Por Que a Igreja é a Noiva de Cristo?
A figura da Igreja como a “Noiva de Cristo” é uma simbologia aplicada nos textos bíblicos para se referir ao relacionamento de Cristo com o seu povo. O significado de dizer que a Igreja é a noiva de Cristo expressa a ideia de que a comunidade da fé está num compromisso inviolável com o Senhor. Como uma noiva, a Igreja é amada por Ele, protegida por Ele e pertence a Ele. Consequentemente, a Igreja deve ser fiel a Cristo e aguardar ansiosamente como uma vigem pura pelo dia das bodas de seu casamento.
Inclusive, o casamento não é única figura empregada na Bíblia para falar do relacionamento entre Cristo e a Igreja. Além de ser designada como a noiva de Cristo, no Novo Testamento a Igreja também é retratada como um corpo do qual Cristo é a cabeça (1 Coríntios 12); ovelhas das quais Cristo é o Pastor (João 10:1-30); ramos ligados à Videira Verdadeira que é Cristo (João 15:1-11); etc.
O casamento como figura do relacionamento entre Deus e o seu povo
A analogia da igreja como a noiva de Cristo não é algo inédito do Novo Testamento. No Antigo Testamento, frequentemente a nação de Israel é apresentada como a esposa, e, Yahweh, como o Esposo. Por exemplo: no livro de Ezequiel lemos sobre como Deus se casou com a nação quando não havia nenhum valor nela, e foi um marido amoroso e provedor (Ezequiel 16:8-14).
Mas por vezes o relacionamento entre Deus e Israel no período veterotestamentário foi retratado através da figura de um casamento problemático. O mesmo texto do profeta Ezequiel denuncia a lascívia e a promiscuidade da esposa amada pelo Senhor (Ezequiel 16:15-59). Nesse sentido, enquanto Deus permaneceu um marido fiel, a nação de Israel, em sua apostasia, se comportou como uma esposa infiel que quebrou a aliança de seu matrimônio e abandonou o Senhor, abraçando os falsos deuses das nações vizinhas.
Contudo, apesar do adultério religioso de Israel e dos constantes avisos de julgamento divino sobre a nação, o Senhor permaneceu fiel à sua Palavra e fez promessas de restauração sob as bases de uma aliança eterna. Nesse sentido, parte importante do propósito do Senhor em ter um povo exclusivo para si, encontra seu cumprimento pleno na Igreja do Novo Testamento, que sob a Nova Aliança reúne em Cristo judeus e gentios como participantes de um mesmo corpo.
A definição da Igreja como noiva de Cristo
É importante entender que o conceito da Igreja como a noiva de Cristo traz um aspecto coletivo fundamental. Isso quer dizer que o crente, sozinho, não é a noiva de Cristo. Na verdade, a Igreja é uma assembleia formada por todos aqueles que foram salvos pela graça mediante a fé, e, portanto, é essa comunidade que constitui a Noiva de Cristo.
Dessa forma, são contados nessa comunidade da fé figuradamente chamada de “Noiva de Cristo”, todos os salvos de todas as épocas e lugares. Em outras palavras, até mesmo os crentes dos tempos do Antigo Testamento que viveram antes e durante a aliança do Sinai, também fazem parte do ajuntamento que consiste na Noiva de Cristo.
Isso porque jamais houve qualquer forma de salvação à parte da obra redentora de Jesus Cristo. Enquanto hoje os crentes são salvos pela graça mediante a fé no Messias que já veio ao mundo, os crentes do Antigo Testamento também foram salvos pela graça mediante a fé no Messias prometido que haveria vir.
Portanto, a Noiva de Cristo é formada tanto pelos redimidos que no prezado momento estão vivendo suas vidas neste mundo, quanto pelos redimidos que já descansam no Senhor. Na teologia, costuma-se falar dos crentes que já estão com o Senhor como sendo a “Igreja triunfante”, enquanto os crentes que estão vivos nesta terra são a “Igreja militante”. Ambos os grupos são, essencialmente, um só grupo que pode ser chamado de a “Noiva de Cristo”.
Por outro lado, nem todos que estão no meio da Igreja são, de fato, participantes da Noiva de Cristo. Na Parábola do Joio e o Trigo, o Senhor Jesus falou claramente sobre isso. Então, na linguagem teológica também se fala na “Igreja visível” e na “Igreja invisível”.
A Igreja visível é aquela que os homens enxergam, e reúne nela o trigo e o joio. Mas a Igreja invisível é a aquela que Deus enxerga, pois Ele conhece quem são os crentes genuínos e quem são os impostores. Assim, é somente a Igreja invisível que pode ser considerada a noiva de Cristo.
As características da Igreja como noiva de Cristo
Ainda no Antigo Testamento, quando Deus levantou Israel, Ele deixou claro o seu propósito de ter para si um povo como sua propriedade peculiar; um povo para ser “reino de sacerdotes e nação santa” (Êxodo 19:5,6).
Como já foi dito, os filhos de Israel falharam em ouvir a voz do Senhor e guardar com diligência a sua aliança. Mas no Novo Testamento, o apóstolo Pedro aplicou esse conceito veterotestamentário diretamente à Igreja, ao falar dela como a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa de propriedade exclusiva do Senhor que foi chamada para cumprir com fidelidade o seu propósito (1 Pedro 2:9).
De forma muito simples, essa aplicação do apóstolo Pedro nos ajuda a entender as características básicas da Igreja na condição de noiva de Cristo.
A Igreja é a noiva escolhida
A Igreja foi uma noiva pessoalmente escolhida pelo próprio Deus. O relacionamento entre Cristo e sua Igreja não é algo acidental ou fruto do acaso, mas é resultado da eleição divina. Os crentes que formam a noiva de Cristo são os eleitos de Deus (cf. 1 Pedro 1:2).
Mas engana-se quem pensa que a escolha divina se seu com base em algo que Deus viu nos eleitos. Muito pelo contrário! A posição da Igreja como noiva de Cristo se torna ainda mais maravilhosa quando se entende que ela é formada por pecadores. Sim, todos aqueles que agora são contados como parte da noiva de Cristo, outrora não eram dignos de qualquer consideração.
Mas Deus, em sua vontade livre e soberana, na sua maravilhosa graça decidiu amar quem não merecia ser amado; Ele decidiu escolher a quem só restava ser repudiado. Se hoje a Igreja é a noiva de Cristo, pura, bela, adornada e preciosa, isso tem a ver com a graça de Deus. Sem a obra da graça, não haveria nenhuma noiva, apenas uma meretriz.
A Igreja desfruta de um relacionamento íntimo com o Senhor
A Igreja, como noiva de Cristo, possui o mais profundo relacionamento com o Senhor. Na época do Antigo Testamento, os sacerdotes foram separados para serem os responsáveis por representar o povo diante de Deus, e Deus diante do povo. Havia um distanciamento, mas através do ministério dos sacerdotes o relacionamento entre o povo e Deus ficava mais próximo.
Mas no Novo Testamento, a própria Igreja foi feita um reino de sacerdotes que foram comprados pelo sangue do Cordeiro de Deus, o Sumo Sacerdote eterno (Apocalipse 5:9,10). Consequentemente, os crentes agora desfrutam do mais íntimo relacionamento com o Senhor, pois eles têm livre acesso a Deus e podem se aproximar do trono da graça com confiança (Hebreus 4:16).
A Igreja é uma noiva pura e fiel
A Igreja, como noiva de Cristo, é santa, imaculada, e pertencente ao Senhor. A Igreja é a comunidade de pessoas que foram separadas para Deus, ou seja, a Igreja é a propriedade exclusiva do Senhor.
Nesse ponto, há uma clara ideia de exclusividade e pertencimento. O Senhor não aceita dividir a sua esposa com mais ninguém. A Igreja é o povo de Deus, e Deus é o Deus do seu povo. A Igreja é a noiva de Cristo, e Cristo é o Noivo da Igreja. Pela obra do Espírito Santo, a Igreja está em Cristo, e Cristo está na Igreja, de modo que esse laço de propriedade é inviolável, pois o Espírito Santo é a aliança desse noivado.
A Noiva de Cristo não é acomodada
A Noiva de Cristo possui uma missão: anunciar a grandeza dos atos redentores de Deus. Comprometidos com o Senhor, os crentes que foram chamados das trevas para luz desejam que Deus seja glorificado e que outras pessoas também tenham conhecimento das obras divinas.
Portanto, a Igreja de Cristo não é uma noiva acomodada. Na verdade, como noiva de Cristo, a Igreja é como aquelas pessoas apaixonadas que não se cansam de falar sobre seu grande amor; é como uma pessoa prestes a se casar que só deseja falar sobre a plenitude do seu relacionamento e do casamento que se aproxima.
Além disso, quando a Bíblia usa a figura do casamento para falar da união entre Cristo e a Igreja, é útil considerar as particularidades da celebração do casamento no contexto daquela época.
Nos tempos bíblicos, os noivos ficavam oficialmente comprometidos enquanto aguardavam o dia das bodas do casamento. Mas esse era um conceito de noivado muito mais sério do que o noivado atual, de modo que os noivos já eram considerados oficialmente casados antes mesmo das bodas de casamento. Primeiro, era firmado um contrato de casamento na presença de testemunhas, o dote era pago pelo noivo ao pai da noiva, e depois se seguia um período de espera para a preparação das bodas que durava vários dias.
Portanto, não era nenhum segredo quando um casal estava num noivado. O noivo e a noiva já eram vistos pela sociedade como pertencentes um ao outro. Eles falavam, agiam e se comportavam como pessoas legalmente comprometidas. É exatamente dessa forma que a Igreja, como noiva de Cristo, deve viver. A Igreja deve falar, agir e se comportar de forma condizente com o seu compromisso com Cristo.
O casamento da Noiva de Cristo se aproxima
No presente, a noiva de Cristo está experimentando o período de intervalo entre o contrato e as bodas de casamento. O contrato já foi firmado, Cristo pagou o dote por sua noiva com o seu próprio sangue, e a Igreja está oficialmente comprometida com Ele.
Agora, a noiva de Cristo deve viver como uma virgem prometida ao seu esposo. Ela está sendo preparada, purificada e adornada enquanto aguarda pacientemente pela chegada do Noivo. Quando o Noivo chegar, Ele apresentará a noiva de forma esplendorosa e as bodas de casamento não durarão apenas alguns dias, mas se estenderão por toda a eternidade futura.