O Que é o Plano de Deus?
O plano de Deus é o Seu propósito com relação a tudo o que existe e acontece. O ensino geral da Bíblia afirma que Deus tem um plano e que Ele atua na condução de todas as coisas para que esse plano seja cumprido. Então podemos afirmar que neste momento o plano de Deus está sendo concretizado.
O plano de Deus não é algo distante da nossa experiência de vida, ao contrário, ele a inclui. Se o plano de Deus abrange todas as coisas, obviamente cada um de nós também está incluso nesse plano.
Plano, decreto, vontade, conselho e propósito de Deus
A Bíblia usa alguns vocábulos para se referir ao plano de Deus. Então na Escritura lemos sobre o decreto de Deus, sobre a vontade de Deus, sobre o conselho de Deus, sobre o propósito de Deus e sobre os pensamentos de Deus. Mas todas essas designações na maioria das vezes são expressões sinônimas para falar do plano de Deus.
Frequentemente nós falamos do plano de Deus na forma plural, ou seja, falamos sobre Seus decretos e planos. Inclusive, até mesmo alguns versículos bíblicos falam dos planos de Deus (cf. Jó 42:2). Contudo, isso não significa que Deus tenha vários planos independentes e desconexos uns dos outros.
Deus é onisciente, o que implica que o conhecimento para Ele não é algo sucessivo como é para nós. Em nossa experiência humana, nós obtemos conhecimento à medida que aprendemos novas informações. Então fazemos planos e alteramos esses planos conforme o nosso conhecimento aumenta ou se modifica. Por isso que para o homem é impossível ter um só plano.
Mas o conhecimento para Deus é sempre imediato e simultâneo. Não há nada que Ele tenha que aprender, porque Ele possui todo conhecimento e sua compreensão acerca de tudo é sempre completa. Então por isso o plano divino é essencialmente um único ato da vontade de Deus que contempla tudo o que existe e acontece.
Portanto, quando um escritor bíblico fala sobre os planos de Deus no plural, podemos considerar que ele está aplicando um tipo de linguagem do observador. Esta é uma expressão correta do ponto de vista humano. Falamos nos “planos de Deus” porque embora esse plano seja único e absolutamente imediato e simultâneo na mente de Deus, ele é também executado no espaço e no tempo.
Então a nossa mente limitada naturalmente nos leva a enxergar esse plano divino como se fosse uma série de planos ou decretos. Tudo bem pesarmos assim, mas não podemos nos esquecer jamais que esses planos na verdade possuem uma unidade inquebrável, ou seja, eles são “o conselho de Deus”.
Do que trata o plano de Deus?
Como já foi dito, o plano de Deus trata acerca de tudo. O plano de Deus é Sua decisão eterna no que diz respeito a todas as coisas. O mundo foi criado porque este é o plano de Deus. Todas as criaturas que há no universo – material e espiritual – existem por causa do plano de Deus (Apocalipse 4:11).
Todavia, o plano de Deus não apenas tratou da criação do mundo, mas também de sua sustentação. Deus planejou criar o mundo e sustentá-lo de forma providencial (Hebreus 1:3; cf. Isaías 42:5; João 5:17).
O plano de Deus para a contínua sustentação da criação inclui cada detalhe de cada acontecimento, bem como alcança cada milímetro e cada molécula da extensão do universo, e cada parte que forma cada célula de cada ser vivo (cf. Salmo 139:16; 1 Coríntios 12:18; 15:38). Se fosse diferente, então Deus não seria Deus, pois haveria algo que estaria fora de Seu controle.
Então tudo o que já aconteceu, o que está acontecendo e o que ainda irá acontecer, sempre esteve no plano de Deus. Deus jamais foi surpreendido por coisa alguma. Portanto, o plano de Deus trata desde as maiores coisas até as menores.
A obra da redenção – e tudo o que está envolvido nela – ocorre de acordo com o plano de Deus (cf. Romanos 9-11; Gálatas 3:8; 4:4,5; Efésios 1:11,12); o desenvolvimento das nações é determinado pelo plano de Deus (Atos 17:26); acontecimentos históricos – ainda que catastróficos – ocorrem de acordo com o plano de Deus (cf. Isaías 37:26; Lucas 21:20-22); e até a realidade do pecado e os atos pecaminosos das criaturas caídas também não estão à parte do plano de Deus (Provérbios 16:4; Marcos 14:18-21; Lucas 22:2-6; João 17:12).
Portanto, a Bíblia não deixa dúvida de que a criação do mundo e o governo da História fazem parte da concretização do plano eterno de Deus.
Algumas características do plano de Deus
Podemos citar aqui algumas características do plano Deus. Em primeiro lugar, o plano de Deus é eterno. Embora o plano de Deus seja manifestado no decorrer da história, a decisão de Deus foi tomada desde a eternidade (cf. Atos 15:18; Efésios 1:4; 2 Timóteo 1:9). Assim, o desenvolvimento dos eventos de acordo com o plano de Deus ocorre de forma cronológica e temporal, mas o plano em si que abrange esses eventos possui apenas uma ordem lógica.
Em segundo lugar, o plano de Deus é fundamentado na sabedoria divina. Tudo o que Deus planejou está de acordo com a Sua infinita e santa sabedoria (Salmo 104:24; Provérbios 3:19). Se para nós há algo no plano de Deus que pareça irracional, o problema está na limitação da nossa mente que não consegue alcançar os pensamentos de Deus. Na mente de Deus o Seu plano faz todo o sentido.
Em terceiro lugar, o plano de Deus é eficaz e imutável. Através do profeta Isaías, a palavra do Senhor diz: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A Sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Isaías 14:27; cf. Jó 42:2).
Em quarto lugar, o plano de Deus é absoluto e totalmente abrangente. Deus não precisou depender de ninguém para formar o Seu propósito, ou seja, ninguém foi Seu conselheiro (Romanos 11:34; cf. Isaías 40:13,14). Ao contrário disso, Ele “faz todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade” (Efésios 1:11).
Sendo absoluto, o plano de Deus é tão abrangente que considera todas as coisas, não somente os fins delas, mas também os seus meios. A menos que se negue a soberania, onisciência e a imutabilidade de Deus, deve-se crer que o plano de Deus é completo desde a eternidade. Então se esse plano em si mesmo é completo, obviamente ele possui um fim estabelecido; o que significa que ele também inclui os meios para que esse fim seja alcançado.
Em quinto lugar, o plano de Deus não anula a responsabilidade humana. O fato de no plano de Deus estar decretado os meios que conduzem aos fins de cada acontecimento – e que muitas vezes isso inclui as ações pecaminosas dos homens – não torna o homem um ser autômato que não é responsável por suas ações, e muito menos torna Deus o autor do pecado.
Na verdade o plano de Deus com relação ao pecado deve ser visto como permissivo e não efetivo. O plano de Deus permite o pecado e dá como certo os atos pecaminosos dos homens, mas não produz o pecado efetivamente. Em outras palavras, o plano de Deus jamais deve ser visto como a causa efetiva do mal moral.
No decreto divino, Deus é o Autor de seres morais livres, e são esses seres que, por sua vez, são os autores do pecado. Então por mais que isto esteja além da nossa compreensão no momento, a verdade é que muitas coisas no plano eterno de Deus são concretizadas porque Ele mesmo decretou que tais coisas seriam realizadas por meio da ação voluntária de suas criaturas – ainda que algumas dessas ações sejam pecaminosas (Provérbios 16:4; Mateus 26:24,25; Atos 4:27,28).
Em sexto lugar, o propósito último do plano de Deus é a Sua própria glória. Embora haja motivações secundárias por trás do plano do Senhor, tudo converge para que Seu nome seja preservado e glorificado (Isaías 48:11; Ezequiel 20:9). Nesse sentido, até mesmo as nossas boas obras devem servir para trazer glória a Deus (Mateus 5:16; cf. João 15:8).
Como entender o plano de Deus para nossas vidas?
O plano de Deus para nossas vidas no que diz respeito ao que Ele quer que façamos, é revelado muito claramente na Bíblia. Em resumo, Seu propósito para nós é que sejamos santos (1 Tessaloniceneses 4:3); Seu plano é que sejamos “conforme à imagem de Seu Filho” para o louvor de Sua glória (Romano 8:29; Efésios 1:6-12).
Mas há também o aspecto secreto do plano de Deus. É nesse sentido que muitas vezes temos dificuldade de entender o plano de Deus – especialmente a nível pessoal. Não compreendemos alguns acontecimentos de nossas vidas, e em nossa fraqueza e dureza de coração acabamos até questionando o plano do Senhor. Mas jamais podemos nos esquecer de que embora não compreendamos exaustivamente o propósito de Deus, faz parte de Seu decreto eterno a intenção de Ele ter comunhão com Seu povo fiel.
Assim, em seu plano soberano Ele cuida dos Seus filhos. E ainda que sofrimentos lhes sobrevenham nesta vida, de acordo com o Seu plano Deus transforma o mal em bem e faz com que em última análise todas as coisas sejam favoráveis a todos aqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8:28; cf. Gênesis 50:20; Salmo 27:10,11).
Nos momentos em que custamos a aceitar o plano de Deus para nossas vidas, devemos fazer da declaração de Jó também a nossa declaração: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Tu perguntaste: Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento? Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber” (Jó 42:2,3).