O Que é o Ósculo Santo? Qual é o Seu Significado?

O ósculo santo era um tipo de saudação comum na Igreja Primitiva. Os cristãos cumprimentavam uns aos outros com um beijo no rosto conforme o costume daquela época.

A palavra “ósculo” significa “beijo” e na Bíblia traduz termos originais no hebraico e no grego. No Antigo Testamento, “ósculo” é o termo usado para traduzir o hebraico nashaq, que no sentido de cumprimento, significa “beijar” ou “tocar gentilmente”. Já no Novo Testamento a palavra “ósculo” traduz o grego philema que também significa “beijo”.

O significado do ósculo nos tempos bíblicos

No Oriente era comum que as pessoas fizessem uso do duplo ósculo em suas saudações ou despedidas – quando cada lado da face era beijado rapidamente. Esse costume era adotado especialmente pelos judeus. Ainda hoje o costume de beijar a face do outro é utilizado pelos homens em várias partes do mundo, sobre tudo, nos países orientais.

No Antigo Testamento existem várias passagens que fazem referência ao ósculo. Por exemplo: quando Jacó chegou à casa de Labão, ele foi saudado com um ósculo (Gênesis 29:13). O profeta Samuel também saudou Saul com um ósculo após ungi-lo rei de Israel (1 Samuel 10:1). No contexto dessa passagem, o ósculo foi um sinal de reconhecimento à autoridade do rei que havia acabado de ser ungido.

Assim como no Antigo Testamento, existem diversas passagens neotestamentárias onde o ósculo é descrito em pelo menos três aspectos diferentes. São eles: 1) como uma expressão de afeição; 2) como um beijo enganoso; e 3) como um costume entre os membros da comunidade cristã.

No Evangelho de Lucas lemos o relato sobre a pecadora que ungiu os pés de Jesus na casa de Simão durante um jantar (Lucas 7:36-50). Por causa da maneira com que o fariseu julgou aquela mulher, Jesus lhe disse: “Você não me saudou com um ósculo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar meus pés” (Lucas 7:45). Nesse caso, o ósculo está sendo usado como um claro sinal de afeição. O fariseu poderia alegar ter afeição por Jesus, mas não demonstrou isso de uma forma prática.

No episódio em que Jesus estava orando no Getsêmani e foi traído por Judas Iscariotes, o ósculo foi o sinal utilizado pelo discípulo traidor para identificá-lo (Mateus 26:47-49; Marcos 14:44,45; Lucas 22:47,48). A Bíblia registra que Jesus perguntou a Judas: “É com um beijo que você trai o filho do homem?” (Lucas 22:48).

Essa passagem mostra que mesmo o ósculo sendo um sinal visível que expressa o amor, nem sempre ele é usado com essa finalidade. Isso significa que o ósculo nem sempre é sincero! Nos lábios de Judas Iscariotes uma saudação que indicava respeito, amizade e afeto, foi utilizada de forma irônica e terrível.

O significado do ósculo santo na Igreja

A terceira aplicação do ósculo no Novo Testamento diz respeito ao cumprimento entre os cristãos. O típico costume judaico de saudar as pessoas fazendo uso do beijo também foi adotado pelos crentes judeus e gentios. Essa prática foi incentivada em diferentes passagens bíblicas no Novo Testamento (Romanos 16:16; 1 Coríntios 16:20; 2 Coríntios 13:12; Tessalonicenses  5:26; 1 Pedro 5:14).

É exatamente nessa aplicação que aparece a designação “ósculo santo”, do grego philemati hagio. Ao adicionar o grego hagios, que significa “algo muito santo” – e deriva de hagos, “uma coisa grande” ou “sublime” –, o texto bíblico obviamente enfatiza que o ósculo entre os cristãos não pode ser apenas um símbolo de afeição, mas também deve ser santo.

Ao dizer que os cristãos deveriam saudar uns aos outros com ósculo santo, Paulo estava ensinando que esse simples ato envolvia três partes, isto é, não apenas as duas pessoas que se cumprimentavam, mas também Deus. Isso porque aquele sinal de afeto simbolizava o amor de Cristo mutuamente compartilhado entre tais pessoas.

Não bastava apenas ser um beijo, era preciso ser um beijo santo – visto que um beijo poderia ser usado, inclusive, como símbolo de uma traição. Então nas palavras do apóstolo, o ósculo precisava ser uma demonstração genuína do amor fraternal entre pessoas que estavam unidas em Cristo.

Também vale dizer que o ósculo santo não tinha nenhuma conotação sensual; nem mesmo causava algum tipo de escândalo ou constrangimento entre os cristãos. Se fosse assim, essa prática não teria sido chamava de “santa” nas epístolas bíblicas.

O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, se refere a essa prática como “ósculo de amor” (1 Pedro 5:14). A palavra “amor” nessa expressão traduz o grego agape. Isso implica um amor muito mais elevado do que o afeto comum entre amigos e familiares. Assim, além de philema, que nesse contexto significa especialmente o cumprimento como sinal de afeição fraterna entre os cristãos, o apóstolo adiciona também o agape.

Entendendo o correto significado de ágape, fica claro então que o apóstolo aconselha que os verdadeiros seguidores de Cristo não se omitam em expressar seu amor até mesmo por aqueles a quem não possuem nenhum afeto. Isso pode parecer contraditório, mas não é! O Espírito Santo é quem capacita os redimidos para que eles possam demonstrar um amor tão abnegado.

Atos 20:37 é uma passagem que demonstra o uso prático do ósculo santo. Nessa passagem os presbíteros de Éfeso abraçaram e beijaram Paulo em sua despedida.

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Devemos saudar com o ósculo santo atualmente?

Será que a prática do ósculo santo deve ser vista pelos cristãos como uma norma bíblica que deve ser adotada e obedecida?

Justino Mártir, na metade do século 2 d.C., foi o primeiro entre os Pais da Igreja a fazer menção da prática dos cristãos saudarem uns aos outros com ósculo santo. Segundo seu relato, essa prática era uma parte costumeira do culto cristão. Segundo ele, as pessoas saudavam umas as outras com o ósculo na conclusão das orações. Há indícios também de que esse cumprimento era utilizado, especialmente, antes da celebração da Ceia do Senhor.

Diante de tudo isso, levanta-se a dúvida se devemos ou não saudar com o ósculo santo na atualidade. A resposta para essa duvida é bastante simples. Basta apenas entendermos que o que está sendo enfatizado na expressão “ósculo santo” não é o “ósculo” em si, mas o adjetivo “santo”.

Em outras palavras, as passagens bíblicas que falam do ósculo santo trazem, sobretudo, uma exortação sobre a prática do amor fraternal entre os cristãos. Esse amor é muito diferente daquele experimentado nos relacionamentos mundanos.

Então a Bíblia ensina que a saudação entre os redimidos deve ser condizente com o amor que eles compartilham em Cristo. Essa saudação deve expressar uma comunhão pura e genuína; uma comunhão que reflete o amor, a paz e a harmonia que existe entre os membros do corpo de Cristo.

Como a saudação com beijo era um costume típico daquela época e região, obviamente foi a essa prática que os apóstolos se referiram ao falar da pureza que deve haver nas saudações dos crentes. Em nossa cultura, as saudações típicas geralmente incluem um aperto de mão ou abraço. De qualquer forma, o objetivo principal das saudações, seja ela qual for, é demonstrar respeito e afeto.

Logo, a prática do ósculo santo não pode ser entendida como uma ordem apostólica que deve ser observada como parte do culto cristão. O que deve ser obedecido é a exortação de que aqueles que pertencem à Igreja de Cristo naturalmente devem demonstrar pureza, amor e legitimidade em seus relacionamentos interpessoais.

Portanto, a utilização do ósculo santo, do abraço, do aperto de mão ou qualquer outra forma legitima de cumprimento e saudação, deve depender do costume de cada região ou mesmo da comunidade cristã local. Se uma comunidade cristã adotar o costume de se cumprimentar com ósculo, que isso então não seja entendido como um tipo de sinal de superioridade e santificação. Infelizmente algumas pessoas enxergam o ósculo santo até mesmo como algo místico. Claro que isto é contrário ao ensinamento bíblico.

Na Igreja Primitiva o ósculo santo significava que os cristãos aceitavam uns aos outros como irmãos e irmãs. Era um cumprimento que refletia a verdade de que aquelas pessoas formavam a família de Deus. Obviamente esse princípio deve estar presente entre os cristãos hoje. Então seja um beijo, um abraço ou um perto de mão, o importante é que esse cumprimento seja uma expressão sincera do amor de Cristo que nos une uns aos outros.

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