Por Que Raquel Roubou os Ídolos de Seu Pai?

A Bíblia não explica exatamente por que Raquel roubou os ídolos de seu pai Labão. O texto bíblico apenas registra que quando a família de Jacó fugiu das terras de Labão, Raquel levou consigo os ídolos do lar da casa de seu pai.

Os ídolos roubados por Raquel eram chamados de terafins. Esses ídolos basicamente eram reconhecidos como os “deuses do lar” ou “deuses domésticos”. A propriedade desses ídolos era comum na cultura de vários povos da antiguidade que os usavam nas práticas de adivinhação, espiritismo, adoração etc.

Mas além desse uso religioso e místico, em algumas culturas os ídolos do lar também serviam a um propósito legal como objetos diretamente associados ao direito de herança e liderança de um clã.

Então considerando todo esse contexto, será que é possível determinar por que Raquel roubou os ídolos de seu pai Labão? A verdade é que, mesmo com todas essas informações, ainda assim não é possível afirmar com certeza a verdadeira intenção de Raquel ao tomar os ídolos da casa de seu pai.

Raquel roubou os ídolos de seu pai para garantir propriedades?

A falta de detalhes bíblicos sobre esse episódio leva muitas pessoas a buscarem informações em fontes e ciências extrabíblicas na tentativa de determinar o verdadeiro motivo de Raquel ter roubado os ídolos de seu pai. Sem dúvida, matérias como a arqueologia, por exemplo, são muito úteis para lançar luz sobre costumes dos tempos bíblicos e, assim, auxiliar o estudante da Bíblia.

Então com base em informações arqueológicas, atualmente muitas pessoas se propõe a afirmar que, com certeza, Raquel roubou os ídolos de seu pai não para a idolatria, mas para garantir que o seu marido Jacó se tornasse o principal herdeiro e líder do clã de Labão após a sua morte. Então essas pessoas falam dos ídolos roubados por Raquel simplesmente como “escrituras de propriedades”.

De fato, a Bíblia diz que Jacó foi enganado e explorado por Labão durante muitos anos. Então faz sentido pensar que, de alguma forma, Raquel estava preocupada que o seu marido tivesse o direito sobre as propriedades de seu pai.

No entanto, esse tipo de suposição não é suficiente para resolver essa questão. Isso porque, em primeiro lugar, é verdade que escavações arqueológicas na Mesopotâmia na cidade de Nuzi, confirmaram que a posse dos ídolos do lar servia para garantir os direitos sobre propriedades.

Mas, em segundo lugar, os mesmos códigos legais encontrados na Mesopotâmia também indicaram que nem sempre os direitos de propriedade eram decididos exclusivamente pela simples posse dos ídolos do lar. Isso significa que mesmo tendo a posse dos ídolos do lar, era possível que uma pessoa não tivesse os seus direitos de propriedade, herança ou liderança do clã garantidos.

Raquel roubou os ídolos de seu pai por que era idólatra?

Com certeza é um erro pensar nos ídolos do lar simplesmente como “escrituras de propriedades”. Algumas pessoas pensam nesses objetos como escrituras ou certidões emitidas pelos nossos cartórios na atualidade, mas elas falham em reconhecer que o propósito primário dessas imagens era religioso; afinal elas eram os “deuses do lar”.

Isso quer dizer que o possível uso legal desses ídolos nas questões envolvendo propriedades, não pode ser dissociado de seu uso religioso. Muito do propósito legal dos ídolos do lar estava apoiado em seu propósito religioso.

Uma pessoa podia ser reconhecida como a detentora dos direitos principais sobre uma propriedade por ter sobre sua posse os deuses que supostamente garantiam proteção, orientação, fertilidade e prosperidade à família. Então não sabemos o quanto Raquel ainda apreciava esse tipo de entendimento quando ela saiu de Padã-Harã.

Além disso, não é possível garantir que Raquel não tenha recorrido aos ídolos do lar com a intenção de obter neles proteção e orientação em sua viagem. Naquele tempo na Mesopotâmia, era muito comum que as pessoas carregassem os deuses do lar em suas viagens longas.

Por outro lado, como os ídolos do lar também eram usados para a prática de adivinhação, não seria impossível que Raquel tivesse roubado os ídolos de seu pai com o objetivo de impedir que Labão supostamente pudesse receber desses ídolos informações sobre a fuga de sua família.

Então mesmo com o uso dos dados adicionais fornecidos por matérias como a arqueologia, alguns fatos bíblicos ainda podem não ser explicados de forma exaustiva, pois envolvem um contexto muito mais amplo. Isso significa que mesmo a arqueologia trazendo indícios de que Raquel pode ter roubado os ídolos de seu pai com propósitos legais, isso não exclui totalmente a possibilidade de ela também ter tido outras motivações essencialmente religiosas.

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Conclusão sobre Raquel ter roubado os ídolos de seu pai

Talvez a conclusão mais honesta sobre a atitude de Raquel ao tomar os ídolos de Labão, é aquela que considera que Raquel era mulher que ainda estava tendo a sua fé desenvolvida e o seu caráter aperfeiçoado de acordo com os princípios estabelecidos por Deus para a família da aliança.

Na verdade, mesmo com o próprio Jacó sendo neto de Abraão e filho de Isaque, o período em Padã-Harã foi de muito aprendizado para ele. Ali Deus moldou o seu caráter, fortaleceu o seu espírito e o preparou para o encontro que definitivamente marcaria o sua vida no vau de Jaboque, quando o seu nome foi mudado para Israel.

Então não podemos nos esquecer de que Raquel, assim como sua irmã Lia, cresceram dentro de um contexto pagão que adotava o politeísmo; e certamente com o tempo foram transformadas e instruídas na vontade de Deus.

Inclusive, à luz desse fato, precisamos admitir que em nenhuma parte a Bíblia faz algum juízo moral sobre as duas irmãs. Mesmo a narrativa bíblica que registra o roubo dos ídolos por parte de Raquel, não se propõe a contrastar o comportamento de Raquel e Lia, uma como idólatra e a outra como temente a Deus.

Na verdade, mais à frente o texto bíblico revela que outras pessoas da família de Jacó carregaram deuses estranhos quando saíram de Padã-Harã; e que esses deuses tiveram de ser descartados antes de a família subir a Betel (Gênesis 35). Isso, inclusive, reforça o fato de que havia sim, entre aquele povo, intenções religiosas que desagradavam a Deus.

Um período de aperfeiçoamento

Então seja qual tenha sido a verdadeira motivação de Raquel ao roubar os ídolos de seu pai, é inegável que sua atitude demonstrou uma falta de confiança em Deus.

Se ela tomou os ídolos de Labão com alguma motivação religiosa, então ela estava desviando a glória que só pertence a Deus e depositando sobre falsos deuses que nada podiam fazer para proteger, orientar e abençoar a sua família. E mesmo que ela tenha tomado os ídolos de Labão com o objetivo principal de garantir direitos de propriedade a Jacó, então ela não confiou que Deus haveria de cumprir sua promessa de herança à descendência de Abraão.

Mas a boa notícia é que mesmo Raquel e Lia tendo crescido num contexto idólatra sob uma religião estranha; e mais tarde tendo vivido num ambiente familiar conturbado pela disputa do amor do mesmo marido após a trapaça de seu ganancioso pai, em seus propósitos inescrutáveis, Deus escolheu as duas irmãs para serem edificadoras da casa de Israel (Rute 4:11).

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