Os Sete Selos em Apocalipse
Para muitos, o livro selado com sete selos em Apocalipse capítulo 6, é uma das passagens mais difíceis de interpretar dentro do Apocalipse. Diversas posições interpretativas surgiram com o propósito de debater o conteúdo do livro selado com sete selos. Neste texto, conheceremos as principais interpretações sobre o próprio livro, bem como, cada um dos seus sete selos.
O livro selado com sete selos
De forma geral, basicamente existem duas interpretações sobre o significado do livro em relação ao período que ele descreve. É importante entender esse princípio antes de discutir a abertura dos selos, pois, a interpretação de cada selo, será completamente dependente da posição adotada acerca do período a qual os relados desse livro se destina.
Interpretação 1: O livro selado com sete selos descreve o período da grande tribulação
Nesta interpretação, o livro selado com sete selos, descreve o período final da presente era, ou seja, a grande tribulação. Geralmente essa posição é defendida por quem adota a interpretação futurista do livro do Apocalipse, o que é mais comum dentro da corrente escatológica conhecida como Pré-Milenismo Dispensacionalista Clássico, que defende a visão Pré-Tribulacionista do arrebatamento da Igreja.
Hoje, podemos dizer que a maioria dos cristãos segue essa linha escatológica, principalmente devido ao grande número de livros best-sellers, e trilogias de filmes já produzidas que defendem essa posição. Dentro dessa corrente escatológica, a interpretação dos sete selos é bem simples:
- Primeiro Selo: no primeiro selo, o cavalo branco com seu cavaleiro representa o Anticristo que seduzirá as nações.
- Segundo Selo: no segundo selo, o cavalo vermelho com seu cavaleiro representa as guerras que ocorrerão nesse período futuro, talvez até uma grande guerra mundial, culminando na perseguição dos judeus.
- Terceiro Selo: no terceiro selo, o cavalo preto com seu cavaleiro, representa uma grande fome que assolará a terra, e quem não tiver a “marca da besta”, ou seja, o controle proposto pelo Anticristo, não poderá comprar nem vender.
- Quarto Selo: o quinto selo mostra o cavalo amarelo com seu cavaleiro, que representa o grande número de mortes que ocorrerão na grande tribulação pelas mais diversas causas.
- Quinto Selo: no quinto selo, João vê os mártires da grande tribulação, ou seja, os cristãos que morreram nesse período especifico em decorrência da perseguição imposta pelo Anticristo.
- Sexto Selo: o sexto selo mostra terríveis desastres naturais como: grandes terremotos, eclipses, queda de estrelas (segundo quem defende essa posição seriam meteoros) e muitas pessoas morrerão por conta disso.
- Interlúdio: entre o sexto e o sétimo selo, João vê judeus que se converterão na grande tribulação e serão selados, isto é, protegidos por Deus durante esse período, e também os mártires de todas as nações que morrerão em decorrência da perseguição do Anticristo. Saiba quem é o Anticristo na Bíblia.
- Sétimo Selo: O sétimo selo se refere à segunda metade da grande tribulação, com os anjos tocando sete trombetas, que representam mais sete acontecimentos que assolarão o mundo.
Interpretação 2 – O livro selado com sete selos descreve toda a era da Igreja:
Dentro dessa posição, o livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos, a qual apenas o Cordeiro é capaz de abri-lo e desatar os seus selos, representa toda a História, desde a ascensão de Cristo ao céu, até o Seu retorno glorioso. Essa interpretação é a mais histórica dentro do cristianismo, sendo defendida por grandes teólogos durante a História da Igreja, e geralmente é adotada por Amilenistas, Pós-Milesnistas e Pré-Milesnistas Históricos. Nessa posição, a interpretação dos selos será a seguinte:
- Primeiro Selo (cap. 6 | vers. 1-2): o cavalo branco com seu cavaleiro representa o próprio Cristo, que vence com o Evangelho. Os símbolos no Apocalipse são extremamente importantes, sendo que a descrição que inclui a cor branca, a coroa, e o aspecto de invencibilidade, só pode estar se referindo a Cristo. Sendo assim, o texto de Apocalipse 19:11-16, apresenta pequenas diferenças em relação aos detalhes do cavaleiro do primeiro selo, e reforça essa ideia, com uma descrição incontestável de Cristo. Essa interpretação parece estar mais de acordo com o tema principal do livro do Apocalipse que é a vitória de Cristo e de Sua Igreja. Dentro desta interpretação, alguns enfatizam a própria figura de Cristo mesmo, enquanto outros enfatizam a pregação do Evangelho, já que Cristo é quem abre os selos e, após ser exaltado, sua primeira ação é prover as condições para que o Evangelho seja pregado vitorioso em todo o mundo. Seja como for, existe base escriturística para ambas as posições, e de uma maneira mais conclusiva, não há como separar o aspecto vitorioso do Evangelho do próprio Cristo.
- Segundo Selo (cap. 6 | vers. 3-4): o cavalo vermelho com seu cavaleiro representa a perseguição ao povo de Deus durante a História. A Igreja enfrentou duras perseguições ao longo dos séculos, desde a época em que o livro do Apocalipse foi escrito, sendo perseguida pelos judeus e o Império Romano, até nossos dias atuais, como por exemplo, sendo perseguida fisicamente no Oriente Médio e em vários países fechados ao Evangelho, e moralmente em diversas partes do mundo.
- Terceiro Selo (cap. 6 | vers. 5-6): o cavalo preto representa a pobreza, opressão e corrupção, devido à injustiça. Esse cavalo parece ser uma consequência do cavalo anterior. Embora, de forma geral, seja possível perceber um padrão de injustiça e de dificuldades financeiras agindo pelo mundo todo, muitos intérpretes concordam que esse selo se aplica especialmente aos cristãos, que, por não se corromperem, são impedidos de comprar e vender. Na época em que o Apocalipse foi escrito, os cristãos que não prestavam culto ao imperador romano, tinham seus bens confiscados, além de serem proibidos de realizar qualquer transação financeira.
- Quarto Selo (cap. 6 | vers. 7-8): o cavalo amarelo com seu cavaleiro representa a morte e seus instrumentos, ou seja, a guerra (espada), fome, pestilência e bestas feras. Esse selo simboliza as desgraças universais que tanto a Igreja, quanto toda a humanidade, devem sofrer.
- Quinto Selo (cap. 6 | vers. 9-11): nesse selo o cenário da visão é mudado, ao invés da terra, João agora passa a ver o céu, claro, de forma simbólica. Antes, João viu o efeito na terra do que é causado no céu, agora, João vê o efeito no céu do que é causado na terra. João viu um altar, e as almas dos mártires que morreram pela sua fé como uma espécie de sacrifício. Cada um desses que foram sacrificados, recebem vestes brancas, simbolizando justiça, pureza, santidade e alegria. Eles esperam descansando de suas fadigas terrenas, até que o número dos mártires se complete. Quando o último mártir for sacrificado, então virá o Dia do Senhor. É importante entender que essas almas não estão inconscientes, mas estão lúcidas e pedindo vingança, não pessoal, mas da justiça divina. Esse clamor do quinto selo é o clamor da Igreja diante de tantos massacres a qual já foi e, ainda é, submetida.
- Sexto Selo (cap. 6 | 12-17): o sexto selo mostra o dia da ira do Cordeiro. É o dia do juízo, e não há como escapar. João usa como símbolo desse dia o universo sendo completamente sacudido, e os homens tentando se esconder, não desse aterrorizante cenário, mas das mãos do Deus irado. Note que eles procurarão a morte física, mas nada os livrará do dano da segunda morte. Perceba que todas as classes de pessoas terão de comparecer diante do julgamento de Deus.
- Interlúdio (cap. 7): antes do sétimo selo acontece um interlúdio, onde a mesma cena do capítulo 6 é descrita, porém de outra perspectiva, ou seja, não é uma sequência cronológica de eventos, mas o mesmo evento visto de outro ângulo. João vê que tudo está pronto para que o juízo de Deus seja derramado, porém o que está impedindo que isso aconteça é a selagem dos eleitos. Quando todos os eleitos forem selados (tal qual no capítulo anterior onde o número de mártires deveria ser completado), Cristo voltará. O capítulo 6 termina mostrando o grande terror dos ímpios diante do juízo que terão de enfrentar. Já o capítulo 7 termina mostrando a grande alegria e a glorificação dos remidos na segunda vinda de Cristo.
- Sétimo Selo (cap. 8): o sétimo selo inicia a sequência dos sete anjos tocando sete trombetas. Não há sucessão cronológica, ou seja, não se trata de sete eventos novos. Aqui, a mesma cena é mostrada, e a mesma história é contata, porém de uma nova perspectiva. Lembre-se que o livro do Apocalipse é organizado em sete seções paralelas e progressivas, e que abrangem desde a primeira até a segunda vinda de Cristo, ou seja, cada vez que a história é recontada, a narrativa vai se intensificando, de modo que as cenas vão ficando mais claras. De forma bem resumida e direta, os selos mostram o sofrimento da Igreja perseguida pelo mundo, enquanto as trombetas mostram o sofrimento do mundo em resposta às orações da Igreja. Note que da mesma forma que os selos são interrompidos por um interlúdio (cap. 7), as trombetas também são interrompidas por um interlúdio (caps. 10 e 11). Para saber mais sobre isso leia os textos “Como Estudar o Apocalipse” e “Leitura Sucessiva ou de Recapitulação em Apocalipse?“. Para uma análise completa sobre os cavalos e seus cavaleiros em Apocalipse leia o texto “Os Cavaleiros do Apocalipse“.
Qual a melhor interpretação sobre os sete selos em Apocalipse?
Reconheço que o livro do Apocalipse não é um dos livros da Bíblia mais fáceis de interpretar, o que fica evidente pela variedade de interpretações diferentes disponíveis. Sei que isso acaba assuntando um grande número de cristãos. Até mesmo entre os teólogos mais gabaritados, o livro do Apocalipse é alvo de intensos debates. Por isso, é preciso muito respeito com quem pensa diferente de nós.
Quanto a mim, creio que a posição mais coerente biblicamente, considerando o estilo literário do livro do Apocalipse, é a segunda interpretação, que defende que o livro selado com sete selos descreve o período desde a ascensão de Cristo ao céu até a Sua segunda vinda. Sendo assim, o conteúdo dos capítulos estudados são visões que tratam da perseguição à Igreja e do juízo de Deus sobre os seus inimigos.
Particularmente, não vejo qualquer possibilidade de interpretar o livro do Apocalipse como uma sequência cronológica e futura de eventos, ou seja, como se um capítulo sucedesse o outro. Interpretar o Apocalipse dessa forma é ignorar a organização natural do conteúdo do Apocalipse, e anular complemente o contexto histórico do livro.
Embora muitas pessoas se esqueçam, o livro do Apocalipse teve destinatários primários: as sete igrejas da Ásia Menor. Aqueles irmãos estavam sendo duramente perseguidos, e clamavam por uma resposta de Deus. Sem condições humanas nenhuma, eles desafiavam o maior império que esse mundo já viu até então: o Império Romano.
O livro do Apocalipse é a resposta de Deus, tanto à Igreja do século I, quanto a Igreja de todas as épocas. Aqueles irmãos souberam que a vitória pertence a Cristo, e que eles, mesmo com tantas provações, eram mais do que vencedores. Essa resposta também é atual para nós, e devemos saber que, juntamente com o Cordeiro, venceremos todas as investidas do mal.
Não faz sentido algum entender que a partir do capítulo 4 do Apocalipse o livro é exclusivo sobre eventos futuros que ocorrerão no fim dos tempos. Penso que o livro do Apocalipse relata sim, várias vezes, os eventos futuros que acorrerão, porém abrange todo o período da História da Igreja, até a segunda vinda de Cristo, o Juízo Final e, por fim, o estado eterno, com novo céu e nova terra.
Uma dica que dou para quem quer estudar o livro do Apocalipse é dar atenção especial aos capítulos 4 e 5. Com a visão do trono de Deus que João descreve, podemos perceber a soberania do nosso Deus que governa todas as coisas, e que está atento ao que acontece com Sua Igreja, garantindo, de forma incontestável, que no final Cristo vence, e, com Ele, Sua Igreja também.
Desta forma, entendemos que a História está nas mãos do Cordeiro, Ele é quem abre os selos, e conforme os selos são abertos no céu, diretamente a terra é impactada. Um auxílio para entender o capítulo 6 de Apocalipse, é perceber que ele possui muitos detalhes paralelos ao Sermão Escatológico de Jesus (Mt 24; Mc 13; Lc 21).