos.
Outro ponto de discussão dentre os defensores do Pré-Tribulacionismo acerca das Bodas do Cordeiro é sobre quem poderá participar desse evento. Alguns defendem que somente os santos que fizeram parte da Igreja. Logo, os santos do Antigo Testamento não participarão.
Outros defendem que os santos do Antigo Testamento não participarão como noiva, mas estarão presentes como convidados. Por fim, a quem defenda que todos os santos, de todos os tempos, inclusive do Antigo Testamento, participaram desse evento como noiva, ou seja, como Igreja de Cristo.
Há também quem afirme que a Ceia do Senhor e a festa de casamento serão momentos distintos, onde o primeiro ocorre no céu e o segundo na terra. Essa “confusão interna” ocorre pelo fato de que o Pré-Tribulacionismo Dispensacionalista estabelece uma distinção entre Israel e Igreja, além de haver diferentes definições entre seus adeptos acerca do número de ressurreições que esse sistema exige.
Para os pré-tribulacionistas, a festa das Bodas do Cordeiro durará sete anos, o que corresponde ao período de grande tribulação que estará assolando a terra, ou seja, as Bodas do Cordeiro e a grande tribulação ocorrerão simultaneamente.
Ao final dos sete anos das Bodas, Cristo voltará mais uma vez (segunda fase da segunda vinda de Cristo), porém agora visivelmente e acompanhado pela Igreja e os anjos. Geralmente o período de “sete anos” é defendido utilizando referências do livro de Daniel (As Setenta Semanas de Daniel) e do livro do Apocalipse. Alguns também se apoiam na ideia de que geralmente as bodas de um casamento judaico duravam sete dias.
As Bodas do Cordeiro e o Pós-Tribulacionismo
O Pós-Tribulacionismo basicamente defende que a festa das Bodas do Cordeiro ocorrerá na segunda vinda de Cristo, o momento do encontro entre o Noivo e a noiva após o período de grande tribulação, o qual Cristo destruirá o Anticristo.
Nessa posição escatológica, as Bodas do Cordeiro será a consumação do relacionamento de Cristo com Sua Igreja, onde não durará apenas sete anos, mas se estenderá por toda a eternidade.
Essa posição é bem mais simples do que a anterior, e é defendida por Amilenistas e, com algumas modificações, por Pré-Milesnistas Históricos. Parte dos Pós-Milenistas também entendem dessa forma.
Caso queira entender melhor os termos utilizados acima, leia o texto “Diferenças entre Amilenismo, Pré-Milenismo Histórico, Pós-Milenismo e Dispensacionalismo“.
Qual a interpretação mais coerente sobre as Bodas do Cordeiro?
Sabemos que a escatologia não é um tema dos mais fáceis. Há diferentes opiniões e posicionamentos sobre o assunto, portanto devemos respeitar quem pensa diferente da posição que defendemos.
A Bíblia em diversas passagens descreve o relacionamento entre Jeová e Seu povo, ou entre Cristo e Sua Igreja, sob o aspecto do relacionamento que há entre o noivo e a noiva (cf. Is 50; 54; Ef 5:32; Ap 21:9).
Para compreendermos melhor esse assunto, é importante conhecermos um pouco mais sobre como ocorria o casamento judaico:
- Primeiro havia um contrato de casamento, um compromisso muito mais sério do que o noivado que conhecemos na atualidade. Na presença de testemunhas, os termos do casamento eram apresentados e aceitos e, então, a benção de Deus era declarada sobre a união. A partir desse momento o noivo e a noiva já eram legalmente casados.
- Depois disso, ocorria um período de intervalo entre o contrato de casamento e a festa de casamento. Era geralmente nesse intervalo que o noivo pagava um dote ao pai da noiva (se ainda não tinha sido pago na cerimônia de contrato).
- No final do período de intervalo, acontecia uma procissão. Na ocasião a noiva se preparava e se adornava. Então o noivo, vestido adequadamente e, acompanhado por seus amigos que cantavam e carregavam tochas acessas, se dirigia até o local onde o contrato havia sido firmado (geralmente a casa da noiva).
- Então o noivo recebia a noiva e a conduzia, ainda em procissão, à sua própria casa ou à casa dos seus pais. Muitas vezes as bodas ocorriam entre a casa dos pais do noivo, a casa da noiva, e a futura casa do casal. As bodas, que incluía a ceia, duravam entre sete e quatorze dias. Uma referência clara aos costumes do casamento judaico pode ser encontrada na Parábola das Dez Virgens (Mt 25).
Agora podemos claramente perceber a comparação que há entre as bodas de um casamento judaico e a relação entre Cristo e Sua Igreja. O contrato de casamento já está firmado. Cristo, o Noivo, já pagou o dote por Sua noiva, derramando Seu próprio sangue. Já está tudo oficializado, e isso é irrevogável.
Agora estamos no intervalo, que é o período entre a ascensão de Cristo ao céu e Sua segunda vinda. É nesse período que a noiva se prepara, se adorna, e se veste de linho fino, ou seja, seu caráter é santificado, ela está vestida de justiça, suas vestes foram lavadas no sangue do Cordeiro. Sua justificação é puramente pela graça soberana de Deus.
A noiva do Cordeiro é santa, fiel, e espera pacientemente pelo fim do intervalo e, ansiosa, tem a certeza da vinda do Noivo. Quando o período de intervalo chegar ao fim, o Noivo virá para receber a Sua noiva, acompanhado por anjos de glória. Então a festa de casamento começará.
O versículo 7 do capítulo 19 do livro do Apocalipse se refere exatamente a esse momento glorioso: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou“.
É importante notar a forma com que o Apóstolo João organizou esse texto no conteúdo do livro. O Apocalipse é organizado em sete seções paralelas e progressivas, ou seja, ele conta a mesma história várias vezes, porém em cada uma delas a narrativa vai ficando mais intensa, mais clara e detalhada. Saiba mais sobre isso no texto “Como estudar o livro do Apocalipse?“.
Os capítulos 17, 18 e 19 formam a sexta seção paralela do Apocalipse. Perceba o contraste tão característico desse livro. Nos capítulos 17 e 18 temos a descrição da queda da Grande Babilônia, a mãe das meretrizes.
Já no capítulo 19 essa descrição continua, porém agora temos os detalhes de dois banquetes: o banquete do casamento entre a noiva e o Cordeiro (vers. 1-9), e o banquete da queda da prostituta e dos agentes do Dragão (vers. 17,18). De um lado vemos o céu em grande exultação, participando das Bodas do Cordeiro, e do outro vemos um grande terror, com as aves sendo convidas a comerem a carne dos adoradores da besta, aqueles que foram seduzidos pela prostituta. Enquanto a noiva é honrada, a prostituta é julgada. Enquanto a prostituta diz “Ai” a Igreja diz “Aleluia”.
Particularmente não consigo concordar com a ideia de que as Bodas do Cordeiro durarão apenas sete anos. Esse não é o objetivo do relato da revelação que o Apóstolo João teve, ao contrário, aqui temos a nítida certeza de que essa festa durará para sempre, a comunhão sem igual entre o Redentor e Seus redimidos nunca mais terá fim.
Esse é o momento da grande vitória do Cordeiro de Deus, é o clímax da História, uma História que começou com a noiva sendo escolhida em Cristo desde a eternidade. Durante toda a dispensação do Antigo Testamento essa grande festa foi anunciada. Então Jesus veio, pagou o dote e comprou Sua noiva. Agora resta apenas esse momento tão esperado, onde haverá a completa realização de todas as promessas de Deus.
As Bodas do Cordeiro deve ser o momento mais aguardado por todos os verdadeiros seguidores de Cristo, independente da posição escatológica adotada. Apesar de haver diferentes opiniões, a verdade é que essa festa não será cancelada, e esse grande dia chegará, onde nosso Noivo virá e separará as ovelhas dos bodes, o trigo do joio, os santos dos ímpios. E você? Está preparado para esse momento? De qual banquete você participará?
O ESTUDO ME EDIFICOU MUITOOOOOO…… Glória à Deus.