O terceiro versículo do livro de Gênesis registra: “E disse Deus: Haja luz, e houve luz” (Gênesis 1:3). Este versículo traz a poderosa declaração do Senhor que marca o início da ordem no cosmos. Além disso, esse ato de falar e criar é uma demonstração clara da soberania absoluta de Deus, bem como uma afirmação da distinção essencial entre o Criador e a criação. Deus, que é eterno e existia antes de todas as coisas, pela Sua Palavra, trouxe à existência o que antes não existia.
A expressão bíblica “Que haja luz, e houve luz”, também ficou muito conhecida na fórmula latina “Fiat lux et facta est lux” trazida na Vulgata — tradução da Bíblia para o latim. Essa fórmula apresenta o conceito de “criação pelo fiat” de Deus, ou seja, a ideia de criação pela Palavra divina.
E disse Deus
A expressão “Disse Deus” sublinha a ideia de que a Palavra de Deus é o agente ativo na criação. É pela Palavra de Deus que a luz veio a existir. Isto carrega uma riqueza de significado que exclui qualquer noção de um universo autoexistente ou criado por acaso.
Além disso, toda a criação, incluindo a luz, trazida à existência pela Palavra de Deus, não é uma emanação de Sua essência, mas um produto da Sua vontade deliberada e pessoal. Em outras palavras, biblicamente não há qualquer possibilidade da defesa de um panteísmo, onde Deus e a criação se confundem. Ao afirmar que Deus criou todas as coisas através de Sua Palavra, a Bíblia estabelece uma distinção inegável entre a pessoa de Deus e a obra de Deus na criação. No entanto, embora a criação não seja uma extensão de Deus, ela é inteiramente dependente d’Ele (Atos 17:25-28).
O “Disse Deus” de Gênesis 1:3 também testemunha que a Palavra de Deus é completa e autossuficiente, não dependendo de intermediários ou materiais preexistentes. O escritor de Hebreus registra que “o universo foi formado pela Palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hebreus 11:3). Portanto, a criação pela Palavra de Deus é um ato de vontade pura e poder absoluto, que molda a realidade até o mais ínfimo detalhe. Este conceito é ecoado em todo o Cânon bíblico, onde a Palavra de Deus é descrita como viva, eficaz e realizadora de Sua vontade (cf. Hebreus 4:12).
Nesse sentido, a criação pela Palavra de Deus conforme o registro de Gênesis 1, também prenuncia a revelação do Novo Testamento do Filho e Verbo de Deus, por quem e em quem todas as coisas foram criadas e subsistem.
Haja luz, e houve luz
Antes de Deus dizer “Haja luz”, o texto bíblico mostra que a terra estava sem forma e vazia, e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas (Gênesis 1:2). O “pairar” do Espírito de Deus neste contexto já antecipa a ordem no caos e o início dos atos criativos que prepararam o planeta Terra para abrigar vida.
A luz, criada pelo imperativo divino, frequente aparece associada à ordem, à presença divina, e também como simbolizando a vida, o conhecimento, a verdade, a pureza, a alegria e as bênçãos. Ao ordenar: “Haja luz!”, Deus não estava apenas criando um novo elemento, mas também estabelecendo a luz como princípio de ordem contra o caos. Isso significa que a luz, chamada a existência pela Palavra de Deus, permitiu a separação entre o dia e a noite e foi a precursora para a criação subsequente de vida e estrutura no universo.
Curiosamente, Deus disse “Haja luz” antes de criar o sol ou qualquer outro astro do céu. Diante disto, muitos estudiosos acreditam que essa luz primordial da criação se originava do próprio Deus. Seja como for, o fato de a luz ser criada antes de fontes naturais como o sol, reforça a ideia de que Deus é a fonte última da luz e, consequentemente, de toda a vida e bênção. Além disso, assim como a existência da luz precede o sol no livro de Gênesis, ela também sobrevive a ele no livro do Apocalipse, no registro feito pelo apóstolo João de sua visão da Cidade Santa eternamente iluminada sem a ajuda do sol (Apocalipse 22:5).
Também é importante notar que imediatamente após a ordem de Deus “Haja luz”, o versículo bíblico completa: “e houve luz”. Definitivamente a ordem soberana de Deus é irresistível, e sua vontade, inviolável. Deus ordenou que existência da luz, e não havia outra possibilidade a não ser a de que luz passasse a existir.
Por fim, o versículo que registra que Deus disse “Haja luz, e houve luz”, contrasta com as religiões pagãs que desde a antiguidade insistem em adorar elementos da criação em vez do Criador. Essas religiões enxergam, equivocamente, coisas criadas como se fossem divinas, quando na verdade as criaturas nada são além daquilo que Deus fez existir por Sua soberana vontade através de Sua Palavra, que trouxe luz e vida onde antes havia vazio e trevas.