Maria Teve Outros Filhos ou Permaneceu Virgem?

Alguns cristãos defendem que Maria teve outros filhos além de Jesus, enquanto outros defendem sua virgindade perpétua. Aqueles que pensam que Maria teve outros filhos, apontam para as passagens bíblicas que falam, principalmente, sobre os irmãos de Jesus. Já aqueles que defendem que Maria permaneceu virgem, dizem que as passagens bíblicas sobre esse assunto não são conclusivas.

Na verdade a virgindade perpétua de Maria já era defendida por tradições cristãs muito antigas. Na atualidade, a discussão sobre se Maria teve outros filhos se apresenta polarizada entre católicos e protestantes. Mas também é verdade que existem particularidades nessa questão que nem todos conhecem.

O debate sobre se Maria teve outros filhos vem desde os primeiros séculos do Cristianismo. Esse debate data do período dos pais da Igreja. Nessa época muitos dos líderes cristãos passaram a defender enfaticamente que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus. O principal objetivo disso era combater os hereges que atacavam a divindade de Cristo. É por isso que existem materiais dos primeiros séculos da Igreja Cristã que afirmam a virgindade perpétua de Maria. Saiba mais sobre quem foi Maria, mãe de Jesus.

A virgindade de Maria e sua suposta impecabilidade

Com o tempo, a virgindade de Maria passou, sobretudo, a ser utilizada para defender um suposto estado de impecabilidade dela. Sobre isso, o que se pode dizer é que a Bíblia é extremamente clara ao afirmar que todos pecaram, sem nenhuma exceção (Romanos 3:23).

Não há qualquer passagem bíblica que diz que Maria estava à parte do Pecado Original. Além disso, a Bíblia também afirma que Jesus é o único em quem nunca se achou pecado (Hebreus 4:15; 7:26; 1 Pedro 2:21-25). Por isso importantes teólogos católicos da Idade Média também rejeitaram a impecabilidade de Maria.

Mas também é verdade que nem todas as pessoas que ao longo da história do cristianismo defenderam a virgindade perpétua de Maria, o fizeram com o propósito de divinizá-la de alguma forma ou de reconhecê-la como imaculada. Como já foi dito, muitos cristãos desde os tempos dos pais da Igreja, defenderam a virgindade perpétua de Maria preocupados com a glória de Cristo.

Além do mais, defender a virgindade perpétua de Maria apenas sob essa ótica da impecabilidade não faz qualquer sentido. Isso porque a relação sexual dentro do matrimônio nunca é identificada como um ato pecaminoso nas Escrituras.

Na verdade o sexo foi criado por Deus e permitido como uma bênção do matrimônio antes mesmo da Queda do Homem (Gênesis 1:28; 9:1; 24:60; Provérbios 5:18; Salmos 127:3; 1 Coríntios 7:5,9). Da mesma forma, o celibato jamais é exaltado como sendo uma condição que confere maior santidade a alguém. Muito pelo contrário! No contexto matrimonial o celibato é explicitamente reprovado (1 Coríntios 7:3-5).

A Bíblia diz que Maria permaneceu sempre virgem?

A Bíblia afirma incontestavelmente que até o nascimento de Jesus Maria permaneceu virgem. Essa, aliás, é uma das doutrinas mais importantes da Fé Cristã; essa doutrina trata da encarnação do Filho de Deus através de uma concepção miraculosa.

Mas não há um versículo bíblico que afirma que Maria permaneceu virgem após o nascimento de Jesus. Nos Evangelhos, a única afirmação explicita que encontramos sobre a situação matrimonial de Maria está registrada em Mateus 1:25. O escritor bíblico diz que José levou Maria para sua casa como esposa, “porém não a conheceu até que deu à luz um filho”.

A palavra original traduzida como “conheceu” é o grego ginosko, que no presente contexto significa uma expressão idiomática para se referir à relação sexual entre homem e mulher. Isso implica que o texto está dizendo literalmente que José não teve relações sexuais com Maria até o nascimento de Jesus.

Uma leitura natural do texto parece indicar que José e Maria tiveram uma vida matrimonial normal após o nascimento de Cristo. Todavia, vale dizer que a partícula traduzida como “até” nem sempre significa um acontecimento que altera a condição anterior da oração, que nesse caso é a castidade de Maria. Por isso alguns estudiosos dizem que é melhor considerar que esse texto sugere naturalmente, e não certamente, que Maria não permaneceu virgem após o nascimento de Jesus.

Por tanto, esse texto não deve ser utilizado como o único argumento para contestar a ideia de que Maria não teve outros filhos. Na verdade ele deve ser usado em harmonia com outras passagens bíblicas que lançam luz sobre esse tema. Essas outras passagens são aquelas que falam dos irmãos e irmãs de Jesus.

Outros filhos de Maria?

As passagens bíblicas que falam sobre os irmãos de Jesus sempre são alvos de diferentes interpretações (cf. Mateus 12:46,47; Marcos 3:31,32; Lucas 8:19,20; João 2:12; 7:3-10; Atos 1:14; 1 Coríntios 9:5). Algumas dessas passagens mostram esses irmãos juntos de Maria. Inclusive esses irmãos são citados nominalmente, e os escritores bíblicos ainda fazem referências à suas irmãs (Mateus 13:55,56; Marcos 6:3).

Alguns dizem que os irmãos de Jesus eram seus primos, amigos ou até irmãos de criação, talvez filhos apenas de José. A questão é que todas essas interpretações possuem suas fraquezas. Além do mais, quando contrastadas com outras passagens bíblicas elas se mostram pouco prováveis. Gramaticalmente a melhor interpretação é a de que os textos realmente falam de irmãos que pertenciam ao mesmo núcleo familiar. Saiba mais sobre isso num estudo sobre os irmãos de Jesus.

Então vimos que Mateus escreve que José não conheceu Maria até o nascimento de Jesus. Vimos também que essa passagem isolada não é conclusiva. Lucas também escreve que Jesus era o primogênito de Maria (Lucas 2:7). A explicação natural dessa expressão indica que após dar à luz a Jesus, Maria teve outros filhos, apesar de essa passagem também não ser absolutamente conclusiva sobre o assunto. Mas combinando tudo isso, parece que existem mais evidências a favor de que Maria teve outros filhos do que contra.

Os outros filhos de Maria e as tradições cristãs

Como todos sabem, a Teologia Católica nega que Maria teve outros filhos além de Jesus. Geralmente os comentaristas católicos adotam aquelas posições que dizem que os irmãos de Jesus eram seus parentes ou amigos próximos. A minoria deles prefere dizer que os irmãos de Jesus poderiam ser filhos de José, frutos de um relacionamento anterior. Conheça também a história de José, o pai adotivo de Jesus.

Na atualidade, dentro da Teologia Reformada a grande maioria dos estudiosos afirma que Maria teve outros filhos. Mas alguns dos reformadores e outros líderes cristãos da Igreja Reformada em seus primeiros anos, também não ensinavam que Maria teve outros filhos.

Por isso alguns ramos cristãos de tradição luterana, por exemplo, ainda negam que Maria teve outros filhos. Esse posicionamento reflete a própria opinião de Lutero sobre o assunto. Ulrico Zuínglio também pensava de forma semelhante. Talvez por isso a Segunda Confissão Helvética cita sutilmente o conceito da virgindade permanente de Maria.

Já João Calvino não se preocupou em fazer um posicionamento exaustivo sobre o assunto. Parece que ele também pensava que as referências de Mateus 1:25 e Lucas 2:7 não eram conclusivas para afirmar ou negar que Maria teve outros filhos. Ele entendia que a Bíblia afirma claramente que até o nascimento de Jesus Maria continuou virgem. Após isso, basicamente Calvino dizia que não era possível afirmar o que realmente aconteceu, se Maria teve outros filhos ou não.

Em resumo, o que pode ser dito é que considerando unicamente as passagens bíblicas do Novo Testamento, parece que a interpretação de que Maria teve outros filhos se apresenta naturalmente como mais provável. Definitivamente nenhum texto bíblico pode ser usado para dizer que Maria continuou sempre virgem. Mas sem dúvida essa é uma discussão irrelevante para a base da Fé Cristã. O importante é saber sobre o filho primogênito de Maria, Jesus Cristo, concebido miraculosamente e nascido de uma virgem.