Por Que Judas Iscariotes Traiu Jesus?

Muitas pessoas se perguntam por que Judas Iscariotes traiu Jesus, e as mais variadas respostas têm sido dadas. Alguns argumentam que Judas não aceitou o caráter espiritual do reino estabelecido por Jesus, e tentou forçá-lo a assumir seu poder, declarando-se publicamente como Messias, no sentido nacionalista, e governar a nação.

Outros sugerem que ele apenas estava tentando proteger Jesus de suas próprias pretensões messiânicas, isto é, um tipo de amigo tentando proteger o outro. Há também quem afirme que Judas Iscariotes traiu Jesus motivado por suas ambições frustradas de que teria parte num futuro governo terreno estabelecido pelo Messias, e quando descobriu que isso não aconteceria, frente aos seus anúncios de morte iminente, com seu orgulho ferido resolveu trair o Senhor.

Ainda há aqueles que defendem que Judas Iscariotes era uma pessoa simplesmente impotente diante do papel que lhe havia sido determinado, e assim quase que o eximem da culpa de ter traído Jesus. Na verdade alguns o isentam totalmente dessa culpa, chegando, inclusive, a elegê-lo como um tipo de santo ou herói que no final acabou sendo salvo. Saiba mais sobre se Judas foi salvo.

Por que Judas traiu Jesus?

Antes de tentarmos entender por que Judas traiu Jesus, precisamos considerar a forma com que os textos bíblicos se referem a ele. Sem hesitação, os escritores bíblicos o designam como “ladrão”, “traidor” e alguém que foi instrumento nas mãos do diabo (João 6:70,71). O próprio Jesus o menciona como “o filho da perdição” (João 17:12).

Logo, sem dúvida no ato da traição estavam inclusos os traços de seu caráter reprovado, como sua ambição, frustração, egoísmo, avareza, cobiça e orgulho, mas certamente podemos dizer que todas essas sinistras características convergiam na terrível impenitência daquele traidor.

Aparentemente Judas estava tão próximo de Jesus, mas na realidade havia uma distância tão grande entre eles. Ele nunca creu no Senhor (João 6:64), sua máxima devoção foi apenas enxergá-lo como um professor (Mateus 26:25).

O pastor William Hendriksen, em seu comentário do Novo Testamento, observa que “entre o coração egoísta de Judas e o coração infinitamente generoso de Jesus havia um abismo tão imenso, que ou Judas teria de implorar ao Senhor que lhe outorgasse a graça da regeneração e a plena renovação, pedido que o traidor perversamente se negou a fazer, ou teria de oferecer sua colaboração para se ver livre de Jesus”.

Diante de toda essa impiedade, naturalmente surge uma dúvida: poderia ele ter agido diferente? E essa dúvida nos leva ao próximo ponto que precisamos considerar.

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Judas foi predestinado a trair Jesus?

A resposta para essa pergunta precisa ser entendida sob dois aspectos: a soberania divina e a responsabilidade humana. Combinado a tudo o que foi dito sobre o caráter de Judas Iscariotes, também é verdade que no Antigo Testamento encontramos profecias acerca da pessoa que haveria de trair Jesus Cristo, e do próprio ato da traição (Salmos 41:9; 55:12-14; Zacarias 11:12; cf. Salmos 69:25, 109:8; Atos 1:16-20), e nesse caso, o Novo Testamento nos revela que Judas Iscariotes foi essa pessoa.

O próprio Jesus mencionou tais profecias ao dizer: “O Filho do Homem vai segundo o que está determinado” (Lucas 22:22; cf. Mateus 26:24). Ao dizer isto, Jesus está dizendo que tudo o que lhe estava ocorrendo, inclusive sua traição, prisão e morte, está integralmente de acordo com o decreto eterno de Deus.

Se o versículo terminasse aqui, talvez alguém pudesse até tentar advogar a inocência de Judas frente à soberania de Deus, mas não é isso o que acontece. Na mesma frase em que Jesus aponta para os decretos eternos de Deus revelados através das Escrituras, Ele também trata de apontar de forma clara e indiscutível para a responsabilidade humana: “Mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído” (Lucas 22:22).

O texto em Mateus ainda acrescenta algo mais: “Bom seria para esse homem se não tivesse nascido” (Mateus 26:24). Tamanha foi a culpa de Judas que, a única maneira de ele não ter sido culpado, seria se ele não tivesse nascido. Mas ele nasceu, traiu Jesus e cumpriram-se as Escrituras.

Sim, por mais que não consigamos entender como pode ser possível, a verdade bíblica é a de que Deus é soberano e o homem é responsável. A soberania de Deus e a responsabilidade humana são duas verdades que não se anulam, ao contrário, elas andam juntas nas Escrituras.

Podemos dizer que Judas agiu livremente dentro de sua depravação, ele foi tão livre quanto pôde ser dentro do que sua natureza caída lhe possibilitava. Por sua própria ignorância ele resolveu não reconhecer um ato de adoração sincera (João 12:4,5), por sua própria escolha ele resolveu roubar os recursos que lhes tinham sido confiado (João 12:6), bem como por sua própria responsabilidade ele foi capaz de trair Jesus.

Portanto, a predestinação divina, com relação a tudo o que ocorreu, não privou Judas Iscariotes de um caminho de arrependimento, apenas o confirmou em seu próprio caminho, um caminho mal e perverso. Sim, o pecador não pode culpar a predestinação divina por sua condenação ao inferno, mas sim sua própria vida de pecado (cf. Romanos 9:19,20).

Judas estava tão consciente de sua atitude que, mesmo ouvindo de Jesus as duras palavras acerca da pessoa a qual o haveria de trair, ele não desistiu de seu plano, ao contrário, com uma assombrosa hipocrisia ele ainda tem a desfaçatez de perguntar: “Porventura sou eu, Rabi?” (Mateus 26:25).

Portanto, Jesus foi traído porque assim foi determinado por Deus desde a eternidade, e Judas o traiu porque foi uma pessoa perversa que rejeitou a revelação de que Cristo é o Filho do Deus vivo, e instigado pelo Diabo, ele não se importou em entregar Jesus por trinta moedas de prata. Dessa forma, ele foi plenamente responsável por suas ações e certamente será punido por toda a eternidade.

Algumas pessoas perguntam: Poderia ter sido outra pessoa e não Judas? A resposta é um definitivo “não”. Aliás, não há como responder a essa pergunta de outra forma sem que subestimemos ou mesmo afrontemos os atributos de Deus.

Como poríamos dizer que Deus é soberano e onisciente, de tal forma que decretou aquele momento da traição, a qual se cumpriu meticulosamente conforme foi determinado, e ao mesmo tempo acreditar que a identidade do traidor não havia sido contemplada em seu decreto, ou mesmo que tal identidade lhe era desconhecida?

A menos que afirmemos que Deus abriu mão dos atributos da onisciência e onipotência com relação a esse ponto, tal afirmação é completamente ilógica. Como não ousaria, jamais, ao menos supor que em algum momento o único Deus verdadeiro, criador de todas as coisas, se tornou menos divino ao abrir mão de seus atributos, prefiro, sem sombra de dúvida, mesmo que seja difícil entender, acreditar que nada, nenhum detalhe, nem mesmo a pessoa de Judas, tenha fugido do controle daquele que tem todo poder.

O apóstolo João escreveu: “Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que haveria de o entregar” (João 6:64). Perceba que se afirmarmos que poderia ter sido outra pessoa, e não Judas, precisamos também afirmar a possibilidade de Jesus ter se enganado. Sim, para não ter sido Judas, o próprio Jesus teria que ter errado, mas ele sabia, sem qualquer possibilidade de erro, “quem era o que haveria de o entregar”.

Assim, Judas traiu Jesus porque para ele, um pecador impenitente, a vida do Filho de Deus valia simplesmente 30 moedas de prata, curiosamente uma quantia talvez até dez vezes menor do que o valor do unguento derramado por uma verdadeira seguidora de Cristo em seu ato de sublime devoção (João 12:5).

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