O Que Significa “De Graça Recebestes, de Graça Dai”?

A frase “de graça recebestes, de graça dai” significa em linhas gerais que os seguidores de Cristo não devem comercializar o poder que receberam da parte do Senhor para anunciar o Evangelho. Pela graça, o Reino de Deus – e todas as bênçãos envolvidas nele – é recebido pelos crentes gratuitamente, e estes não podem oferecê-lo como um tipo de mercadoria.

Mas essa frase precisa ser interpretada à luz do seu contexto para que dela não se tirem falsas conclusões. Embora essa frase possua um princípio válido a ser aplicado à vida cristã em geral, antes ela faz parte das instruções do Senhor Jesus aos seus doze discípulos. Ao comissioná-los a uma tarefa missionária, Jesus lhes disse: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8).

Jesus estava enviando seus discípulos para um percurso missionário. Nessa missão eles seriam seus embaixadores ou literalmente seus apóstolos, isto é, seus enviados a cumprir um propósito particular. Então o Senhor Jesus instruiu os discípulos acerca de como eles tinham de se portar – incluindo o que fazer, aonde ir, o que proclamar, o que levar na missão e onde se hospedar (Mateus 10:5-14).

De graça recebestes, de graça daí

O significado bíblico básico da palavra “apóstolo” indica uma pessoa enviada na qualidade de representante oficial daquele que lhe envia. Para tanto, o enviado precisar ser investido de autoridade pelo seu mandatário. É importante entender isso para que se faça uma interpretação correta da ordem: “de graça recebestes, de graça dai”.

A Bíblia diz que quando Jesus chamou os seus discípulos, Ele “deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e todo mal” (Mateus 10:1). Isso explica por que depois o Senhor Jesus os enviou numa missão cuja proclamação do Reino de Deus seria acompanhada de certos milagres, tais como: a cura de enfermidades, expulsão de demônios e até ressurreição de mortos (Mateus 10:7,8).

Isso quer dizer que Jesus já havia dado aos Doze poder especial e autoridade para fazer tais coisas. Eles tinham recebido esse poder de graça, e agora pela graça estavam sendo chamados a aplicar, eles mesmos, esse poder. Na condição de enviados oficiais do Mestre, os apóstolos foram capacitados a realizar os mesmos tipos de milagres que Jesus já havia realizado diante deles (Mateus 8-9).

Naquele contexto esses milagres faziam parte das credenciais apostólicas e apontavam para a legitimidade divina do Evangelho que estava sendo anunciado (cf. Atos 2:43; 5:12; 2 Coríntios 12:12; Hebreus 2:1-4). A Bíblia mostra claramente que os apóstolos cumpriram a comissão que Jesus lhes deu. Isso aconteceu não somente naquela viagem que se resumiu apenas ao território de Israel, mas também nos atos posteriores à ressurreição e ascensão de Jesus ao Céu, quando os apóstolos lideraram a proclamação do Evangelho e a expansão da Igreja no primeiro século.

No entanto, tudo isso tinha que ser feito gratuitamente. Jesus ordenou que o ministério dos apóstolos no Reino de Deus jamais poderia ser desempenhado por ambição e retornos financeiros. Por isso Ele lhes disse: “de graça recebestes, de graça dai”. Tamanho poder que receberam chamaria atenção a ponto de haver quem tivesse disposto a comprá-lo. Isso de fato aconteceu quando Simão, o mágico, tentou comprar com dinheiro o dom de Deus (Atos 8:18).

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O trabalhador é digno do seu sustento

A declaração: “de graça recebestes, de graça daí”, não significa uma proibição que impede que as pessoas que se dedicam em tempo integral ao ministério do Evangelho, recebam alguma compensação financeira para suprir suas necessidades. Usar a frase “de graça recebestes, de graça daí” dessa forma, é tirá-la de seu contexto e propósito.

A prova disso é que logo após dizer essas palavras, o Senhor Jesus ressaltou que seus apóstolos não precisariam fazer provisões financeiras para a viagem, pois era lícito que eles recebessem apoio das pessoas que haveriam de abraçar a verdade do Evangelho. Por isso Jesus disse: “Pois o trabalhador é digno do seu sustento” (Mateus 10:10).

Do Antigo ao Novo Testamento a Bíblia confirma que aqueles que dedicam suas vidas de forma especial ao serviço de Deus, devem tirar seu sustento do fruto do seu trabalho (Deuteronômio 25:4; 1 Coríntios 9:7-14; 1 Tessalonicenses 2:9; 2 Tessalonicenses 3:7-9). O apóstolo Paulo ensina que o ministério da pregação e do ensino do Evangelho é tão sublime que os obreiros que se ocupam dele são dignos de honorários dobrados (1 Timóteo 5:17,18).

Os limites da compensação pelo ministério

Conforme fica claro, é justo que as pessoas envolvidas exclusivamente com a obra do Senhor recebam algum apoio para suprir suas necessidades. Então é bíblico, por exemplo, que um escritor cristão ou um professor de seminário possa sustentar sua família vendendo materiais que auxiliam o estudo bíblico da Igreja. Bem como também é correto que alguém que se dedica totalmente a pastorear uma comunidade cristã possa tirar seu sustento de sua atividade.

Ainda podemos citar aqui o nosso próprio exemplo. Diariamente temos disponibilizado milhares de estudos bíblicos totalmente gratuitos para abençoar a Igreja de Cristo. Tudo isso demanda horas de dedicação em oração e estudo. Então você também não estaria lendo este texto se não fosse pelo apoio de irmãos em Cristo que têm sustentado generosamente o nosso trabalho comprando alguns dos nossos materiais.

Mas por outro lado há também os aproveitadores que são verdadeiros profissionais da fé. São pessoas gananciosas que querem explorar as pessoas em nome de Deus.

Diferentemente do apóstolo Pedro que repreendeu a Simão quando este tentou comprar o dom de Deus com dinheiro, essas pessoas vivem buscando a quem possa pagar por seus dons. Elas cobram para orar por alguém; estipulam tabelas de preço para pregar o Evangelho num culto, prometem supostos milagres para quem contribuir com suas campanhas, e outras coisas mais.

Por isso a ordem: “de graça recebestes, de graça daí” não é uma reprovação ao sustento do obreiro íntegro e fiel. Ela é uma advertência de que a mensagem da graça jamais pode ser vista como um produto a ser comercializado num mercado lucrativo; bem como os dons de Deus não podem ser usados para saciar a ganância humana de fazer fortuna. Quem age assim é um obreiro fraudulento e mercenário (cf. João 10; 1 Timóteo 3:8; 2 Pedro 2:3).

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