O Que é o Reino de Deus ou Reino dos Céus?
O Reino de Deus é basicamente o domínio, o reinado ou a soberania de Deus sobre tudo. A doutrina acerca do Reino de Deus permeia a Bíblia como um todo. Por isso é preciso entender que a expressão “Reino de Deus” traz um conceito bastante amplo, cujo significado e sentido devem ser compreendidos à luz do contexto de toda Escritura.
As profecias acerca do Reino de Deus estão presentes desde o Antigo Testamento. Mas é no Novo Testamento que a mensagem sobre o Reino de Deus se desenvolve de uma forma ainda mais clara, principalmente sendo o tema mais frequente da pregação de Jesus.
No Sermão do Monte, por exemplo, Jesus tratou explicitamente sobre a ética do Reino de Deus; bem como em suas parábolas ele ensinou sobre os princípios que caracterizam a natureza desse reino. Grande parte das parábolas de Jesus é introduzida com o objetivo de revelar algum aspecto do Reino de Deus (“E o Reino de Deus é como […]”).
Reino de Deus ou Reino dos Céus?
Algumas pessoas tentam aplicar significados diferentes às designações “Reino de Deus” e “Reino dos Céus”. Mas um estudo bíblico básico sobre o tema mostra claramente que não há qualquer diferença entre essas duas expressões.
A expressão “Reino dos Céus” aparece trinta e quatro vezes no Evangelho de Mateus; enquanto que a expressão “Reino de Deus” aparece somente cinco vezes. Já os outros três Evangelhos fazem uso frequente da expressão “Reino de Deus”.
Além disso, em várias passagens que Mateus usa a designação “Reino dos Céus”, os textos paralelos de Marcos, Lucas e João usam a designação “Reino de Deus”. O próprio Mateus usou as duas expressões juntas de forma intercambiável (Mateus 19:23,24). Portanto, as designações “Reino de Deus”, “Reino dos Céus” ou simplesmente “Reino” são sinônimas (cf. Mateus 5:3; Lucas 6:20).
Há uma sugestão muito usada para explicar o motivo pelo qual Mateus usa “Reino dos Céus” em preferência a “Reino de Deus”. Essa explicação diz que Mateus usa a expressão “Reino dos Céus” porque ele era um judeu escrevendo para judeus. Os judeus tinham por costume usar o nome de Deus o menos possível, por tê-lo como muito sagrado. Então Mateus respeitou essa tradição e falou do “Reino dos Céus”.
Por outro lado, a expressão “Reino dos Céus” talvez não fosse tão inteligível para os gentios quanto “Reino de Deus”. Então pode ser por isso que Marcos, Lucas e João usam essa expressão ao invés de “Reino dos Céus”.
O significado do Reino de Deus na Bíblia
O conceito do Reino de Deus pode ser trabalhado tanto de forma mais ampla quanto mais restrita; tanto em seu significado mais geral quanto mais específico. Como foi dito, seu significado geral fala do reinado eterno e soberano de Deus sobre tudo. Do começo ao fim a Bíblia mostra Deus como o rei supremo que governa todas as coisas (cf. Salmos 103:19; 113:5; Daniel 4:34,35; Mateus 5:34; Efésios 1:20; Colossenses 1:16; Hebreus 12:2; Apocalipse 7:15; etc.).
Já o Reino de Deus em seu significado mais restrito fala de tudo o que envolve a ação soberana de Deus na redenção de seu povo. Por isso inclui-se no conceito de “Reino de Deus” a obra de Cristo, a realidade presente da Igreja e as bênçãos da salvação, e a consumação de todas as promessas na bem-aventurança eterna no universo redimido.
Nesse sentido é impossível dissociar a ideia de salvação do conceito de Reino de Deus. A entrada no Reino de Deus expressa justamente a realidade de ser redimido por Cristo e habitado pelo Espírito Santo. Então ninguém pode entrar no Reino de Deus por seus próprios méritos.
Os discípulos entenderam a intima conexão entre salvação e Reino de Deus. Quando Jesus disse que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus, eles logo questionaram: “Então, quem pode ser salvo?” (Marcos 10:25,26).
O desenvolvimento do Reino de Deus
Apesar de Deus governar todo o universo soberanamente de seu trono, por causa do pecado a humanidade caída se recusa a reconhecer o governo de Deus. Desde o início da história do mundo os ímpios têm se levantado em rebelião contra o Reino de Deus. Mas isso um dia isso chegará ao fim. O Reino de Deus durará para sempre e toda oposição a ele caíra em ruína.
Mas segundo as Escrituras, tudo isso envolve um longo processo histórico. O compromisso com o Reino de Deus foi primeiramente guardado na linhagem piedosa de Sete, que culminou na obediência de Noé. Depois, num novo estágio, ele foi mantido com Abraão e sua descendência. Então é possível dizer que no Antigo Testamento a revelação do Reino de Deus limitava-se ao povo de Israel. Enquanto isso, as demais nações estavam em trevas e em completa rebelião contra Deus.
Mas havia um propósito muito mais amplo; o Reino de Deus não haveria de ficar restrito apenas ao povo de Israel. Aquele era somente um estágio temporário que daria lugar a um novo estágio, um estágio final e superior do Reino de Deus.
Por isso os profetas profetizaram sobre a expansão do Reino de Deus sobre toda a terra, onde judeus e gentios haveriam de se juntar em total rendição e obediência a Deus, cujo reino jamais teria fim (cf. Gênesis 17:17-20; 18:18; 1 Crônicas 16:23-36; Salmo 67; 97; Isaías 52:7-15; Malaquias 4; Romanos 4:13-17).
Quando Cristo encarnou neste mundo, Ele inaugurou o estágio final do Reino de Deus. Ele é o Messias davídico, o Rei escolhido que trouxe o Reino de Deus à terra de uma forma inédita. Por isso João Batista, o arauto do Messias, e o próprio Jesus, anunciaram firmemente que o Reino dos Céus havia chegado, trazendo graça e juízo (Mateus 3:2-12; 4:17). Mas como fica claro, o Reino de Deus se desenvolve de tal forma a alcançar seu cumprimento pleno na consumação dos séculos.
Os aspectos do Reino de Deus
Considerando a ideia da revelação e desenvolvimento progressivo do Reino dos Céus ao longo dos tempos, podemos dizer que a Bíblia expõe o Reino de Deus em dois aspectos: presente e futuro. Vejamos melhor cada um desses dois aspectos.
O aspecto presente do Reino de Deus
No aspecto presente, falamos do Reino de Deus em seu prosseguimento atual na Igreja. Nesse aspecto, W. Hendriksen fala do Reino de Deus como sendo o domínio do Senhor reconhecido no coração e ativo na vida do seu povo. Então esse conceito envolve as bênçãos da salvação para aqueles que reconhecem o senhorio de Cristo. Os cidadãos do Reino são aqueles que foram arrancados do reino das trevas para o Reino de Cristo (Colossenses 1:13).
Também é verdade que o Reino de Deus se desenvolve de forma misteriosa durante a era do Evangelho (Mateus 13:19-52; Marcos 4:30). Ainda nesse aspecto presente, Jesus diz que o Reino de Deus não vem com aparência exterior, “porque o Reino de Deus está entre vós” (Lucas 17:20,21). Aqui, através de sua vida e testemunho, a Igreja é chamada a tornar visível o Reino de Deus. Além disso, os milagres de Jesus, operados pelo poder do Espírito Santo, serviram como evidência da chegada do Reino de Deus (Mateus 12:28).
Portanto, o Reino de Deus nesse último estágio, no aspecto presente, foi inaugurado por Cristo (Mateus 2:2; 4:23; 9:35; 27:11; Marcos 15:2; Lucas 16:16; 23:3; João 18:37). Agora ele está em pleno andamento na Igreja (Mateus 24:14; Romanos 14:16,17; 1 Coríntios 4:19,20; Colossenses 4:11).
O aspecto futuro do Reino de Deus
O Reino de Deus continuará em progresso até que alcançará sua manifestação final e plena quando Cristo voltar em glória. Sim, num certo aspecto o Reino de Deus já está aqui, mas, num outro aspecto, ele ainda virá. Ele é algo presente, mas também é algo futuro (Mateus 7:2-22; 25:34; 26:29). Por isso Jesus Cristo fala do Reino como uma herança que está preparada para os santos (Mateus 25:34).
O Reino de Deus, que nesse último estágio presente estende-se a todos os povos e nações, em breve será consumado (1 Coríntios 15:50-58; Apocalipse 11:15). O dia em que isso acontecerá está decretado pelo próprio Deus, mas é desconhecido dos homens (Atos 1:7). Quando o Reino de Deus for consumado vindo em toda sua plenitude, a vontade divina será obedecida de forma perfeita no universo redimido.
Nesse dia se dará o cumprimento final da oração ensina por Jesus: “Venha a nós o vosso Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10). Toda oposição ao perfeito, sábio e santo conselho de Deus desaparecerá.
Conclusão sobre o Reino de Deus
Falar do Reino de Deus é falar da própria mensagem das Escrituras. Em seu Comentário do Novo Testamento, W. Hendriksen sintetiza o conceito bíblico do Reino de Deus no ensino de Jesus de uma forma bem didática a qual reproduzo abaixo com algumas adaptações:
- O Reino de Deus é o domínio ou a soberania reconhecida de Deus (Mateus 6:10).
- O Reino de Deus envolve a completa salvação. Em outras palavras, o Reino de Deus inclui todas as bênçãos materiais e espirituais que acontecem quando Deus é reconhecido e obedecido como o Rei do nosso coração (Mateus 10:25,26).
- A Igreja é a comunidade de pessoas em cujos corações Deus é reconhecido como Rei e Senhor. Então há um sentido específico em que o Reino de Deus e a Igreja são expressões quase que equivalentes. Isso explica a promessa de Jesus ao falar sobre a liderança e o fundamento apostólico na edificação da Igreja: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16:19).
- O Reino de Deus também fala da bem-aventurança eterna; fala da vida no novo céu e nova terra com toda sua glória. Esse é o sentido futuro do Reino que expressa a realização final do poder salvador de Deus (Mateus 25:34).