O Que a Bíblia Diz Sobre o Trabalho?
O trabalho na Bíblia aparece como uma ordenança do próprio Deus que chama os homens ao serviço regular como meio de sustento. Isso quer dizer que um dos propósitos de Deus para a raça humana é que as pessoas trabalhem.
Muitos cristãos, no entanto, possuem uma visão distorcida acerca do trabalho que não tem qualquer fundamentação bíblica, e, consequentemente, despreza a boa mordomia do trabalho. Eles enxergam as atividades profissionais apenas através de seu aspecto que revela os efeitos do pecado na humanidade. Sim, é verdade que o trabalho foi afetado pela Queda do Homem, mas há muito mais sobre o trabalho na Bíblia além dessa verdade.
A origem do trabalho na Bíblia
A Bíblia já começa falando sobre o trabalho. Gênesis 1 mostra ninguém menos que o próprio Deus trabalhando na obra da criação. Inclusive, o trabalho de Deus na criação em certo aspecto serviu como base para a regulamentação do trabalho do homem, especialmente no que diz respeito à sua rotina de descanso.
Deus criou todo o universo e os seres vivos em seis dias e descansou no sétimo dia (Gênesis 2;2; Êxodo 20:9-11). Apesar de ter descansado da obra da criação, o trabalho de Deus não cessou, porque Ele continua trabalhando sustentando o universo criado (João 5:17).
Com relação à mordomia do trabalho do homem, a primeira menção bíblica nesse sentido também ocorre no relato da criação. Logo após ter sido criado, o homem foi colocado por Deus no Jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo (Gênesis 2:15).
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O trabalho e o pecado
O principal erro que as pessoas cometem acerca da visão bíblica sobre o trabalho, é pensar que o trabalho existe por causa do pecado. Mas como já foi dito, a instituição do trabalho precedeu a Queda. Isso significa que mesmo antes de pecar, Adão e Eva já trabalhavam. Em outras palavras, o trabalho é uma bênção, não uma maldição.
O livro de Gênesis é particularmente claro quanto ao trabalho exercido pelo homem. Deus comissionou o homem a lavrar e guardar o jardim que Ele havia plantado. Além disso, o homem devia sujeitar e governar a terra (Gênesis 1:28; 2:15).
Portanto, logo que foi criado o homem recebeu a responsabilidade de contribuir com o aperfeiçoamento da terra através do cultivo (lavrar); de ser comprometido com a sua preservação (guardá-la); de controlar e administrar da melhor forma todos os recursos da criação terrena (sujeitá-la e dominá-la).
A princípio, esse trabalho era perfeitamente eficaz e prazeroso. Sem que houvesse qualquer mancha do pecado nele, o trabalho era plenamente gratificante. Mas isso acabou mudando com a desobediência do primeiro casal (Gênesis 3).
O pecado lançou a humanidade e toda criação terrena debaixo da maldição divina. A terra que outrora produzia com facilidade bons frutos para o sustendo do homem, depois do pecado passou a produzir espinhos e plantas que se tornaram verdadeiras pragas nas lavouras. O trabalho que era plenamente satisfatório tornou-se particularmente difícil, desgastante e penoso ao homem; e justamente nesse sentido de ser parte da punição divina é que esse aspecto do trabalho também se tornou um castigo e, seu resultado, nem sempre satisfatório.
Essa doutrina bíblica explica a dolorosa relação do homem com seu trabalho, independentemente do seu grau de satisfação. Se uma pessoa não gosta do trabalho que faz, esse trabalho é realmente penoso e irritante. Mas se uma pessoa gosta do trabalho que faz, não raramente ela se vê tão envolvida em suas atividades que acaba consumida por seu trabalho, deixando de aproveitar outras coisas importantes da vida (cf. Eclesiastes 4:8,9).
Princípios bíblicos sobre o trabalho
Podemos destacar três princípios bíblicos fundamentais sobre a boa mordomia do trabalho:
1. Deus ordenou o trabalho
Em primeiro lugar, o trabalho é uma ordenança divina. De forma muita clara a Palavra de Deus chama o homem à mordomia do trabalho. O apóstolo Paulo, por exemplo, escreve que os crentes devem trabalhar e fazer algo de útil com as mãos; para que tenha o que repartir com quem está atravessando um período de necessidade (Efésios 4:28).
Então biblicamente podemos dizer que o trabalho honesto é uma bênção, não uma maldição. O trabalho pode ter sido afetado pelo pecado, mas não teve origem no pecado. Aqui também é importante afirmar que assim como o trabalho é uma ordenança de Deus, o descanso também o é (cf. Êxodo 20:9-11).
2. A Bíblia reprova o preguiçoso que não quer trabalhar
Em segundo lugar, não querer trabalhar é um erro muito grave. Na igreja em Tessalônica algumas pessoas começaram a enxergar o trabalho como algo desnecessário. Em linhas gerais, eles acreditavam que a vinda de Cristo estava próxima e por isso deviam deixar de trabalhar. Como resultado, essas pessoas passaram a viver à custa dos outros. Inclusive, os desocupados ainda tinham tempo para de intrometerem na vida particular dos demais.
Paulo repreendeu severamente esse tipo de comportamento. Ele disse que os crentes deveriam se afastar daqueles que viviam sem trabalhar, e seguir o seu bom exemplo de trabalhar constantemente com esforço e fadiga, a fim de não ser pesado a ninguém. Além disso, ele ainda explicou que se alguém não quiser trabalhar, então que também não coma. Mas o crente deve trabalhar em paz e se alimentar do seu próprio pão (2 Tessalonicenses 3:6-10).
3. A mordomia do trabalho é um ministério
Em terceiro lugar, a mordomia do trabalho à luz da Bíblia é um tipo de ministério. Isso quer dizer que devemos glorificar a Deus através do nosso trabalho. Sobre isso, a Bíblia diz que temos que desempenhar nosso trabalho de boa vontade, com sinceridade de coração, como se tivéssemos servindo ao Senhor, e não a homens.
Então através do nosso trabalho devemos revelar que somos servos do Senhor e estamos comprometidos com a vontade de Deus (Efésios 5:5-7). Isso quer dizer que enquanto trabalhamos, estamos servindo ao próprio Senhor; e Ele é quem nos recompensará por todo bem que fizermos (Colossenses 3:22-24).
Essa verdade também no leva a concluir que o trabalho diz muito sobre o trabalhador. Podemos usar como exemplo o próprio trabalho de Deus na criação. No que diz respeito à revelação geral de Deus à humanidade, a Bíblia diz que a obra da criação revela os atributos de Deus (Salmo 19). O mundo criado testifica a existência de Deus, pois revela que há um Criador. Isso torna todas as pessoas indesculpáveis, porque ninguém pode alegar que não sabia da existência de Deus (Romanos 1).
Aplicando esse princípio à mordomia do trabalho humano, as pessoas devem saber que a qualidade do seu trabalho diz muito sobre quem elas são. Por isso o trabalho deve ser visto pelos crentes como um dom de Deus e uma oportunidade de revelar ao mundo seu caráter cristão. Inclusive, é um erro enxergar qualquer divisão entre secular e sagrado nesse sentido.
Como os reformadores fizeram questão de enfatizar, o trabalho digno é um ministério através do qual o cristão serve ao Senhor. Por exemplo: independentemente de sua profissão, o crente serve e honra a Deus através do seu trabalho da mesma forma que um missionário serve e honra a Deus através de seu envolvimento em tempo integral na pregação do Evangelho. Cada um recebeu uma vocação do Senhor. Então ele deve glorificar a Deus através de seu bom trabalho e consagrar ao Senhor todas as suas atividades (Provérbios 16:3).