Hadade e Rezom foram dois adversários do rei Salomão citados na Bíblia. Esses dois homens causaram dificuldades aos israelitas e consistiram numa fonte de perturbação para Salomão, ameaçando o seu pacífico reinado.
O contexto em que Hadade e Rezom são mencionados no texto bíblico, é importante para entender o papel destes dois homens contra os israelitas. A Bíblia registra que o rei Salomão herdou de seu pai, Davi, um extenso território, que se estendia do Eufrates aos limites com o Egito, do Mar Mediterrâneo ao deserto da Arábia.
Durante o reinado de Salomão, Israel alcançou seu ápice em termos de riqueza, sabedoria e influência. Através de muitas alianças diplomáticas, especialmente por meio de casamentos com princesas das nações vizinhas de Israel, Salomão procurou garantir a ausência de ameaças externas significativas.
Porém, por causa do pecado de Salomão que havia desviado o seu coração do Senhor e seguido aos deuses pagãos de suas muitas esposas estrangeiras, a Bíblia diz que Deus levantou adversários contra Salomão. Entre esses adversários estavam Hadade, o edomita, e Rezom, um fugitivo de Zobá. Hadade, no Sul, e Rezom, no Norte, fizeram com que Salomão visse escapar de suas mãos o controle direto de parte de seu território.
Hadade, o edomita
O nome Hadade possivelmente significa algo como “o que faz trovejar”. Na Antiguidade, o nome pessoal “Hadade”, e sua variante “Hadar”, provavelmente era em homenagem a um antigo deus semita da tempestade, adorado em Canaã, Síria e Mesopotâmia. Portanto, nomes compostos que incluíam o nome Hadade, eram comuns nos tempos bíblicos nas nações vizinhas de Israel. Inclusive, Abraão teve um neto com este mesmo nome, que foi um dos doze filhos de Ismael.
Entre os edomitas o nome Hadade parece ter sido notavelmente comum. Pelo menos dois reis de Edom tiveram este nome: o primeiro era filho de Bedade, cuja capital era Avite, e que venceu os midianitas no campo de Moabe; e o segundo era casado com uma mulher chamada Meetabel, e governava a partir de Paú.
Já o Hadade que viveu nos tempos de Davi e Salomão, também foi um príncipe edomita. Este Hadade era, antes de tudo, um sobrevivente. Ainda durante os dias de Davi, a Bíblia registra que o comandante Joabe matou todos os homens de Edom. Porém, o jovem príncipe Hadade, conseguiu escapar para o Egito junto de outros homens.
No Egito, Hadade foi acolhido pelo Faraó de tal forma, que ele se casou com a irmã da mulher do próprio monarca egípcio. O fato de Hadade ter se casado com a cunhada do Faraó, indica que naquele contexto o Egito estava mais alinhado com os interesses de Edom. É provável que Faraó tenha percebido o crescente poder de Davi na região, e julgou estratégico abrigar um membro da realeza edomita que naquele momento estava entre os inimigos de Davi. No Egito, Hadade teve um filho chamado Genubate, que foi criado no palácio entre os filhos de Faraó.
Mas após as mortes de Davi e Joabe, Hadade desejou retornar à sua terra. Desta forma, ele voltou a Edom, e se ocupou de incitar os edomitas contra Salomão e Israel, cumprindo um papel divino como instrumento de disciplina para Salomão.
Parece que mesmo com o passar dos anos, Hadade não perdeu o seu desejo de vingança contra Israel e a casa de Davi. Portanto, sua motivação era tanto pessoal quanto nacionalista. Ele buscava tomar o controle de Edom das mãos de Salomão, e restaurar a honra e a posição do seu povo.
Embora Salomão tivesse entre suas esposas mulheres edomitas, isto não impediu que Hadade promovesse uma série de ataques nas fronteiras contra os israelitas. Obviamente Hadade sabia que não conseguiria derrotar Salomão e conquistar Israel, mas ele foi um adversário que causou grande perturbação ao filho herdeiro de Davi.
Rezom, rei de Damasco
Rezom era filho de Eliada, e inicialmente foi um servo de Hadadezer, rei de Zobá. A Bíblia registra que ele fugiu de seu senhor, e talvez isto tenha acontecido quando Hadadezer foi derrotado pelo rei Davi. Seja como for, Rezom se tornou líder de um bando de mercenários e posteriormente se fixou em Damasco, onde foi constituído rei (1 Reis 11:23-25).
Em Damasco, Rezom foi uma ameaça constante ao norte de Israel. Rezom não tinha laços pessoais com as disputas israelitas, mas via uma oportunidade de fortalecer sua posição e expandir seu território às custas das instabilidades do reinado em declínio de Salomão. A Bíblia relata que Rezom foi por adversário de Israel durante todos os dias de Salomão.
Vários estudiosos acreditam que Rezom reinou por cerca de 30 anos e foi o fundador de uma dinastia poderosa na Síria. Inclusive, muitos o identificam com Heziom, o pai de Tabrimom, e o avô de Ben-Hadade I. Se isto estiver correto, então Rezom estabeleceu desde o início uma hostilidade contra os israelitas que se perpetuou pelas gerações seguintes, pois os governantes sírios causaram problemas para os reis de Judá e de Israel na sequência da história.
O impacto de Hadade e Rezom no reinado de Salomão
No início de seu reinado, o rei Salomão podia se orgulhar de que em seu reino não havia inimigos e nem adversidades (1 Reis 5:4). Porém, o próprio Deus afligiu Salomão com inimigos que serviram como lembretes de que, apesar de seu esplendor e prosperidade, seu reino não estava imune a desafios externos.
Nesse sentido, Hadade e Rezom não apenas representavam ameaças políticas, mas também eram reflexos das tensões e consequências de ações passadas de Israel. Esses adversários foram permitidos por Deus como instrumentos para disciplinar Salomão e Israel por suas infidelidades e desvios. Na verdade, os papéis desempenhados por Hadade e Rezom também apontam para a soberania de Deus sobre as nações, e revelam como Ele pode usar até mesmo inimigos para refinar o caráter de Seu povo e alcançar Seu propósito divino.
Além de tudo isto, a maior ameaça a Salomão foi levantada do centro de seu reino. Enquanto Hadade e Rezom impuseram ataques externos aos israelitas, a partir do Sul e do Norte, respectivamente, um homem chamado Jeroboão, que era um dos oficiais de Salomão, ameaçou o reino de dentro de sua estrutura de poder. Mais tarde, após a morte de Salomão, foi Jeroboão que conseguiu dividir para sempre o reino deixado por Salomão.