A Bíblia registra que Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (1 Reis 11:3). As esposas de Salomão eram, em sua maioria, princesas estrangeiras que o rei de Israel desposou como parte de alianças políticas com nações vizinhas. Embora essa estratégia fosse comum na antiguidade para estabelecer tratados de paz, ela trouxe sérias consequências espirituais para Salomão e para o reino de Israel.
As muitas esposas de Salomão não eram apenas números em sua corte; elas também desempenharam um papel significativo em sua vida e decisões. O resultado dos muitos casamentos de Salomão teve um forte impacto na sequência da história israelita.
Por que Salomão teve muitas esposas?
No tempo do Antigo Testamento, era comum para reis e líderes terem várias esposas e concubinas. Esse comportamento era visto em várias nações do Antigo Oriente Próximo. Inclusive, há registros de reis da antiguidade que tiveram muito mais mulheres do que Salomão, superando mais de duas mil esposas e concubinas em seus haréns.
Em Israel, essa prática de ter mais de uma esposa, embora não fosse o padrão ideal estabelecido por Deus desde o início (Gênesis 2:24), foi tolerada e até regulamentada em certos aspectos pela Lei Mosaica. O rei Davi, o pai de Salomão, teve várias esposas e concubinas, e é possível que Salomão tenha herdado algumas delas como parte do harém real. Esse comportamento também caracterizou a vida familiar do rei Roboão, o filho de Salomão, pois ele teve dezoito esposas e sessenta concubinas.
Comumente os relacionamentos reais com múltiplas mulheres eram alianças matrimoniais que faziam parte das estratégias políticas do reino. Obviamente Salomão usou muito esse tipo de recurso para expandir o seu reino e fortalecer sua diplomacia. Uma evidência disso é o fato de que durante o reinado de Salomão o reino de Israel praticamente não teve de lidar com ameaças estrangeiras significativas.
Porém, a Bíblia também parece indicar que os casamentos de Salomão não tinham apenas propósitos políticos. O escritor bíblico registra que o rei Salomão se uniu às suas mulheres com amor, ou seja, aparentemente Salomão nutria no mínimo algum tipo de sentimento carnal para com suas esposas e concubinas (1 Reis 11:1,2). Em outras palavras, parece que se por um lado Salomão se casava por política, por outro lado ele também se casava por desejo, a ponto de o seu envolvimento físico e emocional com essas muitas mulheres, tê-lo feito se esquecer do Senhor.
As esposas de Salomão citadas na Bíblia
Embora a Bíblia registre que Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas, curiosamente apenas uma delas teve o seu nome citado no texto bíblico: Naamá, uma mulher amonita. A maioria dos estudiosos concorda que Naamá provavelmente foi a primeira esposa de Salomão. Isso porque ela foi a rainha mãe de Roboão, o príncipe herdeiro de Salomão, nascido antes mesmo de Salomão assumir o trono de Jerusalém no lugar de Davi.
Depois, a Bíblia menciona que Salomão se casou com a filha do Faraó do Egito. O texto bíblico não informa o nome dessa mulher, e nem mesmo o nome de seu pai. Porém, muitos intérpretes acreditam que possivelmente esse Faraó que se tornou sogro de Salomão, foi um dos últimos Faraós da Vigésima Primeira Dinastia Egípcia.
As outras esposas de Salomão foram mulheres das mais diferentes nacionalidades. O relato bíblico informa que Salomão amou muitas mulheres estrangeiras além da filha do Faraó do Egito, entre elas mulheres moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias (1 Reis 11:1).
Também há uma discussão entre os estudiosos a respeito da mulher sulamita que, ao lado do seu esposo, protagoniza o texto poético do livro de Cântico dos Cânticos de Salomão. Como a posição mais amplamente aceita na tradição judaico-cristã defende que Salomão escreveu esse livro, muitos entendem que seu texto descreve o amor romântico entre Salomão e sua esposa mais amada. A identidade dessa mulher misteriosa jamais é revelada no texto bíblico, e ela é descrita simplesmente como uma jovem do campo.
Mas alguns poucos estudiosos interpretam esse texto poético de forma diferente, e enxergam no livro três protagonistas: a jovem sulamita, um pastor e um rei. Então, esses estudiosos argumentam que, se isto estiver correto, o rei citado na poesia foi um tipo de intruso no amor verdadeiro entre a jovem do campo e o pastor. Se for entendido que Salomão era esse rei, então seu amor pela mulher sulamita estaria mais para um sentimento não correspondido.
O impacto das mulheres de Salomão em sua vida
Havia uma importante advertência contra a multiplicação excessiva de esposas em Israel, especialmente para os reis da nação (Deuteronômio 17:17). Salomão, sem dúvida, foi o rei que mais desprezou essa advertência divina. Além disso, havia também uma clara proibição a respeito de casamentos estrangeiros dentro da comunidade da aliança. Isso quer dizer que o casamento com mulheres estrangeiras não devia ser adotado entre o povo de Israel (Deuteronômio 7:1-4). Esta, no entanto, foi outra recomendação divina que Salomão ignorou.
A proibição contra casamentos estrangeiros em Israel tinha a ver, principalmente, com o perigo de os israelitas se corromperem espiritualmente seguindo outros deuses. Este perigo era real, e infelizmente os israelitas caíram nesse tipo de erro repetidas vezes ao longo de sua história, como quando os eles foram atraídos pela imoralidade moabita ainda no tempo de Moisés (Números 25:1-15).
As esposas estrangeiras de Salomão trouxeram para dentro de Israel suas práticas religiosas pagãs. Com o tempo, elas influenciaram Salomão a se desviar de Deus e a construir altares para deuses estrangeiros. Isso significa que ele não apenas tolerou a idolatria de suas esposas, mas também participou de práticas pagãs.
Salomão seguiu divindades como Astarote, a deusa do amor e da fertilidade do povo de Tiro e Sidom, e Milcom, o deus nacional de Amon. Estas divindades eram frequentemente associadas a rituais degradantes, imorais e abomináveis. O rei Salomão, ao permitir e participar desses rituais, não apenas desobedeceu ao Senhor, mas também colocou em risco a integridade espiritual de todo o reino de Israel.
As esposas de Salomão e sua queda
Salomão, que uma vez foi abençoado com uma sabedoria inigualável no alvorecer do seu reinado, permitiu que seu estado espiritual interior fosse corrompido. Seu casamento com mulheres incrédulas foi uma clara violação da lei divina, e essa desobediência teve consequências devastadoras. Seu coração, que outrora fora totalmente dedicado ao Senhor, tornou-se dividido. Esse afastamento de Salomão do verdadeiro Deus o levou à idolatria e à apostasia, e isso posteriormente resultou na divisão do reino de Israel nos dias do reinado de Roboão.
Salomão foi um dos reis mais sábios, prósperos e poderosos que o mundo já viu. Porém, ironicamente ele se esqueceu de que a verdadeira essência do sucesso do seu reinado não estava em sua conquista material, mas em seu compromisso espiritual com o Senhor. Salomão permitiu que seu amor carnal por suas esposas incrédulas superasse seu amor por Deus.
A Bíblia não esconde as fraquezas e os erros de seus heróis. A história bíblica é repleta de exemplos de grandes homens que falharam, e Salomão não foi exceção. Ele foi mais entre aqueles que tiveram um começo promissor e um final melancólico.
Deus, em Sua justiça, permitiu que adversidades surgissem contra Salomão como resultado de sua desobediência. No entanto, a misericórdia de Deus prevaleceu apesar do fracasso de Salomão. Por amor a Davi, Deus prometeu que não retiraria o reino de Salomão durante sua vida, e que a dinastia de Davi seria preservada.
Considerando tudo isso, a história das esposas de Salomão pode servir a um propósito pedagógico e ensinar aos leitores da Bíblia que suas escolhas, especialmente em relação aos seus relacionamentos, têm consequências duradouras em suas vidas.