Moisés Era Gago? O Que Significa Ser “Pesado de Língua”?

A ideia de que Moisés era gago deriva de alguns versículos específicos do livro de Êxodo, onde ele expressou sua preocupação com sua capacidade de falar. No entanto, a Bíblia não descreve especificamente Moisés como gago. A interpretação de que ele poderia ter essa condição é uma inferência, baseada na leitura de sua autodescrição como alguém “pesado de língua”.

Sabemos que Moisés foi escolhido por Deus para libertar os israelitas da servidão no Egito e conduzi-los à Terra Prometida. Sendo uma figura de grande relevância na narrativa bíblica, é natural que as pessoas tenham diversas curiosidades sobre sua vida, como se ele era gago ou não.

Muitas vezes, essa curiosidade surge da tentativa de aproximar os personagens bíblicos da nossa realidade. Afinal, pode ser interessante pensar que uma pessoa como Moisés teve de enfrentar desafios e limitações comuns a muitos de nós, como a gagueira, problemas de dicção ou língua presa.

A dificuldade de fala de Moisés

A primeira menção à dificuldade de fala de Moisés aparece em Êxodo 4:10, onde, ao ser chamado por Deus para liderar a libertação de Israel, ele respondeu: “Ah, Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem no passado, nem agora que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua”.

Esse versículo levanta questões sobre a natureza do problema de Moisés. A maioria dos estudiosos concorda que o versículo sugere que Moisés se via como incapaz de falar de forma clara ou persuasiva. Em outras palavras, ele não conseguia se expressar bem. Contudo, a frase “tenho a língua pesada” poderia indicar uma dificuldade física de fala, levando alguns a suporem que Moisés era gago.

Moisés era gago? Analisando o contexto

Para entender melhor o que Moisés quis dizer ao alegar ser pesado de língua e não saber falar bem, é fundamental considerar o contexto mais amplo das Escrituras. Quando Moisés fez essa afirmação, Deus o estava convocando para sua grande missão como líder do povo de Israel. Na ocasião, Moisés fez uma série de objeções ao seu comissionamento, e a dificuldade de falar foi apenas uma delas.

No entanto, curiosamente, no Novo Testamento, o diácono Estêvão descreveu Moisés no ambiente egípcio como alguém “poderoso em palavras e obras” (Atos 7:22). De fato, antes de sua fuga para Midiã, Moisés havia crescido na corte do faraó, onde teria recebido uma educação de alto nível, incluindo habilidades de comunicação. Por isso, alguns comentaristas utilizam a descrição de Estêvão para argumentar que seria improvável que a frase “tenho a língua pesada” se refira a um impedimento de fala, como a gagueira.

Talvez a objeção de Moisés estivesse mais relacionada à sua percepção de inadequação pessoal e à falta de eloquência que ele acreditava ter desenvolvido após muitos anos no deserto. Mais tarde, em Êxodo 6:12, Moisés novamente expressou sua preocupação, referindo-se a si mesmo como tendo “lábios incircuncisos”. Essa expressão pode ser traduzida como “lábios que falam com dificuldade” ou até mesmo “lábios impuros”, semelhante ao que o profeta Isaías mencionou em Isaías 6:5.

Por isso, vários estudiosos sugerem que a principal questão na alegação de Moisés não seria um impedimento físico de fala, como a gagueira, mas sim uma falta de confiança em suas habilidades de comunicação, possivelmente agravada pelo tempo que esteve afastado da sociedade egípcia e do treinamento formal que havia recebido. Quem adota essa interpretação explica que a frustração de Moisés em Êxodo 4:10 pode ser comparada à descrição do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 10:10, onde ele admitiu que sua presença pessoal e sua fala eram consideradas fracas por alguns. Assim, ambos os casos indicariam uma percepção pessoal de inadequação que não refletia, necessariamente, a realidade de suas capacidades.

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Gagueira ou falta de fé?

A relutância de Moisés em aceitar o chamado divino indicava, em última instância, uma falta de fé. Ao focar em suas próprias limitações, Moisés desviou sua atenção do poder de Deus, que o estava chamando para uma tarefa específica. Essa preocupação excessiva com suas habilidades pessoais acabou sendo um erro que ele repetiu em suas objeções ao chamado do Senhor, como quando questionou sua capacidade de liderança e a receptividade dos israelitas (Êxodo 3:11—4:1).

Deus, no entanto, não corrigiu Moisés por sua autoavaliação, mas sim pela falta de confiança no plano divino. A resposta do Senhor para a falta de eloquência de Moisés e sua língua pesada foi a seguinte: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êxodo 4:11-12).

Apesar disso, Moisés continuou insistindo para que Deus enviasse outro em seu lugar. Deus já havia deixado Moisés sem justificativas, mas ele continuou tentando rejeitar a escolha divina, fazendo com que o Senhor ficasse irado com ele.

Entretanto, Deus já havia preparado Arão, o irmão de Moisés, que falava fluentemente, para ser seu porta-voz. A dinâmica entre Moisés e Arão seria semelhante à relação de um profeta com o Senhor. Embora Moisés se sentisse inadequado, Deus providenciaria os meios necessários para que Sua vontade fosse cumprida. Moisés até poderia ser gago ou ter qualquer outra dificuldade que afetasse sua fala pública, mas nada disso seria um obstáculo intransponível à sua missão.

Não é importante saber se Moisés era gago

Como vimos, a Bíblia não afirma categoricamente que Moisés era gago, e o termo usado no texto hebraico de Êxodo 4:10 não é conclusivo a esse respeito, podendo ser interpretado de várias maneiras. Conforme foi explicado, o texto pode estar simplesmente indicando uma falta de confiança de Moisés em sua habilidade de falar em público, possivelmente devido à falta de prática ou experiência em comunicação diante de grandes multidões, algo compreensível, considerando que ele passou muitos anos como pastor no deserto.

Porém, o mais relevante nessa história é a ênfase na provisão divina para superar qualquer limitação humana. A vida de Moisés é uma prova de que Deus capacita e se responsabiliza por aqueles que Ele chama, independentemente de suas fraquezas percebidas. Se Moisés era gago ou simplesmente inseguro em sua fala, o importante é que Deus escolheu usá-lo de forma poderosa, demonstrando que a eficácia do servo de Deus não depende de suas capacidades naturais, mas do poder divino que o sustenta.

Essa história nos lembra que Deus pode usar nossas limitações para revelar Sua glória e que a obediência ao chamado divino é mais significativa do que nossas inseguranças pessoais. Moisés, apesar de suas próprias reservas, foi o líder que Deus usou para realizar uma das maiores obras da história bíblica, evidenciando que, quando confiamos no Senhor, Ele transforma nossas fraquezas em instrumentos de Seu propósito eterno.

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