O Que é o Novo Testamento?
O Novo Testamento é a segunda parte da Bíblia Sagrada que registra a história da redenção a partir da vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo. A expressão “Novo Testamento” vem de uma designação grega que pode ser melhor traduzida por “Nova Aliança”.
Aqui vale lembrar que a Bíblia Cristã é dividida em duas porções: Antigo e Novo Testamentos. O Antigo Testamento é a porção que corresponde à Bíblia hebraica, e diz respeito ao antigo pacto de Deus com o seu povo escolhido. Logo, o Novo Testamento é a porção que traz o novo pacto firmado por Deus com a humanidade na pessoa de Cristo.
Em certo sentido, há um contraste entre o Antigo e o Novo Testamento, mas isso não quer dizer que há uma contradição entre um e outro. Esse contraste implica no fato de que o Novo Testamento traz a aliança de Deus com o homem sob uma nova forma. Em outras palavras, o Novo Testamento se mostra ser o cumprimento do Antigo Testamento.
Isso fica muito claro no episódio em que Jesus instituiu a Ceia do Senhor como ordenança para sua Igreja. Naquela ocasião, Jesus falou da nova aliança como sendo a nova base do relacionamento entre o homem e Deus, estabelecida através de sua obra redentora (Lucas 22:20; 1 Coríntios 11:25).
Essa nova aliança, no entanto, só faz sentido se for tomada como cumprimento da antiga aliança, já que ela apresenta um sacrifício perfeito e definitivo que é adequado para resolver o problema do pecado de uma vez por todas, e que foi apenas prenunciado no antigo pacto através de seu sistema sacrifical transitório (Hebreus 9:11-22; 10:16-25; cf. Jeremias 31:31-34).
Quem escreveu o Novo Testamento?
Algumas das pessoas que escreveram os livros do Novo Testamento foram testemunhas oculares do ministério do Senhor Jesus Cristo. Já outras pessoas, foram contemporâneas e associadas àquelas que foram testemunhas oculares.
Então alguns dos escritores do Novo Testamento foram apóstolos que pertenceram ao grupo dos doze discípulos de Jesus, como Pedro, João e Mateus. Outros, no entanto, viveram naquele mesmo período, mas não acompanharam o ministério de Jesus.
O evangelista Marcos, por exemplo, segundo uma antiga tradição teria sido um jovem nos dias do ministério de Jesus, mas não foi alguém que se envolveu de forma ativa com ele. Algo semelhante também pode ser dito sobre Tiago e Judas, que acredita-se que foram irmãos de Jesus e, portanto, foram pessoas que conviveram com o Senhor, mas não foram citadas como seus seguidores durante seu ministério.
O apóstolo Paulo, que é o maior escritor no Novo Testamento, também foi contemporâneo de Jesus, mas não acompanhou seu ministério. Na verdade, Paulo de Tarso aparece primeiro no Novo Testamento como um perseguidor dos cristãos, e só depois como um convertido a Cristo.
Já o evangelista Lucas também foi alguém que não acompanhou o ministério de Jesus como testemunha ocular, mas ele teve contato com pessoas que acompanharam. O mesmo também pode ser dito do anônimo escritor da Carta aos Hebreus, que recebeu o Evangelho de pessoas que ouviram diretamente de Jesus (Hebreus 2:3-4).
Então apesar de a mensagem central do Novo Testamento girar em torno dos eventos e dos ensinos de Cristo, o próprio Cristo não deixou nenhum livro escrito de próprio punho para nós. Portanto, todas as pessoas que escreveram os escritos do Novo Testamento foram escolhidas por Deus para a tarefa de registrar a sua santa Palavra de forma inspirada e infalível.
Como e quando o Novo Testamento foi escrito?
O Novo Testamento foi escrito num período de mais de cinquenta anos, com o primeiro livro tendo sido escrito provavelmente a partir de 44 d.C., e o último livro em aproximadamente 96 d.C.
Naquele tempo o idioma falado na Palestina era o aramaico, mas o grego koiné era o idioma comum do mundo greco-romano. Então os escritores bíblicos escreveram os livros do Novo Testamento em grego, que era o idioma mais difundido.
Alguns estudiosos acreditam que talvez a única exceção tenha sido o Evangelho de Mateus, que existe a possibilidade de ter sido escrito primeiro em aramaico ou hebraico, e depois traduzido ou reescrito em grego.
O material utilizado para o registro dos livros do Novo Testamento foi o papiro, que era feito basicamente de fibras vegetais. Embora muito comum naquele tempo, o papiro não tinha uma boa resistência ao uso. Por isso, os documentos originais do Novo Testamento — chamados de “autógrafos” — não existem mais, porém o seu conteúdo foi preservado em muitas cópias antiguíssimas que possuem coesão e fidelidade inquestionáveis.
Como o Novo Testamento está organizado?
O Novo Testamento é formado por um total de 27 livros que foram organizados em quatros categorias:
- Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
- Histórico: Atos dos Apóstolos.
- Epístolas: Romanos, 1 e Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.
- Profético: Apocalipse.
Essas categorias possuem ainda algumas particularidades. Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, por exemplo, são chamados de “Evangelhos Sinóticos”, por causa da similaridade de seus conteúdos.
A categoria das epístolas também é subdividida em categorias menores. Por exemplo: entre Romanos e Filemom, temos as chamas “Epístolas Paulinas”; enquanto que entre Hebreus e Judas, temos as “Epístolas Gerais”.
As cartas de Paulo ainda são organizadas em diferentes grupos. Por exemplo: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom são as “Cartas da Prisão”. Por fim, 1 e 2 Timóteo e Tito são as “Cartas Pastorais”.
A formação do Cânon do Novo Testamento
O processo de formação do Cânon do Novo Testamento foi muito natural. Desde muito cedo a Igreja recebeu os escritos neotestamentários como Escritura Sagrada. Em sua maioria, os livros do Novo Testamento foram escritos especialmente para servirem de forma específica à varias comunidades cristãs do primeiro século, e conforme essas comunidades receberam esses escritos, elas também aceitaram a autoridade deles.
Mas naquele tempo outros escritos também circulavam entre os cristãos. Inclusive, alguns desses escritos, no entanto, eram produzidos por falsos mestres que desejavam corromper o Evangelho que estava sendo pregado. Outros escritos até contavam com algum valor devocional, mas não eram inspirados. Contudo, à medida que o tempo foi passando, a Igreja foi identificando essas obras e rejeitando-as por não possuírem autoridade divina.
Então provavelmente ainda no final do primeiro século, a Igreja Primitiva já tinha reunido uma coleção de escritos contendo pelo menos os quatro Evangelhos e as epístolas de Paulo. Mais tarde, em aproximadamente 170 d.C., o Cânon Muratóriano já era formado pelos quatro Evangelhos, o livro de Atos dos Apóstolos, as epístolas de Paulo e Judas, duas epístolas de João e o livro do Apocalipse.
Por fim, no século 4 d.C. o Cânon do Novo Testamento já estava completamente formado com os seus 27 livros tendo sido amplamente reconhecidos pela Igreja Cristã. Esse reconhecimento foi reafirmado nos Concílios de Cartago (397) e Calcedônia (451).
Mas é importante entender que o Cânon do Novo Testamento definitivamente não foi criado ou decidido de forma arbitrária. Algumas pessoas pensam que um grupo de líderes da Igreja se reuniu e decidiu o que era ou não canônico, mas não foi assim. Os Concílios simplesmente reconheceram o que já tinha sido naturalmente aceito pela Igreja como um todo.
O contexto do Novo Testamento
O contexto histórico do Novo Testamento foi o mundo greco-romano do primeiro século. Nesse período, toda a região do Mediterrâneo estava helenizada e governada pelo Império Romano que despontou após a fragmentação do antigo Império Grego.
O Império Romano conseguiu promover paz em suas províncias, além de uma infraestrutura jamais vista que facilitava o transporte, o comércio e as comunicações.
A Judéia, governada pelo rei Herodes, era uma dessas províncias romanas. A narrativa do Novo Testamento tem início exatamente nesse contexto histórico. Quando Jesus nasceu, Herodes ainda era o monarca da Judeia. Porém, pouco depois Herodes acabou morrendo, e seu filho, Arquelau, assumiu o seu lugar.
Mas tão logo Arquelau foi banido de sua posição e a Judeia e Samaria foram colocadas sob administração direta de Roma através de uma série de governadores. Um desses governadores foi Pôncio Pilatos, que governou a Judeia durante o ministério de Jesus.
Já a província da Galileia, onde Jesus cresceu, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes. Já na época da Igreja Primitiva descrita no livro de Atos dos Apóstolos, a Galileia era governada pelo neto do rei Herodes, o Herodes Agripa. Foi esse Herodes Agripa que perseguiu os apóstolos nos primeiros anos da Igreja Primitiva, e depois morreu comido por vermes por ter tentado receber para si a glória de Deus.
Com a morte de Herodes Agripa, a administração daquele território ficou sob os cuidados dos governantes romanos. Apenas uma pequena área foi deixada sob o governo de Agripa II.
À medida que o Evangelho se espalhou por todo o Império, muitas outras cidades e províncias romanas serviram como pano de fundo histórico do Novo Testamento, como por exemplo, as províncias da Galácia e a da Ásia Menor.
No tempo do Novo Testamento ainda havia diferentes grupos religiosos e/ou políticos entre os judeus, como os fariseus, os saduceus, os essênios e os zelotes. Em 66 d.C. os conflitos entre judeus e romanos resultaram numa revolta, e em 70 d.C. a cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos. Provavelmente apenas as obras do apóstolo João foram escritas após esse período.
A mensagem do Novo Testamento
A mensagem central do Novo Testamento é o Evangelho do Senhor Jesus Cristo e os desdobramentos do seu ensino para a sua Igreja. Toda a mensagem do Novo Testamento possui um caráter de instrução.
Evangelhos
Os quatro Evangelhos são as principais fontes de informação sobre a vida de Jesus. Os quatro Evangelhos abrem o Novo Testamento mostrando que o evento que dividiu a história para sempre foi o advento de Cristo.
Embora Cristo fosse eterno, houve um momento em que Ele entrou na história humana. Os Evangelhos registram o mistério da maravilhosa encarnação divina, quando o Verbo de Deus “se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, repleto de graça e de verdade” (João 1:14).
Então os quatro Evangelhos cobrem os principais eventos do ministério de Jesus, de modo a mostrar um panorama geral de sua obra redentora até sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu. Cada qual com sua ênfase teológica particular, os quatro Evangelhos mostram o caráter real, profético e divino da obra de Cristo, destacando sua plena humanidade e sua plena divindade.
Atos dos Apóstolos
O livro de Atos dos Apóstolos registra os eventos que tiveram lugar após a ascensão de Jesus ao Céu. Então o livro narra os primeiros passos da Igreja Primitiva e informa como o Evangelho se espalhou de Jerusalém para todo o território romano, chegando até mesmo à cidade de Roma, a capital do Império.
Grande parte da narrativa do livro de Atos dos Apóstolos enfoca os ministérios dos apóstolos Pedro e Paulo. Inclusive, é o livro de Atos dos Apóstolos que registra as notáveis viagens missionárias de Paulo.
Epístolas
As epístolas são os escritos que trazem importantes formulações doutrinária para a Igreja. As epístolas do Novo Testamento foram escritas pelos apóstolos e outros autores ligados a eles, e contam com a total inspiração divina.
Então sob a autoridade divina, essas cartas foram enviadas a várias igrejas locais ou indivíduos que precisavam de orientação da parte do Senhor. Essas cartas foram preservadas e, com sua mensagem atemporal, continuam essenciais para a Igreja de todas as épocas e lugares.
Apocalipse
A mensagem do Novo Testamento termina com o livro do Apocalipse, o último dos vinte e sete livros a ser escrito. O livro do Apocalipse registra as visões que o apóstolo João recebeu da parte do Senhor enquanto estava exilado na Ilha de Patmos.
De forma primária, o livro registra a situação das sete igrejas da Ásia Menor no final do primeiro século, bem como o conflito dos cristãos com o Império Romano. Mas através de uma linguagem simbólica, no livro do Apocalipse tudo isso também é colocado como um quadro profético que ilustra a realização do propósito divino na história, e apresenta um presságio dos acontecimentos finais da presente era.