Como Foi a Morte de José do Egito?
A Bíblia descreve a morte de José no Egito na parte final de Gênesis 50. De maneira breve, o texto bíblico informa que José viveu até os 110 anos, uma idade considerada “ideal” segundo a mentalidade egípcia da época. Conforme estudos arqueológicos e fontes egípcias, 110 anos simbolizava um ciclo de vida pleno e abençoado no antigo Egito. José viveu para ver os filhos de seus filhos, contemplando não apenas seus netos, mas chegando até mesmo aos tataranetos.
Antes de morrer, José do Egito consolidou a paz com seus irmãos, tranquilizando-os quanto aos temores de possíveis vinganças, e reafirmou que o mal que eles lhe fizeram foi transformado em bem pela mão soberana de Deus. José tinha convicção de que os propósitos divinos transcendem as ações humanas, mesmo quando essas ações são marcadas por injustiça e crueldade.
Além disso, na ocasião da morte de José ele fez uma declaração profética muito importante: “Eu morro, mas Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a terra que jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó” (Gênesis 50:24). Essa fala retomava a promessa feita inicialmente a Abraão, de que a descendência dele peregrinaria em terra estranha, mas que, a seu tempo, Deus a libertaria e a conduziria de volta à Terra Prometida (Gênesis 15:13,14). Inclusive, José expressou seu firme comprometimento com essa promessa ao exigir que seus irmãos jurassem levar seus ossos quando se cumprisse o plano divino de libertar Israel do Egito.
A morte e José no Egito
Pelo relato bíblico, fica subentendido que José morreu em paz e de causas naturais no Egito, após uma vida farta de dias. Depois de José morrer, o texto diz que seu corpo foi embalsamado e guardado conforme os costumes do Egito. Por ter alcançado uma posição de proeminência no reino, José recebeu honrarias coerentes com a cultura local, sendo mumificado e colocado num sarcófago egípcio.
De acordo com evidências arqueológicas e registros históricos, a mumificação era considerada uma arte sofisticada no Egito, atrelada às crenças de preservação do corpo para a vida após a morte. As Escrituras confirmam que José, tendo status quase equivalente ao de um membro da realeza (por ser, na prática, o administrador do Egito), não deixaria de ser tratado com grande reverência ao fim de sua vida. Com isso, o corpo de José foi cuidadosamente preparado e armazenado, aguardando, em última instância, o cumprimento do que ele próprio profetizara: “Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra” (Gênesis 50:24).
O que aconteceu após a morte de José do Egito
Após a morte de José, a Bíblia menciona que os israelitas continuaram habitando no Egito. Inicialmente, a presença dos descendentes de Jacó foi marcada por prosperidade e bons relacionamentos com a corte egípcia, possivelmente estendendo-se por algumas gerações.
De fato, muitos historiadores e comentaristas sugerem que José tenha obtido destaque durante o período dos hicsos, um povo de origem semita que governou o Egito durante a chamada Segunda Era Intermediária, por volta de 1780 a 1570 a.C. Isso, porém, não é unanimidade, já que o texto bíblico não menciona diretamente nomes de faraós.
De toda forma, o livro do Êxodo informa que surgiu um novo rei no Egito, que não conhecia José (Êxodo 1:8). Essa menção de um Faraó que não conhecia José, provavelmente faz referência ao surgimento de um monarca de uma nova dinastia, o que significou o rompimento de uma aliança tácita, interrompendo a boa recepção inicial da qual o povo israelita desfrutava no Egito. A memória dos benefícios que José trouxera àquele reino parecia esquecida.
O texto de Êxodo 1 narra como esse Faraó, temendo o crescimento numérico dos israelitas, começou a subjugar e oprimir o povo hebreu, forçando os filhos de Israel a trabalhos pesados de construção e servidão. Essa nova realidade sociopolítica no Egito lançou as bases históricas para a necessidade de libertação narrada nos capítulos seguintes das Escrituras, bem como o surgimento da figura de Moisés e do êxodo, que marca uma virada drástica na história da nação de Israel.
A preocupação de José para além da morte no Egito
José não estava apenas preocupado com seu legado no Egito, mas com a identidade nacional de sua família, cada vez mais numerosa. Ao instruir seus irmãos para que, no tempo devido, levassem seus ossos para fora daquela terra, José reiterou a consciência de que o Egito não era o destino final para Israel.
A Bíblia confirma que séculos depois, no êxodo liderado por Moisés, esse compromisso foi cumprido. Portanto, a morte de José no Egito já antecipava o clamor de um povo que, embora estivesse numa terra estranha, nutria a esperança de retorno à herança prometida por Deus.
Ainda que embalsamado e honrado no Egito, José não desejava um sepultamento permanente fora da terra pactuada a Abraão, Isaque e Jacó. É verdade que ao morrer José foi honrado como um príncipe do Egito, mas antes ele se preocupou em ser lembrado como um filho de Abraão.
Isso reforça a perspectiva histórica de que a identidade israelita estava intimamente ligada à promessa divina sobre a terra de Canaã, uma promessa que atravessava gerações. Essa convicção de José em relação ao futuro da nação o colocou, inclusive, na galeria dos heróis da fé do Novo Testamento. Sobre isso, o escritor de Hebreus escreveu: “Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel e deu ordens acerca dos seus ossos” (Hebreus 11:22).
Ao desejar ter seu corpo na terra da aliança, José reafirmou que seu verdadeiro lar estava nos planos de Deus para Israel, não nas glórias passageiras do Egito. Esse ato de fé ecoava a certeza de que o Senhor haveria de cumprir Suas promessas à descendência escolhida. Mesmo depois de muitos anos, a Bíblia registra que os ossos de José foram finalmente sepultados em Siquém, cumprindo-se, assim, o desejo do patriarca e apontando para a intervenção soberana de Deus em favor do seu povo (Josué 24:32).