Qual o Significado de Filactérios na Bíblia?

Os filactérios nos tempos bíblicos eram pequenos recipientes cúbicos feitos de couro que eram atados à testa e ao braço esquerdo dos homens judeus. O significado de filactérios, que é uma transliteração de um termo grego, comunica a ideia de “proteção” ou “amuleto”.

Por conta desse significado, muitos estudiosos consideram que a designação “filactérios” não é a mais apropriada para se referir a esses elementos da tradição judaica. Na verdade, os filactérios armazenavam quatro passagens da Torah e eram usados pelos judeus durante as orações como um tipo de lembrete. Por isso a designação original dessas caixas de orações era tefilin, que significa literalmente “orações”.

Seja como for, a palavra “filactérios” acabou se tornando muito popular e passou a ser utilizado na maioria das traduções bíblicas do único versículo do Novo Testamento que faz referência a esse costume (Mateus 23:5). Inclusive, desde a Vulgata — tradução da Bíblia para o latim — a transliteração do grego phylakterion foi preservada.

Como eram os filactérios?

Os filactérios eram feitos de couro preto costurados no formato de um pequeno estojo. O tamanho dos filactérios variava, mas geralmente ficavam abaixo dos quatro centímetros de largura.

Os filactérios eram presos no homem judeu através de tiras de couro. Uma caixa era presa no braço esquerdo na direção do coração. Já a outra caixa era colocada na cabeça, de modo que ficasse no centro da testa, entre os olhos.

Os versos da Lei que eram guardados nos filactérios eram: Êxodo 13:1-10, Êxodo 13:11-16, Deuteronômio 6:4-9 e Deuteronômio 21:13-21. Também havia uma diferença entre os dois filactérios.

O filactério da cabeça possuía quatro compartimentos que guardavam de forma individual cada uma dessas passagens da Escritura registradas em pedaços separados de pergaminhos. Já o filactério da mão, não tinha nenhuma divisão interna, e armazenava as quatros passagens do Pentateuco num único pedaço de pergaminho.

A forma como os filactérios eram costurados fazia referência às doze tribos de Israel. Além disso, a palavra Shaddai, que designa Deus no Antigo Testamento como o “Todo-Poderoso”, era formada através de uma combinação entre as letras hebraicas que eram inscritas nos lados dos filactérios e o formato dos nós das tiras que prendiam os filactérios ao corpo.

Qual a origem dos filactérios?

É difícil saber quando teve origem o uso dos filactérios. Como não há qualquer indício de que os samaritanos alguma vez usaram filactérios, então alguns eruditos acreditam que o uso deles teve início depois do surgimento das disputas entre judeus e samaritanos.

Por outro lado, tradições judaicas afirmam que o uso dos filactérios foi algo ordenado desde o tempo de Moisés através das leis orais. De qualquer forma, certamente o uso dos filactérios teve origem bem antes dos dias do Novo Testamento. Isso porque eles já eram conhecidos como uma prática antiga desde o período intertestamentário. É dessa forma que os filactérios são mencionados na Carta de Aristeas — um documento escrito no primeiro século antes de Cristo.

Além disso, no Novo Testamento o Senhor Jesus fala do uso dos filactérios de um modo que indica que o seu uso já era uma prática muito conhecida e consolidada entre os judeus — especialmente os fariseus. Também no primeiro século, o historiador judeu Flávio Josefo fez referência ao uso dos filactérios em sua obra Antiguidades Judaicas. Ainda hoje o uso dos filactérios é uma prática observada pelos judeus ortodoxos.

Mas embora a origem exata dos filactérios seja impossível de ser comprovada, claramente a base para uso dos filactérios também tinha a ver com uma interpretação literal por parte dos judeus das próprias passagens da Torah que eram armazenadas nos filactérios.

Basicamente essas quatro passagens da Escritura falam sobre princípios que tinham de ser lembrados de geração em geração, como sinais da revelação de Deus. Nesse ponto, as passagens bíblicas dizem que esses princípios tinham de ser postos por sinal sobre mão e por lembrança frontal entre os olhos (Êxodo 13:9,16; Deuteronômio 6:8; 11:18).

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Jesus condenou o uso dos filactérios?

No Novo Testamento, o Senhor Jesus censurou os escribas e fariseus que aumentavam seus filactérios (Mateus 25:3). Mas o objetivo de Jesus não era necessariamente condenar o uso dos filactérios.

Embora pessoas supersticiosas entre os judeus provavelmente tivessem feito dos filactérios um tipo de amuleto, na tradição judaica os filactérios eram simplesmente memoriais para que a Lei de Deus fosse observada, agindo pelo impulso da gratidão em virtude de seus maravilhosos feitos no interesse de seu povo (Hendriksen, 1981).

Mas a questão dos escribas e fariseus era completamente outra. Na verdade, de acordo com as palavras de Jesus, fica claro que os escribas e fariseus usavam os filactérios como um meio de ostentação. Eles queriam mesmo era visibilidade; eles queriam ser reconhecidos pelos homens por suas supostas obras notáveis.

Então ao que parece, eles alargavam seus filactérios para que pudessem se exibir como rigorosos observadores da Lei de Deus. A ideia era que todos notassem o quão piedosos e comprometidos com os mandamentos do Senhor eles eram. Mas tudo isso não passava de aparência de piedade, ou seja, isso era apenas uma expressão externa de uma religiosidade hipócrita. Por isso eles foram reprovados por Jesus.

A interpretação cristã, no entanto, sempre considerou que as passagens usadas nos filactérios tinham de ser interpretadas de forma figurativa. Isso quer dizer que na exegese cristã, não se espera que o crente amarre literalmente trechos da Escritura em sua cabeça e em seu braço. Nesse ponto, o que é requerido é que a Palavra de Deus seja a base que orienta todos os pensamentos e ações do crente.

Inclusive, é assim que no livro do Apocalipse o apóstolo João parece empregar esses conceitos ao falar da marca dos eleitos de Deus em contraposição à marca dos adoradores da besta (Apocalipse 7:3; 14:1; cf. Apocalipse 13:16-18).

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