Quem Escreveu o Livro de Marcos?

Muito provavelmente quem escreveu o livro de Marcos foi o evangelista João Marcos. Apesar de a identidade do autor do segundo Evangelho ter sido objeto de estudo e debate ao longo dos séculos, esta é a posição mais amplamente aceita dentro da tradição cristã. A verdade é que desde muito cedo a Igreja reconheceu a autoria de João Marcos.

Não apenas o Evangelho segundo escreveu Marcos, mas também os outros três Evangelhos do Novo Testamento, não trazem em seu conteúdo a identificação do nome do seu autor. No entanto, evidências históricas externas e até alguns detalhes internos, lançam luz sobre quem teria escrito essas obras.

Quem escreveu o livro de Marcos foi o intérprete de Pedro

João Marcos foi um cristão do primeiro século associado aos apóstolos. No início da Igreja Cristã, os crentes de Jerusalém se reuniam na casa da mãe de Marcos (Atos 12:12). Portanto, obviamente ele teve contato com os apóstolos e muitas testemunhas oculares do ministério terreno do Senhor Jesus. Além disso, João Marcos acompanhou o apóstolo Paulo e Barnabé em parte de sua primeira viagem missionária (Atos 12:25; 13:5).

João Marcos teve uma profunda ligação com o apóstolo Pedro, que o considerava como um filho (1 Pedro 3:13). Por conta disto, e de outros dados históricos, grande parte dos eruditos cristãos entende que Marcos deve ter servido como um tipo de intérprete de Pedro, registrando o seu testemunho.

Na verdade, há referências a Marcos como o autor do segundo Evangelho a partir do testemunho do apóstolo Pedro, desde o início do segundo século com Papias, um bispo de Hierápolis. Eusébio de Cesaréia, um importante historiador eclesiástico do século 4 d.C., preservou o testemunho de Papias, afirmando que embora Marcos não tenha sido um seguidor direto de Jesus, ele atuou como intérprete ou tradutor de Pedro, registrando cuidadosamente, embora não necessariamente em ordem cronológica, os ensinamentos e memórias do apóstolo sobre Jesus.

Esta tradição defendida por Papias e preservada por Eusébio, também é corroborada por outras fontes antigas como Justino Mártir, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Origenes e Jerônimo. Todos concordam que quem escreveu o livro de Marcos foi o próprio João Marcos com base no testemunho de Pedro. Além disso, listas canônicas e manuscritos antigos, trazem o nome de Marcos em conexão ao título do segundo Evangelho.

Argumentos a favor da autoria de Marcos

Apesar desses registros históricos, mais recentemente alguns críticos passaram a questionar a tradição em favor de João Marcos, propondo outras teorias sobre a autoria do segundo Evangelho. Alguns estudiosos, por exemplo, sugerem que o Evangelho de Marcos foi escrito por um autor anônimo, possivelmente um cristão helenístico com bom conhecimento da tradição judaica, mas não necessariamente ligado diretamente aos apóstolos originais de Jesus.

De fato, houve uma época em que escritos falsamente atribuídos aos apóstolos eram comuns. Autores anônimos faziam uso de nomes conhecidos dentro do círculo cristão com o objetivo de conferir autoridade aos seus escritos. Mas certamente este não foi o caso do livro de Marcos.

Apesar das dúvidas levantadas pela crítica moderna, há argumentos robustos em favor da autoria tradicional de Marcos. Primeiro, a associação de Marcos com Pedro encontra apoio não apenas no registro do Novo Testamento, mas também em fontes históricas muito confiáveis que recuam ao tempo dos primeiros Pais da Igreja no cristianismo primitivo.

Segundo, o estilo e a estrutura do Evangelho segundo Marcos, são compatíveis com a ideia de um intérprete que registra as pregações e ensinamentos de um apóstolo. O evangelho apresenta um caráter imediato e vívido, características que poderiam refletir a influência de uma testemunha ocular como Pedro. Além disso, a estrutura e a ordem cronológica simplificada dos incidentes no Evangelho são notavelmente semelhantes às enumerações feitas por Pedro no livro de Atos (Atos 3.13, 14; 10.36-43). Isto pode ser mais uma sugestão de que Marcos pode ter registrado as memórias de Pedro.

Terceiro, a ausência de razões convincentes para atribuir falsamente o Evangelho a uma figura relativamente menor como Marcos, reforça a credibilidade da tradição. Se o objetivo fosse conferir autoridade ao texto por meio de uma associação apostólica, nomes mais proeminentes, como Pedro ou Paulo, seriam escolhas mais lógicas ao invés de Marcos.

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Quando o Evangelho de Marcos foi escrito?

É bem difícil determinar quando Marcos escreveu o segundo Evangelho. Algumas fontes históricas como o Prólogo de Marcos Anti-Marcionita, indicam que o livro teria sido escrito após a morte de Pedro, na Itália. Irineu diz que Marcos escreveu a pregação de Pedro após a sua partida, mas isto poderia significar tanto a partida de Pedro deste mundo, como a sua partida da cidade de Roma.

Por outro lado, Clemente de Alexandria, Orígenes e Eusébio, afirmam que Marcos teria escrito o segundo Evangelho enquanto Pedro ainda estava vivo. Diante disto, alguns estudiosos acreditam que talvez Marcos tenha começado sua obra enquanto Pedro ainda vivia, mas sua finalização talvez tenha ocorrido após a morte do apóstolo. Seja como for, a posição mais aceita é a de que Marcos escreveu o seu livro entre o final da década de 50 e início da década de 60 d.C., sendo o primeiro dos quatro Evangelhos a ser escrito.

Curiosamente, o Evangelho de Marcos inclui de forma exclusiva em seu conteúdo um episódio sobre um jovem que fugiu coberto apenas por um lençol durante a prisão de Jesus (Marcos 14:51). Isto tem sido especulado por alguns estudiosos como uma referência velada do próprio Marcos à sua presença naquele evento.

Em resumo, a atribuição do segundo Evangelho a João Marcos, intérprete de Pedro, é uma tradição antiga e bem fundamentada. Sua proximidade com figuras centrais do cristianismo primitivo, o testemunho consistente dos Pais da Igreja e as nuances internas do próprio texto do Evangelho, sugerem fortemente sua autoria. Este entendimento não apenas respeita a tradição histórica, mas também reconhece a importância de Marcos como uma testemunha secundária, porém vital, da vida de Jesus, trabalhando no contexto do testemunho coletivo dos apóstolos.

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