Qual o Significado de Perseverança na Bíblia?
O significado de perseverança comunica a ideia de constância. Embora essa palavra seja raramente usada nas Escrituras, ela expressa um conceito que encontramos repetidamente na Bíblia Sagrada. No contexto bíblico, perseverança é a capacidade de continuar firme em um caminho ou propósito, apesar das dificuldades, provações ou demora na realização das promessas. Esta virtude é frequentemente associada com paciência, fé e resistência.
A palavra “perseverança” é usada apenas uma vez na maioria das versões da Bíblia para traduzir o substantivo grego proskarteresis em Efésios 6:18, onde o apóstolo Paulo recomendou aos crentes a vigilância e a perseverança na oração e súplica. Já a forma verbal desse termo grego, proskartereo, é mais comum, sendo encontrada na Septuaginta ao traduzir o Antigo Testamento para o grego, como também no Novo Testamento. Nesses casos, o sentido principal sempre é a firme continuação de algo.
Exemplos de perseverança na Bíblia
No Antigo Testamento, a perseverança é vista na fidelidade dos patriarcas, como Abraão, que esperou pacientemente pela promessa de Deus de um filho, e Moisés, que liderou o povo de Israel pelo deserto. A história de Jó é talvez um dos exemplos mais notáveis de perseverança, demonstrando fé inabalável em Deus, mesmo diante de perdas devastadoras e sofrimentos intensos.
No Novo Testamento, a ideia de perseverança é amplamente discutida nas epístolas, particularmente por Paulo, Tiago e Pedro. Esses textos enfatizam a perseverança na fé diante das perseguições e das lutas internas. A epístola aos Hebreus também exorta os crentes a correrem com perseverança a corrida que está diante deles, mantendo os olhos fixos em Jesus, o fundador e aperfeiçoador da fé (Hebreus 12:1-3).
Nesse sentido, a Bíblia estabelece uma relação intrínseca entre fé e perseverança. Podemos dizer que, de certo modo, a fé é o fundamento sobre o qual a perseverança é construída. É a confiança nas promessas de Deus que motiva o crente a continuar firme, mesmo quando as circunstâncias sugerem o contrário. Tiago destacou essa dinâmica, ensinando que as provações da vida produzem perseverança, levando à maturidade e à completude da fé (Tiago 1:2-4).
Além dos exemplos bíblicos, a história da Igreja está repleta de santos e mártires cujas vidas exemplificam a perseverança na fé. Desde os primeiros cristãos, que enfrentaram perseguições sob o Império Romano, até figuras modernas que resistiram à adversidade por causa de sua fé, esses testemunhos reforçam a importância da perseverança na vida cristã.
O debate sobre a perseverança
A perseverança também é um tema que levanta o debate sobre a aparente tensão entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. A doutrina bíblica afirma que Deus é plenamente soberano sobre todas as coisas, se não fosse assim, então Ele não seria Deus. Por outro lado, a Bíblia também afirma claramente que o homem é moralmente responsável.
Nesse sentido, a discussão que se forma é entorno da seguinte questão: A perseverança depende da responsabilidade humana ou é resultado da obra divina no homem?
Sem dúvida, o ato experiencial de perseverar ocorre na esfera humana, ou seja, quem experimenta a perseverança é o homem, assim como quem crê, por exemplo, também é o homem. Não é Deus quem crê pelo homem ou persevera em seu lugar. No entanto, também é verdade que o homem somente é capaz de crer porque antes recebeu a fé como um dom de Deus (Efésios 2:8). Embora o homem seja convidado a crer, o autor e consumador de sua fé não é o outro senão o próprio Senhor (Hebreus 12:1-3).
Da mesma forma, o homem só é capaz de perseverar porque Deus proveu a ele o fundamento que torna essa perseverança possível. O apóstolo Paulo explicou que os crentes estão arraigados e edificados no Senhor, e confirmados na fé (Colossenses 2:5-7); e que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Romanos 11.29).
De forma ainda mais direta, o mesmo apóstolo afirmou: “Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:8,9). Paulo tinha total certeza disto, e em outra ocasião assegurou aos crentes filipenses que Aquele que havia começado a boa obra neles, haveria de completá-la até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:6).
Tudo isto pode não fazer muito sentido para nós, mas não é porque não conseguimos entender a ralação entre a soberania divina e a responsabilidade humana nesse ponto, que isto deva estar errado. Na verdade, essa tensão só existe dentro de nossa mente limitada, mas na mente infinita de Deus tudo se encaixa e faz todo sentido.
Mais do que procurar respostas que não somos capazes de compreender totalmente, devemos desfrutar do conforto de sabermos que nossa perseverança, em última análise, não está em nossas mãos movidas por um coração enganoso, mas está no fato de que ninguém é capaz de nos arrancar das mãos de Deus (João 10:29).