Roboão foi o filho de Salomão e neto do rei Davi. A história de Roboão, também chamado Reoboão, ficou conhecida na Bíblia por ter sido o rei que sucedeu Salomão no trono de Jerusalém. Além disso, seu reinado também foi marcado pela divisão do reino unificado de Israel em dois reinos separados: Israel ao norte e Judá ao sul. Portanto, Roboão é contado como o primeiro rei de Judá, após a divisão dos reinos.
O exato significado do nome Roboão é discutido entre os estudiosos, mas normalmente a posição mais aceita é a de que Roboão significa “o povo se expande” ou “ele aumenta o povo”. Se isto estiver correto, curiosamente o que ocorreu em seu governo em Israel foi exatamente contrário ao significado de seu nome, pois durante o seu tempo o povo foi dividido.
Roboão nasceu antes de Salomão ascender ao trono de Israel. Esta informação é possível à luz do registro bíblico de que o rei Salomão reinou durante quarenta anos, e que Roboão começou o seu reinado aos quarenta e um anos de idade (1 Reis 11:42 e 14:21).
A mãe de Roboão era Naamá, uma mulher amonita. Apesar de a Bíblia não fornecer maiores detalhes sobre a identidade de sua mãe, é amplamente aceito entre os intérpretes do Antigo Testamento que Naamá era uma princesa de Amom, provavelmente pertencente à casa de Naás, o rei amonita que manteve um bom relacionamento com o rei Davi.
O contexto familiar de Roboão
Roboão cresceu num ambiente familiar complicado. Seu pai foi o rei israelita que mais transgrediu a recomendação divina contra a prática de juntar muitas mulheres. Salomão teve setecentas princesas como esposas, e trezentas concubinas. Além disso, com o tempo Salomão desviou o seu coração do Senhor e começou a cultuar os falsos deuses dos povos de suas esposas. Inclusive, Salomão chegou a construir um santuário a Milcom, o deus cultuado pelos amonitas, que era o povo da mãe de Roboão. Portanto, as práticas idólatras estiveram muito presentes na vida de Roboão.
Assim como Salomão, Roboão também manteve um vasto harém. A Bíblia diz que Roboão teve dezoito esposas e sessenta concubinas, e foi pai de vinte e oito filhos e sessenta filhas (2 Crônicas 11:21). O texto bíblico registra os nomes de duas das esposas de Roboão: Maalate e Maaca, também conhecida como Micaía.
Maalate pertencia à linhagem de Davi, tanto por ascendência paterna quanto materna. Juntos, Roboão e Maalate foram pais de Jeús, Semarías e Zaão. Por outro lado, Maaca é citada como filha de Absalão e a mulher a quem Roboão mais amava. Os estudiosos discutem a identidade desse Absalão. Muitos acreditam que não se tratava do filho de Davi que tentou usurpar o trono de Israel, visto que a Bíblia menciona apenas Tamar como filha de Absalão (2 Samuel 14:27). Outros acreditam que Maaca talvez fosse neta de Absalão, provavelmente através de Tamar.
Roboão e Maaca foram os pais de Abias, Atai, Ziza e Selomite (2 Crônicas 11:20). Roboão designou seus filhos para governar cidades fortificadas, uma prática comum na época para garantir a lealdade e a segurança das regiões. O filho preferido de Roboão foi Abias, que acabou sendo o seu príncipe herdeiro.
O reinado de Roboão e a divisão de Israel
O reinado de Roboão foi marcado por desafios e decisões que mudaram para sempre a história de Israel. Ele reinou durante dezessete anos, mas os estudiosos debatem as datas exatas de seu reinado. Contudo, a maioria concorda que, provavelmente, ele governou de 931 a 914 a.C.
A ascensão de Roboão ao trono de Israel ocorreu em um período muito turbulento. Havia um descontentamento entre o povo devido às políticas opressivas de Salomão, que incluíam, entre outras coisas, pesados impostos e trabalho forçado. Os israelitas demonstraram uma insatisfação insustentável, e isto culminou em uma reunião em Siquém, onde as tribos do norte exigiram alívio das pesadas cargas impostas pelo governo de Salomão.
Porém, Roboão, influenciado por jovens conselheiros, respondeu às reivindicações do povo de forma desdenhosa, autoritária e provocativa. Na verdade, Roboão ignorou o conselho dos anciãos de Israel, e decidiu aumentar ainda mais a carga sobre os israelitas. Este foi um erro fatal que resultou numa grande revolta que dividiu o seu reino.
As dez tribos do norte se rebelaram sob a liderança de Jeroboão, formando o Reino do Norte. Isso demonstrou não apenas uma rejeição a Roboão, mas à casa de Davi. Roboão até tentou reafirmar sua autoridade através da força militar, reunindo um exército de cento e oitenta mil homens das tribos de Judá e Benjamim. Porém, essa tentativa foi frustrada pela intervenção divina. Através do profeta Semaías, Deus sinalizou que a divisão do reino era sua vontade, e proibiu que Roboão fizesse guerra contra as tribos do norte.
As políticas militares e as práticas religiosas de Roboão
O texto bíblico diz que a tensão entre Roboão e Jeroboão persistiu durante todo o reinado do filho de Salomão (2 Crônicas 12:15). Mas parece que Roboão sempre se sentiu mais ameaçado pelo Egito e pelos filisteus do que pelo Reino do Norte.
Seja como for, durante o início de seu reinado, Roboão investiu na fortificação de cidades, estabelecendo uma linha de defesa robusta, especialmente a oeste e ao sul de Jerusalém. Estas fortificações não apenas proporcionaram segurança contra invasões, mas também reforçaram a autoridade de Roboão sobre as regiões internas de seu reino. Portanto, nesse aspecto a fortificação de cidades e a construção de defesas foram medidas necessárias para garantir a segurança e a estabilidade do Reino de Judá.
Mas enquanto Roboão se concentrava em fortalecer o reino militarmente, espiritualmente, a situação deteriorava-se. Na verdade, inicialmente Roboão e o povo demonstraram lealdade ao Senhor. Inclusive, por causa dos desvios religiosos de Jeroboão no Reino do Norte, os sacerdotes e levitas de Israel retornaram a Judá naquele tempo (2 Crônicas 11:13).
Porém, depois de três anos, quando o reino de Judá já estava confirmado e fortificado, Roboão e seus súditos deixaram o Senhor. Roboão e o povo de Judá se desviaram, adotando práticas idólatras e abandonando os ensinamentos divinos.
Então, rapidamente surgiram postes-ídolos, altares e santuários onde se praticavam rituais pagãos (1 Reis 14:23). Inclusive, o texto bíblico diz que naquele tempo havia até mesmo prostitutos cultuais em Judá, e o povo fez todas as coisas abomináveis que caracterizavam as nações cananeias que Deus havia expulsado daquele terra (1 Reis 14:24). Portanto, a idolatria tornou-se predominante em Judá, e isso provocou a ira de Deus.
A invasão de Sisaque
A resposta divina à idolatria do povo de Judá, veio no quinto ano do reinado de Roboão. O faraó Sisaque, fundador da Vigésima Segunda Dinastia do Egito, invadiu o reino de Judá e impôs a Roboão o seu maior desafio (1 Reis 14:25-26; 2 Crônicas 12:2-4).
A invasão de Sisaque é corroborada por evidências arqueológicas e inscrições egípcias, e, em parte, foi uma tentativa de reafirmar a influência egípcia na região. De qualquer forma, a ofensiva de Sisaque evidenciou a fragilidade política e econômica de Judá, e foi um golpe devastador para a reputação de Roboão.
Sisaque não apenas tomou as cidades recém fortificadas de Judá, mas também marchou contra a capital do reino, Jerusalém, e saqueou os tesouros do Templo e do palácio real. A destruição só não foi completa, porque Roboão e o povo se humilharam perante o Senhor em resposta à palavra divina que lhes veio por intermédio de Semaías. Deus teve misericórdia de Judá e poupou Jerusalém da destruição, mas permitiu a opressão egípcia sobre o povo.
O fato de Roboão ter sido forçado a entregar aos egípcios os escudos de ouro que seu pai, Salomão, havia feito, substituindo-os por escudos de bronze, evidenciou sua completa humilhação (2 Crônicas 12.9-10). A glória de um reino que impressionou a todos durante os dias de Salomão, já havia se desvanecido. Esta invasão serviu como um lembrete amargo para Roboão e seu povo sobre as consequências de se desviar dos caminhos de Deus.
A morte de Roboão
O reinado de Roboão realmente foi tumultuado, e seu legado é uma mistura de sucessos e fracassos. Infelizmente ele ficou marcado nas páginas bíblicas com a terrível designação: “Fez ele o que era mau, porquanto não dispôs o coração para buscar ao Senhor” (2 Crônicas 12:14). Porém, pelo menos durante duas vezes Roboão demonstrou obediência à voz de Deus, evitando que a ira do Senhor fosse derramada por completo sobre o seu reino (2 Crônicas 12:12).
Na verdade, embora Roboão não tenha sido um exemplo de rei comprometido com os mandamentos do Senhor, ainda assim restaram coisas boas em Judá durante o seu reinado (2 Crônicas 12:12). O reinado de Roboão foi marcado por desafios internos e externos, e suas decisões tiveram repercussões duradouras para o povo de Israel.
A história de Roboão serve como um lembrete da importância da sabedoria, da humildade e da fidelidade a Deus. Quando os dias de Roboão terminaram, ele foi sepultado na Cidade de Davi, e Abias, seu filho, reinou em seu lugar.