O Que é Semipelagianismo?
O Semipelagianismo é uma doutrina que afirma que o homem não regenerado é capaz de contribuir com suas obras para a realização de sua própria salvação. Para a doutrina semipelagiana, a regeneração é um processo sinergético onde a vontade do homem coopera com a graça de Deus.
A origem do Semipelagianismo
Para entendermos a origem do Semipelagianismo precisamos recuar um pouco a história até o século 5 d.C., quando o um monge chamado Pelágio desenvolveu uma doutrina que negava o pecado original, afirmando que o homem é capaz de viver uma vida sem pecado por sua própria vontade, e também defendendo que a graça de Deus não é algo essencial para a salvação. Essa doutrina ficou conhecida como Pelagianismo.
Pelágio foi duramente refutado por Agostinho de Hipona, que através de seus escritos defendeu a doutrina bíblica acerca da total depravação da humanidade, afirmando que após a Queda, o homem é incapaz de fazer qualquer bem em favor de sua própria salvação, sendo totalmente dependente da graça soberana de Deus para realizar qualquer ação ou decisão positiva espiritualmente. Entenda o que significou a Queda do homem.
Apesar de o Pelagianismo ter sido condenado oficialmente pela Igreja, a tensão entre os ensinos de Agostinho e de Pelágio não desapareceu completamente, e então surgiu o que é chamado de Semipelagianismo.
O que o Semipelagianismo ensina?
Embora os semipelagianos também tenham considerado o Pelagianismo uma heresia, e até se esforçaram para sinalizar as diferenças entre sua doutrina e a doutrina pelagiana, no final o Semipelagianismo ainda consiste num tipo de tentativa de conciliar as visões de Pelágio e de Agostinho.
A doutrina semipelagiana não nega o pecado original como o Pelagianismo o faz. Ela ainda afirma a pecaminosidade universal da raça humana. O Semipelagianismo admite que o homem, por natureza, está contaminado pelo pecado. Com isso, sua vontade está enfraquecida, mas não num grau que o torna incapaz de cooperar com a graça divina.
Isso significa que o Semipelagianismo nega a ideia de depravação total do homem e introduz um conceito de depravação parcial, onde a regeneração é resultado da cooperação entre a vontade do homem e a graça de Deus. Se na doutrina sistematizada por Agostinho a vontade do homem para o bem encontra-se morta, no Semipelagianismo ela está apenas débil e enfraquecida.
Basicamente, enquanto a doutrina agostiniana defendia um modelo monergista na obra da regeneração, o Semipelagianismo adotou um modelo sinergista. Com isto, seu objetivo era uma tentativa de enfatizar a liberdade e a responsabilidade humana.
Cassiano e o Semipelagianismo
O maior expoente do Semipelagianismo foi João Cassiano, abate do monastério de Massilia. Cassiano foi tão influente nesse assunto, que às vezes o Semipelagianismo é chamado de Cassianismo.
João Cassiano também procurou refutar as concepções de Agostinho. Ele alegava que seus ensinos se distanciavam das doutrinas defendidas pelos pais da Igreja. Ele se preocupou em não desprezar a essencialidade da graça e de afirmar a responsabilidade moral da humanidade caída. Assim, basicamente ele afirmou:
- A realidade da pecaminosidade universal da humanidade introduzida por meio da Queda de Adão.
- Após a Queda a vontade espiritual do homem ficou debilitada, mas ainda é capaz de se inclinar para Deus.
- A graça de Deus é a base da salvação do homem e indispensável para que ele alcance seu estado final. Porém, fazendo uso de sua própria vontade, mesmo esta estando débil, o homem é capaz de iniciar sua salvação através de boas decisões e do exercício da fé. Assim, a graça de Deus está disponível ao pecador, mas este deve, por sua livre vontade, decidir cooperar com ela.
- Quando Deus percebe um movimento inicial do homem em direção ao bem espiritual, Ele então assiste essa boa vontade humana. Ele ilumina, conforta e capacita o homem com sua graça rumo à salvação final.
- A concepção acerca da soberania de Deus na predestinação é inconsistente com a responsabilidade humana e com o ensino de que Deus deseja salvar todas as pessoas. Logo, a predestinação é baseada na presciência divina.
O combate ao Semipelagianismo e seu erro frente à Bíblia
O Semipelagianismo de Cassiano conseguiu muitos simpatizantes e se desenvolveu por algumas décadas. Mas no Sínodo de Orange, em 529 d.C., o Semipelagianismo foi condenado oficialmente como sendo uma heresia.
Quando posto à luz das Escrituras, o Semipelagianismo é tão heresia quanto o Pelagianismo. Os mesmos textos bíblicos que reprovam o pensamento pelagiano também reprovam a doutrina semipelagiana.
Assim, quando a Igreja condenou oficialmente o Semipelagianismo, ela reafirmou a doutrina bíblica de que o pecado de Adão não apenas tornou sua vontade para o bem espiritual enfraquecida, mas completamente morta. Quando o apóstolo Paulo escreve sobre o homem não regenerado, ele não o trata como doente, mas como morto. O homem é incapaz de fazer qualquer movimento em direção a Deus sem que antes seja ressuscitado (Efésios 2:1-8). Essa “ressurreição” é o que as Escrituras chamam de regeneração ou novo nascimento.
Um dos pilares do Semipelagianismo é a ideia de que a fé precede a regeneração. Isso significa que mesmo sem ser regenerado, o homem pode despertar sua disposição em crer. Todavia, a doutrina bíblica afirma exatamente o oposto. A Bíblia diz que primeiro é preciso ser regenerado para depois poder crer, visto que até mesmo a disposição para crer e o início da fé não se encontram na capacidade da vontade humana, mas no dom da graça de Deus. A Bíblia é clara ao dizer que ninguém pode crer que Jesus é o Cristo sem antes ter nascido de novo (João 5:1; 1 Coríntios 12:3).
Resumindo, o Semipelagianismo afirma que restou algo de bom no homem que pode cooperar com sua salvação. Porém a Bíblia declara que o homem não regenerado está morto espiritualmente, não apenas doente, mas morto. Desse modo, sem que antes a graça salvadora de Deus o alcance, ele jamais poderá ser finalmente salvo (João 6:44).