O Que é o Pecado Original e Qual o Seu Significado?
Pecado Original é a designação dada na teologia com referência ao estado, condição e qualidade de pecado em que todos os homens nascem. Esse termo traduz o latim peccatun originale. Na História da Igreja, a doutrina bíblica do pecado original começou a ser mais amplamente sistematizada no século 4 d.C. com Agostinho de Hipona.
O que significa “pecado original”?
Antes de falarmos sobre o que significa a expressão “pecado original”, é necessário que façamos uma importante observação sobre o que ela não significa. Essa expressão de maneira alguma significa um tipo de pecado pertencente a constituição original do ser humano antes da Queda, pois isso implicaria no fato de Deus ter criado Adão já pecador.
A Bíblia é bastante clara ao afirmar que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Adão, o primeiro homem, era bom em todos os sentidos, e não possuía qualquer inclinação à maldade (Gênesis 1:26,27,31).
Entendido esse primeiro ponto, agora podemos dizer que o significado da expressão “pecado original” refere-se especialmente a três aspectos principais acerca da pecaminosidade da humanidade. Primeiro, a expressão “pecado original” implica no pecado que é derivado da raiz original da raça humana, ou seja, ele foi cometido pelos nossos primeiros pais: Adão e Eva.
Segundo, a expressão pecado original também se refere a verdade bíblica de que todos os descendentes daquele primeiro casal estão contaminados por esse pecado. Isso significa que o homem já nasce em pecado, ou seja, ele não aprende a pecar por influência externa ou mesmo por imitação, ao contrário, ele já nasce num estado de inimizade contra Deus.
Terceiro, o pecado original é assim denominado porque nele está a raiz de todos os outros pecados que todos os homens cometem ao longo de suas vidas. Esses outros pecados são geralmente chamados de “pecados factuais”
A Bíblia fala sobre o pecado original?
A expressão “pecado original” não pode ser encontrada na Bíblia, mas a doutrina a qual ela se refere é amplamente fundamentada nas Escrituras. Logo nos primeiros capítulos de Gênesis, somos informados sobre como o pecado cometido por Adão impactou seus descendentes e a toda criação (Gênesis 3). Leia mais sobre a Queda da humanidade.
O Antigo Testamento ainda destaca de forma muito clara o quão perverso o homem se tornou. Caim, o primeiro humano a nascer, foi o assassino de seu próprio irmão (Gênesis 4). Depois, tão logo a humanidade encontrava-se num estado extremo de pecaminosidade e afronta contra Deus, e por isso foi castigada com o Dilúvio (Gênesis 6).
A explicação para toda essa depravação humana pode ser lida nas palavras do salmista Davi, ao escrever: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).
Já no Novo Testamento, o capítulo 5 da Epístola de Paulo aos Romanos trata de forma detalhada sobre a questão do pecado original. O apóstolo Paulo afirma basicamente que em Adão todos pecam: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12).
Ele também declara que o “juízo veio de uma só ofensa”, e por essa ofensa de Adão “a morte reinou”, visto que por sua desobediência todos foram feitos pecadores (Romanos 5:16-19). O resultado disso é a verdade nitidamente indicada nas Escrituras sobre a pecaminosidade universal (1 Reis 8:46; Jó 14:4; Salmos 143:2; Provérbios 20:9; Eclesiastes 7:20; Romanos 3:1-23; Gálatas 3:22; Tiago 3:2; 1 João 1:8,10).
O mesmo apóstolo, escrevendo aos efésios, ensina que os homens são “por natureza filhos da ira” (Efésios 2:3). A expressão “por natureza” aponta diretamente para a doutrina do pecado original, pois significa que após a Queda, a natureza humana ficou originalmente pecaminosa, de modo que todos os homens participam desse pecado e são culpados perante o Senhor.
Por que o pecado original atinge a todos os homens?
Algumas pessoas se perguntam por que são culpadas do pecado original se foi Adão quem pecou. O mesmo capítulo 5 da Epístola aos Romanos também nos responde a essa pergunta, esclarecendo que Adão era o cabeça da raça humana, isto é, ele representava toda a humanidade diante de Deus.
Diferentemente dos anjos que foram criados já com um número imutável, toda a humanidade derivou de um único homem, do primeiro casal. Assim, quando Adão pecou, ele também precipitou todos os seus descendentes ao pecado. A partir daí, todos os homens já nascem com sua natureza deprava e inclinada ao mal, ou seja, em todas as áreas e aspectos, tanto fisicamente quanto espiritualmente, ao homem é impossível de, sozinho, fazer o bem em relação a Deus, ou mesmo prover algo que o justifique diante do Senhor.
Muitas pessoas tiveram dificuldade em entender esse conceito ao longo da História da Igreja, e por isso surgiram várias doutrinas heréticas que basicamente negam o pecado original e a depravação total da natureza humana.
Os exemplo mais conhecido é o Pelagianismo, que nega que haja qualquer relação entre a atual situação de pecado do homem com o pecado de Adão, defendendo que, no máximo, Adão foi um mau exemplo que induz seus descendentes a pecar. Os socinianos também defendem basicamente o mesmo conceito.
Do Pelagianismo surgiu o Semi-Pelagianismo, que defende que a humanidade herdou a natureza incapaz de Adão, mas sem que ela seja responsável por isso, ou seja, não é imputada culpa ao homem por causa do pecado original. Infelizmente tanto o Pelagianismo como o Semi-Pelagianismo ainda continuam sendo pregados em muitas igrejas.
Com tudo, sem dúvida a Bíblia afirma explicitamente o estado completamente depravado do homem (Romanos 7:18-23; 8:7; Efésios 4:18; 2 Timóteo 3:2-4; Tiago 1:15; Hebreus 3:12). Logo, após a Queda, por natureza o homem não é mais capaz de amar e praticar aquilo que agrada a Deus, ele é completamente impotente com relação à sua própria salvação e possui uma inclinação irresistível ao mal, isto é, ele não consegue deixar de pecar, ao contrário, ele é escravo do pecado (Romanos 6:23).
Todavia, se o homem é retratado nas Escrituras como sendo tão ativo com relação ao bem espiritual quanto um cadáver, a Palavra de Deus também nos dá a boa notícia de que por sua graça salvadora, Deus resolveu, pelo beneplácito de sua vontade, vivificar pecadores que estavam mortos em suas ofensas (Efésios 2:1-8).
Isso se deu através de um plano maravilhoso concebido desde a eternidade, onde, no momento oportuno, Cristo, o Filho de Deus, tornou-se homem, habitou entre nós, e entregou sua própria vida provendo a reconciliação de seu povo com Deus. Jesus, perfeito homem e perfeito Deus, o segundo Adão, representante de uma nova raça, fez certo o que o primeiro Adão fez errado. Se pelo primeiro Adão reina a morte, pelo segundo Adão reina a vida (Romanos 5:17).
Certamente a doutrina do pecado original, ao mesmo tempo em que aponta para a total incapacidade humana em fazer o bem, demonstrando quão grave é seu estado diante de Deus, ela também aponta a profundidade indescritível da maravilhosa graça de Deus que salvou pecadores assim como nós.