Os Cavaleiros do Apocalipse

No capítulo 6 do livro de Apocalipse, inicia-se a abertura do livro selado com sete selos. Nos quatro primeiros selos, temos a descrição simbólica de quatro cavalos e seus cavaleiros (vers. 1-8), que é popularmente conhecido como “os cavaleiros do Apocalipse“.

Muitos estudiosos consideram essa passagem como uma das mais difíceis do livro do Apocalipse, com atenção especial ao primeiro selo, que dá lugar ao cavalo branco e seu cavaleiro. As opiniões são tão controversas a respeito desse cavaleiro, que interpretações antagônicas são defendidas, por exemplo, para uns o cavalo branco e seu cavaleiro representa Cristo, enquanto para outros o mesmo cavalo representa o Anticristo. Nesse texto veremos as diferentes opiniões sobre o assunto, e qual delas é a mais coerente com o texto bíblico.

A Interpretação Futurista sobre os cavaleiros do Apocalipse

Antes de estudarmos cada um dos quatro cavalos e seus cavaleiros, precisamos citar o ponto de vista da interpretação Futurista sobre o assunto. A interpretação futurista defende que a partir do capítulo 4 do Apocalipse, os textos se referem aos tempos futuros, principalmente ao período especifico da grande tribulação. Essa interpretação geralmente é utilizada por quem defende a corrente escatológica conhecida como Pré-Milenismo Dispensacionalista Clássico, que assume a posição Pré-Tribulacionista, onde a Igreja é tirada da terra antes de um período de sete anos de grande tribulação.

Assim, segundo essa interpretação, os quatro cavalos, bem como o total de sete selos, se referem a eventos futuros que acontecerão no período de grande tribulação. Logo, o cavalo branco representa o Anticristo (analisaremos esse argumento mais adiante), o cavalo vermelho representa as terríveis guerras de proporções mundiais que ocorrerão nesse período, o cavalo preto representa a fome que haverá, e o sistema de controle que o Anticristo implantará, já que quem não tiver a marca da besta não poderá comprar nem vender, e, o cavalo amarelo, representa a grande quantidade de mortes acontecerão nesse período em decorrência dos cavalos anteriores.

Certamente essa posição é a mais conhecida e defendida entre a maioria dos cristãos, porém está longe de ser a mais tradicional. De forma oficial, o Pré-Milenismo Dispensacionalista começou a ser ensinado apenas no século 19.

Os cavaleiros do Apocalipse: Uma análise completa de como interpretá-los corretamente

Antes de tudo, é importante ressaltar que, o livro do Apocalipse, possui uma grande ligação com o Antigo Testamento, ou seja, há muito material de livros do Antigo Testamento dentro do Apocalipse. Observar esse detalhe, torna a didática do livro muito mais fácil. Sobre a utilização simbólica de cavalos e cavaleiros, o livro do Apocalipse não é o único a utilizar essa linguagem, antes, no livro de Zacarias podemos perceber o mesmo recurso sendo utilizado (Zc 1:8; 6:1).

Na Bíblia, a figura do cavalo é, geralmente, utilizada para representar o conceito de força, guerra, terror e conquista, sendo que no Apocalipse, o mesmo padrão é seguido (Ap 9:7; 14:20; 19:11).

Uma dica muito importante para compreensão não apenas dos quatro cavalos do capítulo 6, mas de todos os sete selos, é a leitura atenta dos capítulos anteriores a este, principalmente dos capítulos 4 e 5. Como auxilio, leia os textos “As Sete Igrejas do Apocalipse” e “A Visão do Trono de Deus em Apocalipse“. Para uma exposição completa dos sete selos leia “Os Sete Selos do Apocalipse“.

Outra dica para interpretarmos corretamente o significado dos cavalos do Apocalipse, é perceber as semelhanças entre Apocalipse 6 e o Sermão Escatológico de Jesus (Mt 24; Mc 13; Lc 21). Também é importante considerar algumas passagens do Antigo Testamento, em que simbolismos semelhantes foram utilizados, como Ezequiel 5:17; 14:21 e Zacarias 1:8

O cavalo branco

E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer.
(Apocalipse 6:2)

Dos quatro cavalos, certamente esse é o mais complicado de se interpretar. Ao longo dos anos, grandes teólogos sugeriram diferentes interpretações. Vejamos as principais delas:

  • O cavalo branco e seu cavaleiro representa o Anticristo: geralmente essa interpretação é defendida por quem entende que o conteúdo do livro selado com sete selos se refere a eventos futuros que ocorrerão no período da Grande Tribulação. Essa é a interpretação predominante dentro do Pré-Milenismo Dispensacionalista. O principal argumento para essa defesa é o fato do Apocalipse utilizar imagens duplas para fazer contrastes, por exemplo: a mulher e a prostituta, Nova Jerusalém e Babilônia e etc. Dessa forma, o cavalo branco representa o Anticristo se contrapondo ao Cristo, ou seja, ele se apresentará como um pacificador, e ganhará muitas vitórias. Ele seduzirá as nações e, com seu domínio mundial, será aclamado como invencível. Exemplo de quem defendeu essa posição: Warren Wiersbe.
  • O cavalo branco representa o poderio militar: nessa interpretação, o cavalo branco e seu cavaleiro representa as grandes conquistas militares que ocorreram ao longo da história, desde o Império Romano, e as que ainda ocorrem em nossos dias. Na época, era costume que o imperador ou rei, montasse em um cavalo branco quando saía para uma guerra. Os cavalos que se seguem após o branco, são consequências trágicas que sempre acompanham as conquistas militares. Exemplo de quem defendeu essa posição: Willian Barclay.
  • O cavalo branco representa a pregação do Evangelho pelo mundo: nessa interpretação, o Evangelho é pregado vitoriosamente pelo mundo inteiro, triunfando sobre as mais terríveis perseguições. Sempre tentaram parar a pregação do Evangelho, aprisionando, condenando os cristãos a morte e fechando igrejas, porém, o Evangelho permanece sendo pregado, e segue “vencendo e para vencer“. Exemplo de quem defendeu essa posição: George Ladd.
  • O cavalo branco representa Cristo: nessa interpretação o cavalo branco e seu cavaleiro representa Cristo. Note que, diferente dos outros cavalos, no cavalo branco não temos nenhuma descrição de maldição. As punições ocorrem na sequência, com os outros cavalos, ou seja, as maldições que os outros cavalos trazem é consequência da saída do primeiro cavalo. Isso significa que sempre que Cristo aparece, Satanás fica ocupado, e as provações para o povo de Deus acontecem. Outra característica importante são os detalhes desse cavalo e seu cavaleiro. A cor é branca, ele possui uma coroa e saiu vencendo e para vencer. No livro do Apocalipse é preciso estar muito atento à importância da simbologia. A cor branca no Apocalipse sempre é associada com o que é santo e celestial, ou seja, nunca é utilizada para fazer referência a Satanás ou qualquer um de seus agentes. No Apocalipse temos as vestes brancas, a nuvem branca, o trono branco, a pedra branca, cabelos brancos etc. O cavaleiro recebe uma coroa, e isso está de acordo com o capítulo 14, onde Cristo estava usando uma coroa de ouro, além de ser uma conclusão natural da principal mensagem do capítulo 5, onde o Cordeiro é coroado, glorificado, exaltado e recebe do Pai o reino para governar. Ainda em Apocalipse 3:21 e 5:5, vemos que a vitória é atribuída ao cordeiro. Em Apocalipse 19:11 é descrito alguém montado em um cavalo branco, e, explicitamente, nos é revelado que o cavaleiro é Cristo. Os pequenos detalhes diferentes entre as duas descrições não podem servir para enfraquecer esse argumento, aliás, é natural que existam detalhes já que a perspectiva da narrativa é outra. Esse argumento está em completa harmonia com o tema principal do livro do Apocalipse, que é a vitória de Cristo e de Sua Igreja (Ap 1:13; 2:26,27; 3:21; 5:5; 6:16; 11:15; 12:11; 14:14; 17:14; 19:11). Essa identificação também reforça o que o próprio Jesus disse em Mateus 10:34, de que Ele traria a espada, isto é, conflitos e perseguições, inclusive dentro dos próprios lares que aconteceriam por amor ao Evangelho. O cavalo vermelho, que segue logo após o cavalo branco, representa justamente essa perseguição. Por último, a expressão “vencendo e para vencer” no original, introduz a ideia de plena invencibilidade, e esse conceito é aplicado apenas a Cristo, sendo que todos os seus adversários, incluindo Satanás e o Anticristo, finalmente, serão todos derrotados. Particularmente, creio que essa posição é a mais coerente, e seus argumentos são incontestáveis. Cristo, através de Seu Evangelho, vence. Exemplo de quem defendeu essa interpretação: William Hendriksen.

O cavalo vermelho

Então saiu outro cavalo; e este era vermelho. Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da terra e fazer que os homens se matassem uns aos outros. E lhe foi dada uma grande espada.
(Apocalipse 6:4)

Existe uma interpretação que considera que o cavalo vermelho representa as guerras e conflitos de forma geral. Porém, ao analisarmos cuidadosamente o texto bíblico, veremos que o cavalo vermelho representa a perseguição religiosa que o povo de Deus é submetido ao longo da História da Igreja. Isso significa que os santos são mortos por causa do nome de Jesus. Isso está plenamente de acordo com o Sermão Escatológico de Jesus (Mt 24; Mc 13; Lc 21). Quem persegue a Igreja é o mundo.

Ao cavaleiro foi dada uma grande espada. No original, essa espada é diferente da espada dada ao cavaleiro do cavalo amarelo. A espada do cavaleiro vermelho no grego é machaira, e era o cutelo sacrificador, ou seja, a adaga usada geralmente em sacrifícios. Na Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para o grego), a mesma palavra é utilizada em Gênesis 22:6-10, na história do sacrifício de Isaque.

Outro argumento muito favorável a essa interpretação é a abertura do quinto selo, onde João vê “as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus“. Também a palavra “matassem” na frase “que os homens matassem uns aos outros“, é a mesma palavra no original utilizada para descrever o assassinato das almas do quinto selo, e, geralmente, é o termo mais utilizado por João, em todos os seus escritos, para se referir ou à execução de crentes, ou do próprio Cristo na cruz.

Por fim, ao considerarmos que Jesus, no Apocalipse, está falando aos cristãos que, na ocasião em que o livro foi escrito, estavam sendo duramente perseguidos até a morte, essa interpretação faz todo sentido. Assim, o cavaleiro do cavalo vermelho não é uma guerra específica, nem mesmo todas as guerras, ou uma pessoa em particular. Sempre que Cristo com Seu Evangelho aparece (o cavaleiro do cavalo branco), segue-se o cavaleiro do cavalo vermelho (Mt 5:10; 11; Lc 21:12; At 4:1; 5:17). Em todas as épocas da História da Igreja, o cavalo vermelho sempre esteve presente. O mundo sempre perseguiu a Igreja, pois a espada é sempre trazida por Cristo e Seu Evangelho, e, assim, a paz é retirada da terra (Mt 10:34).

O cavalo preto

Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: “Venha! ” Olhei, e diante de mim estava um cavalo preto. Seu cavaleiro tinha na mão uma balança.
Então ouvi o que parecia uma voz entre os quatro seres viventes, dizendo: “Um quilo de trigo por um denário, e três quilos de cevada por um denário, e não danifique o azeite e o vinho! ”
(Apocalipse 6:5,6)

Esse cavalo representa a pobreza, opressão, a exploração e a corrupção, devido à injustiça. O texto diz que uma medida de trigo (cerca de um litro) é vendida por um denário. O denário era o salário pela diária de um trabalhador da época, ou seja, tudo que ele ganhou no dia não seria suficiente para sustentar toda sua família. A cevada aparece com preço mais baixo (três medidas por um denário), porém a cevada era o alimento geralmente utilizado para alimentar os animais.

Com tudo isto, o azeite e o vinho não foram danificados. Isso representa que o modo de vida luxuoso dos ricos e poderosos sempre é garantido. Os opressores vivem suas vidas normalmente, com toda regalia. Aqui, alguns estudiosos sugerem que João utilizou como exemplo um episódio que havia ocorrido alguns anos antes do livro do Apocalipse ser escrito.

Houve uma grande escassez de trigo no Império Romano, e foi sugerido um decreto que desapropriasse algumas vinícolas e refinarias de azeite, afim de que mais trigo fosse plantado. Porém, houve grande resistência e protesto por parte da população mais rica, o que acabou impedindo o projeto.

Claro que podemos ver esse padrão de injustiça social como uma verdade que assola todas as gerações até os dias de hoje, porém devemos dar atenção especial aos destinatários do Apocalipse. João escreveu para os cristãos, que, naquela época, representavam a classe mais pobre da sociedade.

Ao lerem esse texto, os irmãos do primeiro século imediatamente entenderam esse símbolo. Não era raro, quando alguém se convertia ao cristianismo, ter seus bens confiscados, seus negócios fechados e, ser impedido de realizar qualquer transação financeira.

Essa era mais uma forma de perseguição. Para ser financeiramente ativo, era preciso negar suas convicções religiosas, se corromper ao sistema pagão do Império Romano, prestar culto ao imperador e, preferir ser um cidadão romano, ao invés de ser um cidadão do céu. Era preciso ter a “marca da besta” para poder comprar e vender (Ap 13:17).

Podemos ver nitidamente esse mesmo princípio atravessando os séculos seguintes a essa profecia, e chegando até os nossos dias. Quantos cristãos verdadeiros (não falo dos hipócritas, falo dos verdadeiramente salvos em Cristo) perdem seus empregos, ou passam por terríveis dificuldades financeiras por não aceitarem práticas que desagradam a Deus? Enquanto alguns cristãos morrem por sua fé, outros são forçados a uma vida de pobreza e dificuldades. O cavalo preto espalha opressão, injustiça e dificuldade econômica através de toda a História da Igreja.

O cavalo amarelo

Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome, por pragas e por meio dos animais selvagens da terra.
(Apocalipse 6:8)

Originalmente a cor desse cavalo não é bem o amarelo, mas sim uma cor pálida, que lembra doença e morte. O cavalo amarelo representa uma provação universal, ou seja, não é apenas a Igreja que está focada aqui, mas todas as pessoas do mundo.

A Igreja passa por essas provações simplesmente por ainda estar no mundo. No Sermão Escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 21) Jesus também adverte que haveria tribulações que atingiriam a todos, ou seja, existem provações que a Igreja especialmente é submetida, e outras a qual o mundo todo é submetido.

O nome do cavaleiro é Morte, e significa a morte no sentido geral, em suas mais diversas causas. Também é dito que o Hades (ou inferno em algumas traduções) o seguia. Isso quer dizer que a morte ceifa, enquanto o Hades recolhe os mortos. Hades aqui simboliza o estado de existência desencarnado, onde o corpo desce à sepultura, mas a alma continua viva.

A eles é dada autorização para matar à espada, pela fome, com pestilências e pelas bestas feras. A espada utilizada nessa descrição é diferente da espada do segundo cavaleiro. No original, essa espada vem do grego rhomphaia, que se refere à espada de guerra. Sendo assim, aqui realmente trata-se de guerras mesmo. Nações contra nações, povos contra povos, conflitos civis e todas as outras violências que causam morte.

Também lhes é permitido matar pela fome. Devemos entender essa fome de forma geral como: problemas sociais que causam misérias pelo mundo, escassez de alimentos, fome causada por consequências das próprias guerras e conflitos, injustiças etc.

As pessoas também morrerão devido à pestilência, que são pragas, doenças e contaminações. Por fim, também é dito que pessoas morrerão pelas bestas feras da terra, ou seja, mortes ocasionadas por animais. Juntas, essas quatro descrições (espada, fome, pestilências e bestas feras), representam todas as desgraças que atingem o mundo e causam mortes.

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Conclusão sobre os cavaleiros do Apocalipse

É importante ressaltar que a descrição dos quatro cavalos é feita da perspectiva de seus efeitos sobre o reino de Deus. Após o último cavalo (amarelo), fica mais clara a interpretação dos cavalos anteriores. Podemos dizer que o segundo e terceiro cavalos simbolizam a perseguição do mundo contra a Igreja, enquanto o quarto cavalo representa as desgraças comuns que atingem toda a humanidade.

Resumidamente, nos quatro cavaleiros do Apocalipse, podemos entender que o mundo perseguirá os eleitos de Deus de todas as maneiras possíveis. Alguns pela espada, outros pela fome, outros pela injustiça e outros pelo preconceito.

Porém, isso não foge do controle de Deus, ao contrário, esses cavalos são instrumentos nas mãos dEle. Ele é quem abre os selos. O cristão hipócrita fatalmente não resistirá, e negará sua fé fingida. Mas o cristão verdadeiro jamais negará a fé salvadora, e, a este, será dado o poder de sofrer pelo nome de Cristo.

Para o cristão verdadeiro, todas essas dificuldades e perseguições só servem para aproximá-lo ainda mais de Deus, e fazer com que ele se sinta completamente dependente d’Ele.

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Um Comentário

  1. VC explicou tudo sobre o cavalo branco e aquele que estava assentado nele , falou da coroa , da cor branco , mas não falou do arco , em texto nenhum . fala que Cristo usa arco pelo contrário, fala quebra o aeco e corta a lança . salmos 46 , então de maneira nenhuma pode ser Cristo , até porque , quando é dado a ele pra abrir os selos a uma sequência de acontecimentos futuros . Não pode ser de maneira nenhuma Cristo.
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