Por Que “O Sol se Converterá em Trevas e a Lua em Sangue”?
O profeta Joel profetizou que “o sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Joel 2:31). Este versículo fala sobre a seriedade e extensão do juízo divino. Além deste versículo, em outras duas partes de seu livro Joel descreveu o sol e a lua se escurecendo, e as estrelas perdendo o seu brilho (Joel 2:10; 3:15).
Esse tipo de linguagem apocalíptica, descrevendo uma grande perturbação cósmica em conexão com o julgamento de Deus, não é particular de Joel. Há profecias no livros de Isaías e Ezequiel que usam uma linguagem semelhante (Isaías 13:10; Ezequiel 32:7). Novo Testamento, o próprio Senhor Jesus também anunciou que haverá um dia em que o sol escurecerá, a lua não dará sua luz, as estrelas cairão do seu lugar, e os poderes do céu serão abalados (Mateus 24:29).
Por que Joel disse que o sol se converterá em trevas?
O livro de Joel oferece uma visão única e profunda da relação entre Deus e Seu povo. Em sua profecia, Joel trouxe advertências de julgamento iminente, mas também promessas de restauração futura. O contexto histórico preciso de Joel é um pouco difícil de determinar, mas é certo que ele ministrou em um tempo de crise aguda. O pano de fundo principal de sua mensagem era uma calamidade natural devastadora, particularmente caracterizada por uma grande praga de gafanhotos.
Porém, a mensagem de Joel é atemporal e revela a soberania de Deus na História e a necessidade do arrependimento humano diante do juízo divino. Sua mensagem também destaca a misericórdia redentora de Deus que restaura aqueles que se voltam sinceramente para Ele.
O texto de Joel 2:31, em que o profeta fala que o sol se tornará em trevas, e a lua em sangue, está exatamente numa parte do livro que conecta a ameaça de calamidade e a esperança de salvação, ilustrando a iminência do “grande e terrível dia do Senhor” através de sinais cósmicos dramáticos. Portanto, a imagem apocalíptica do sol escurecendo e a lua tornando-se vermelha como sangue, serve para comunicar a seriedade e o caráter inescapável desse dia.
Joel apresentou esse dia como um ponto culminante do julgamento divino, mas também como o ápice da restauração e redenção de Deus para aqueles que são fiéis. Dessa forma, Joel parece expandir a compreensão do “dia do Senhor” para além de um evento único pertencente ao seu próprio tempo, sugerindo um tema escatológico que permeia tanto o Antigo quanto o Novo Testamento.
Outras passagens bíblicas que falam que o sol escurecerá
A imagem apocalíptica do sol se convertendo em trevas, não é única a Joel. Na verdade, essa imagem encontra paralelos em outras partes das Escrituras, servindo como um motivo recorrente para indicar momentos decisivos de intervenção divina na história. Isso quer dizer que o uso de fenômenos naturais e astronômicos para simbolizar mudanças terrenas profundas está enraizado na tradição profética bíblica.
Por exemplo: o profeta Isaías, no capítulo 13 e versículo 10 do seu livro, profetizou a queda da Babilônia usando uma imagem apocalíptica em que as estrelas dos céus e suas constelações não dariam sua luz, o sol se escureceria ao nascer, e a lua não resplandeceria mais.
Embora Joel e Isaías estivessem lidando com situações imediatas em suas próprias épocas, a linguagem que eles empregam, sem dúvida carrega conotações escatológicas, apontando para o fim dos tempos, e, portanto, esses sinais cósmicos têm sido interpretados ao longo dos séculos como indicativos do retorno final de Cristo e da consumação de todas as coisas.
Uma prova disto é a ocorrência de descrições semelhantes também no Novo Testamento. Por exemplo: quando Jesus falou sobre o fim dos tempos e sua segunda via após os dias de grande tribulação, Ele afirmou que o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, as estrelas desviarão de suas órbitas, e os poderes dos céus serão abalados (Mateus 24:29).
Depois, na abertura do sexto selo no livro do Apocalipse, o apóstolo João viu um grande terremoto, o sol tornando-se negro como cilício, e a lua vermelha como sangue (Apocalipse 6:12).
A conexão entre as profecias de que o sol se converterá em trevas
Ao contemplarmos as profecias de Joel e outros profetas do Antigo Testamento, percebemos que a linguagem de desordem cósmica, embora aplicada a eventos passados de julgamento divino específicos às suas próprias épocas e contextos, carrega em si uma dimensão escatológica que supera o tempo e o espaço de sua proclamação inicial.
Esses eventos, descritos através de transformações no sol, na lua e nas estrelas, servem como prenúncios de um evento escatológico final que foi anunciado por Jesus em Seu sermão profético, e mais tarde retratado nas visões apocalípticas de João.
Essa continuidade profética, que liga as visões de julgamento e restauração de profetas como Joel às revelações de Jesus e às visões de João, enfatiza uma verdade central: Deus está soberanamente no controle do cosmos. A história humana, com todas as suas tribulações e julgamentos, está firmemente nas mãos de Deus, que guia todas as coisas para o Seu propósito final e bom — a restauração de toda a criação.
É certo que haverá uma grande conflagração final que purificará o universo, de modo que o cosmos será renovado a tal ponto de ser chamado de “novos céus e nova terra”, onde a justiça habitará e Deus viverá em comunhão eterna com Seu povo redimido.
Como devemos interpretar os fenômenos cósmicos à luz dessas profecias?
Primeiro, precisamos saber que não nos é dado um calendário apocalíptico ou sinais precisos que nos permitam marcar datas na agenda do fim dos tempos. Em vez disso, esses acontecimentos servem como sinais que revelam que Deus está no controle do Universo e da história, e saberá quando encerrar a presente era e iniciar a era vindoura.
Segundo, precisamos admitir que nosso entendimento dessas coisas é limitado. Embora Deus tenha nos revelado através de sua Palavra que a história caminha para o seu clímax final, os detalhes de como isto acontecerá pertencem ao campo de sua vontade secreta. Não sabemos exatamente o quanto dessa descrição apocalíptica deve ser interpretado de forma literal e quanto de forma figurada.
Terceiro, esses sinais servem como lembretes de que vivemos em uma era que, eventualmente, dará lugar à nova criação prometida por Deus. Esses sinais nos chamam a viver em constante expectativa e preparação para o retorno de Cristo, não através da especulação sobre tempos e datas, mas através de uma vida de fidelidade, vigilância e serviço a Deus.
Quarto, não podemos confundir as profecias bíblicas com narrativas conspiratórias que tentam vincular essas profecias com eventos naturais recorrentes de nosso tempo. O objetivo dessas narrativas sempre é espalhar temor e incerteza entre as pessoas. Mas o nosso objetivo é buscar um entendimento que esteja enraizado não no medo ou na especulação, mas na sólida fundação da revelação divina e na esperança que ela nos oferece.
Quinto, enquanto aguardamos o dia do Senhor somos chamados a viver de maneira vigilante e que reflita a santidade e o amor de Deus diante do mundo. O dia do Senhor ainda não chegou, a porta da salvação continua aberta, e quem invocar o nome do Senhor será salvo. Então, a Igreja tem a missão profética de proclamar a esperança do Evangelho enquanto se aproxima o dia final em que o sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, na manifestação da ira do Senhor.