Filho de Pastor: E Se Ele Não For Crente?

Provavelmente você conhece algum filho de pastor. Talvez conheça um filho de pastor que seja classificado como sendo uma “benção”, mas a verdade é que nem todos são assim. Existe muito filho de pastor que passa bem longe disso.

Diante disso, algumas pessoas perguntam: E quanto aos pais destes filhos “problemáticos”? Seus ministérios estarão censurados?

Geralmente tais perguntas acorrem principalmente em referência ao conselho de Paulo a Timóteo (1 Timóteo 3:4). Nesse texto ele fala das exigências para a qualificação dos ministros da igreja. Uma dessas exigências diz que o obreiro deve ser um pai exemplar e que conduza bem a sua própria casa, tendo os seus filhos em sujeição. O mesmo conselho é repetido em Tito 1:6.

Filho de pastor ou filho de um pai?

Desde que eu me entendo por gente, sempre presenciei meu pai não tendo apenas a nossa casa para cuidar. Ele sempre precisou se dividir também entre algumas outras centenas de pessoas que enxergam nele uma “espécie de pai”. Não vou falar do relacionamento entre Igreja e pastor neste texto, simplesmente porque não é o nosso tema.

O que precisamos deixar bem explicado é que um filho de Pastor é, sobretudo, filho de um pai. O correto é dizer que não existem filhos de pastores, e sim, filhos de pais que são pastores.

O filho de pastor e a herança pastoral

O filho de pastor não é um semi-pastor, um pré-pastor ou, o mais popularmente conhecido “pastorzinho”. O pastorado não é um tipo de pensão vitalícia ou herança para os filhos (pelo menos não deveria ser). O fato de um pai ser pastor não significa que seu filho seja crente e muito menos salvo. Pastor não é rei, e nem tão pouco seu filho um príncipe.

Um dos exemplos mais citados de obrigatoriedade de profissão é o dos pais médicos que obrigam seus filhos a também serem médicos. O resultado disso todos sabem: péssimos médicos. Com os pastores e os “pastorezinhos”, essa regra não é exceção.

A menos que o filho de pastor tenha um chamado ministerial verdadeiro em sua vida, este deve ficar longe do pastorado. Um filho de pastor ser membro de uma Igreja não é desonra nenhuma, nem para ele e nem para seu pai. Saiba também o que é a Igreja.

Infelizmente muitas igrejas são tratadas como verdadeiros impérios. O pastor estabelece uma monarquia onde o trono é passado de pai para filho, sem que este filho de pastor tenha ao menos escolhido ser pastor, e o pior, sem Deus tê-lo escolhido para exercer o pastorado.

Uma vez escutei um pastor dizer algo bem difícil de entender. O seu filho morava em outra cidade, então ele o mandou buscar e disse que precisava que esse filho assumisse a Igreja que ele pastoreava porque ele não queria que a Igreja ficasse na mão de qualquer um.

O detalhe é aquela era uma Igreja de cerca de dez mil membros, com pelo menos 50 pastores. Será que nenhum deles tinha preparo para assumir a Igreja? Não estou questionando o chamado de Deus na vida desse filho (eu o conheço e ele é um ótimo pastor também). Porém o que questiono é que, se em uma Igreja desse porte não existir alguém com capacidade ministerial para assumir essa liderança, então a missão de “fazer discípulos” foi um fracasso.

O filho de pastor e a recomendação de Paulo

Por fim, vamos falar então sobre a recomendação de Paulo. Para entendermos bem essa recomendação, vamos reescrever alguns versículos:

Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;
Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;
Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
(Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? );
Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
(1 Timóteo 3:2-7)

Note nos versículos acima que quando o apóstolo Paulo fala sobre ter seus filhos em sujeição e domínio sobre a sua própria casa, antes, ele já havia descrito pelo menos doze características exigidas para um líder ministerial.

Paulo não estava cobrando que os filhos adultos dos líderes cristãos fossem crentes. O foco do apóstolo são os filhos menores que ainda estão sob a sujeição de seus pais. Ele estava dizendo que esses líderes deveriam conseguir passar aos seus filhos um caráter exemplar. O obreiro precisa ter o respeito de seus filhos. Se considerarmos todas as características citadas por Paulo antes do versículo quatro, poderemos idealizar um exemplo de pessoa na qual a tarefa de dominar a própria casa será um reflexo de sua conduta exemplar.

Cada pessoa possuí suas próprias aspirações. Com os filhos de pastores não é diferente. Embora durante toda nossa vida sempre tomamos algo ou alguém como exemplo, existe um momento na infância em que a personalidade é construída. Durante esse período as referências de caráter são muito mais absorvidas do que em qualquer outro momento da vida de um individuo.

É nesse momento que não o pastor ou o obreiro, mas o pai, precisa ensinar o menino no caminho em que ele deve andar. Ele deve fazer isso não com o objetivo de formar um pastorzinho, mas acima de tudo uma pessoa de caráter. Infelizmente muitas vezes nos preocupamos tanto em formarmos “crentes” que nos esquecemos de formar “pessoas de bem”.

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A responsabilidade pessoal dos filhos de pastores

A partir do momento em que os filhos adquirem a capacidade de discernimento e começam a conduzir suas próprias vidas, então o pai não poderá mais ser responsabilizado pelas atitudes dos filhos. O profeta Ezequiel fala exatamente sobre isso (Ezequiel 18:1-20).

Além disso, a salvação é pela graça mediante a fé. Ninguém pode salvar-se a si mesmo ou seus dependentes. O único que pode nos salvar é Jesus. Nosso papel é simplesmente anunciar a verdade. Ser filho de pastor não é meio caminho andado para salvação.

O filho de um engenheiro civil não pode ser cobrado de saber construir um prédio. Seu pai também não pode ter o registro de engenheiro suspenso por que seu filho não sabe assentar um tijolo. Da mesma forma um pastor não pode ter seu ministério censurado pelas atitudes de um filho adulto. Esse filho é um indivíduo capaz perante Deus e a sociedade.

Quando escreveu 1 Timóteo 3:4, Paulo não estava responsabilizando os pais obreiros pelas ações dos filhos. A principal mensagem de Paulo nesse versículo é que a disciplina relaxada e a falta de exemplo como pai, desqualifica o pastor tanto como líder na igreja, como chefe da sua própria casa.

Conheço muitos filhos de pastores que tiveram um ótimo ensinamento. Eles “cresceram” no evangelho, mas o evangelho não cresceu dentro deles. Quando alcançaram a idade adulta, tomaram suas próprias decisões. Conheço outros que não tiveram exemplo algum dentro de casa, mas se tornaram grandes líderes ministeriais.

Às vezes reprovamos um pastor cujo filho não dá bom testemunho, e aprovamos outros que não são hospitaleiros, não são aptos no ensinamento, possuem torpe ganância, mas seus filhos são ótimos.

Conselhos práticos

Nunca podemos nos esquecer que uma hora os filhos crescem, e os pais não estarão mais com eles em momentos em que terão de tomar decisões sozinhos. Porém, se no período de formação os filhos tiveram exemplos de pais que conduziram bem suas casas, as chances das escolhas desses filhos serem acertadas podem ser maiores.

Já para os pais que são pastores, saiba que seu ministério pode ser sim ser limitado pela falta de disciplina dentro de sua própria casa (cf. Tito 1:6). Mas nem sempre são os filhos que limitam ou até destroem esse ministério. Às vezes outros familiares como conjugues, pais e irmãos contribuem para isso. Nesses casos é preciso fazer uma reflexão pessoal e ler bem essas recomendações de Paulo. Com isso, você precisa estabelecer a autoridade primeiramente em sua própria vida.

Mas quanto aos filhos, lembrem-se que é fácil às vezes ficarmos tão envolvidos em preservar os filhos dos outros, que acabamos perdendo o controle dos nossos próprios filhos.

Para os filhos de pastores

Se for o seu desejo e você buscar a capacitação da parte de Deus, é claro que você poderá ser um grande pastor. Se você fizer isso, certamente você poderá exercer esse pastorado sobre a aprovação de Deus. Se esse não é o seu desejo, saiba que isso não o torna menos importante.

Você precisa se preocupar em ser cristão conforme a Palavra de Deus nos instrui a ser. Consequentemente você será uma pessoa de caráter. Mas lembre-se que a salvação não é hereditária. Só existe salvação no sangue de Jesus e não em um tipo de “sangue pastoral”.

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Um Comentário

  1. Olá, graça e paz, muito bom o texto, quanto à carta de Paulo a Timóteo, gostaria de entender melhor o testo de Tito 1:6, onde parece ser bem direto quando diz que o presbítero tem que ter “filhos crentes”, que não são acusados de dissolução e nem insubordinados.
    Pode nos esclarecer? Filhos crentes?