O Lamento de Jó e a Paciência de Jó
O lamento de Jó registrado na Bíblia é uma prova de que até mesmo os crentes mais piedosos podem ser abatidos pela depressão em tempos de grande angústia (Jó 3:1-26). Jó sofreu muito a ponto de entrar em desespero e se arrepender da vida através de amargos lamentos.
Mas ao mesmo tempo em que a Bíblia registra o lamento de Jó ela também registra a paciência de Jó. Muitas vezes quando falamos da paciência de Jó nos esquecemos sua paciência envolveu justamente a perseverança em suportar um imenso sofrimento. Sim, Jó tornou-se um exemplo de paciência por suportar a dor sem perder sua confiança no Senhor.
Por isso Tiago, no Novo Testamento, escreve sobre Jó dizendo: “Eis que temos por bem-aventurados os que sofrem. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes que o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é misericordioso e piedoso” (Tiago 5:11).
O lamento de Jó por seu nascimento
O primeiro lamento de Jó questionou o motivo de seu nascimento. Nesse sentido ele chegou a amaldiçoar o dia de seu nascimento e a noite em que foi concebido. Ele falou de um dia que deveria ter sido de grande alegria como se fosse o dia de um terrível desastre (Jó 1:3-10). Basicamente em seu lamento Jó desejou que o dia de seu nascimento fosse apagado do calendário.
O raciocínio de Jó era bem simples. Ele havia concluído que teria sido muito melhor que ele jamais tivesse nascido a ter que estar sofrendo tanto. Em outras palavras, todas as alegrias que ele havia tido na vida não compensavam o grande sofrimento que ele experimentava.
Mas nesse ponto a paciência de Jó também é ressaltada. Aqui devemos lembrar que Jó estava sendo testado – embora ele não soubesse disso. Satanás estava decidido que faria Jó blasfemar contra Deus. Por outro lado, Deus havia dado testemunho da integridade e da fidelidade de Jó (Jó 1-2). Então quando no lamento de Jó ele começou a amaldiçoar o dia de seu nascimento, talvez Satanás tenha pensado que finalmente conseguiria o que desejava.
Inclusive, a própria mulher de Jó chegou a lhe propor que amaldiçoasse a Deus e morresse (Jó 2:10). Porém, o paciente Jó não cruzou a linha da apostasia. Ele chegou ao ponto de praguejar contra si mesmo; de amaldiçoar o dia de seu próprio nascimento; mas jamais ele considerou a possibilidade de amaldiçoar a Deus.
O lamento de Jó por não ter sido um natimorto
Depois de ter se lamentado por ter nascido, Jó então se lamentou por não ter sido um natimorto (Jó 3:11-19). Já que ele havia sido concebido, então, em sua avaliação, teria sido melhor que ele tivesse morrido no ventre de sua mãe; ou mesmo logo após ter saído de sua madre (Jó 3:11).
No lamento de Jó ele argumentou que se isso tivesse acontecido, então ele já estaria descansando tranquilo das coisas dessa vida, e não estaria sofrendo tanto daquela forma. A essência do lamento de Jó nessa parte continuava a mesma: ele preferia não ter vivido uma vida inteira a ter que sofrer o que estava sofrendo.
Jó havia sido o homem mais importante do Oriente. Ele tinha sido o pai de dez filhos. Mas ele preferia nunca ter tido toda aquela riqueza para depois perdê-la; nunca ter tido todos aqueles filhos para depois ter de chorar a morte deles. Por isso ele de fato preferia ter sido um natimorto. Em tudo isso, porém, mais uma vez a paciência de Jó foi mantida e sua fidelidade a Deus não foi abalada.
O lamento de Jó por continuar vivo
Após ter se lamentado por seu nascimento e por não ter sido um natimorto, Jó passou a se lamentar pela vida que ainda continuava vivendo. O seu desespero o levou a creditar que seria melhor que ele perdesse a luz da vida.
Em outras palavras, ele preferia que sua vida chegasse ao fim. Ele preferia morrer a ter de lidar com aquela grande perturbação. Seu sofrimento era tão grande que a morte lhe seria um motivo de alegria e uma oportunidade de repouso (Jó 3:20-26).
Todavia, nesse ponto a paciência de Jó também permaneceu de pé. Sim, ele preferia morrer, mas não desejou tirar sua própria vida. Na verdade o texto bíblico jamais diz que Jó considerou essa possibilidade alguma vez. Por isso podemos dizer que a paciência de Jó apontava para sua fé. Jó tinha perdido a alegria de viver, mas não tinha perdido a confiança e o temor a Deus. Sua dor era enorme, mas ele continuava tendo a certeza a respeito da soberania de Deus sobre a vida e a morte.
Então é verdade que o paciente Jó se lamentou muito por sua dor. Algumas pessoas pensam que verdadeiramente ter a fé torna alguém imune ao sofrimento; ou melhor, pensam que se alguém sofre é por que não tem fé; pensam que se alguém se lamenta é porque não confia em Deus.
A história Jó, no entanto, prova o contrário disso e nos ensina que ter fé não significa escapar da dor, mas significa perseverar na dor. Ter fé não significa jamais se lamentar, mas significa jamais deixar de enxergar que Deus é Senhor até mesmo sobre aquilo que é a causa do nosso lamento. Por isso nos lamentos de Jó também podemos ver de forma nítida a paciência de Jó ancorada em sua fé em Deus.