O primeiro mártir da Bíblia foi Abel, enquanto o primeiro mártir da Igreja Cristã no Novo Testamento foi Estêvão. Embora tenham vivido em épocas complemente diferentes, separados por milhares de anos, Abel e Estêvão tiveram em comum o bom testemunho de obediência e de uma vida comprometida com a vontade do Senhor.
De acordo com o livro de Gênesis, Abel foi morto por seu próprio irmão, Caim, em um ato de inveja e raiva. A morte de Abel foi um marco significativo, pois representou o primeiro assassinato registrado nas Escrituras e o primeiro caso de martírio por causa da justiça e da fé. Já a morte de Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, ocorreu num contexto de perseguição promovida pela liderança judaica da época.
Abel, o primeiro mártir da Bíblia
Abel, o primeiro mártir da Bíblia, teve uma vida de retidão e obediência a Deus. Ele ofereceu a Deus o melhor de suas ovelhas, enquanto seu irmão, Caim, ofereceu frutos do solo. Então, a Bíblia diz que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim. Consequentemente, Caim foi dominado por um sentimento de ciúme e ira que culminou no assassinato de Abel, tornando-o o primeiro mártir da Bíblia (Gênesis 4).
Muitos estudiosos argumentam que o fato de Caim ter oferecido frutos da terra, ao contrário de seu irmão que ofereceu uma oferta de sangue, não deve ter sido o verdadeiro problema da adoração de Caim, afinal essas ofertas eram condizentes com as ocupações dos dois irmãos. Na verdade, o texto bíblico parece indicar que o grande problema de Caim estava no seu interior. Parece que ele não estimava de maneira adequada a comunhão com Deus, e tentou cultuar ao Senhor de uma forma reprovável.
Nesse sentido, a morte de Abel foi resultado direto de sua retidão e fé em Deus, e a rejeição de Caim foi resultado de sua atitude pecaminosa. O escritor de Hebreus observa que foi pela fé que Abel ofereceu uma oferta maior que a de Caim, e alcançou um testemunho que agradou ao Senhor (Hebreus 11:4).
Estêvão, o primeiro mártir da Igreja Cristã
Enquanto Abel, o primeiro mártir da Bíblia, viveu no início da história humana, Estêvão, por outro lado, viveu no período do Novo Testamento e é reconhecido como o primeiro mártir da Igreja Cristã. Estêvão foi um dos sete diáconos escolhidos pela igreja primitiva em Jerusalém para servir às viúvas e aos necessitados (Atos 6).
Estêvão era um homem conhecido por sua fé e capacitação pelo poder do Espírito Santo, e realizava prodígios e grandes sinais entre o povo. Ele pregava o Evangelho de Cristo com muita sabedoria, e sua pregação sobre Jesus atraiu a ira dos líderes religiosos da época. Eles o acusaram falsamente e o levaram ao Sinédrio, onde ele proferiu um poderoso discurso relembrando a história de Israel e acusando os líderes de matarem o Messias.
Enfurecidos, os líderes judaicos arrastaram Estêvão para fora da cidade e o apedrejaram até a morte, tornando-o o primeiro mártir da Igreja Cristã. Inclusive, nesse contexto o fariseu Saulo de Tarso, que posteriormente se tornou o maior líder da história do Cristianismo, consentiu no martírio de Estêvão (Atos 6—8).
Por que Abel e Estêvão são considerados mártires?
Para entender a importância de Abel e Estêvão como mártires, é essencial considerar o contexto mais amplo da história bíblica. Desde o início, Deus estabeleceu padrões de justiça e retidão. Abel, ao oferecer a Deus o melhor de suas ovelhas, demonstrou sua fé e obediência, enquanto Caim, movido pelo ciúme, cometeu o primeiro assassinato.
Da mesma forma, Estêvão, ao pregar a Palavra de Deus, não teve sua vida por preciosa em detrimento da proclamação do Evangelho ao ter de enfrentar a oposição dos líderes religiosos. Sua fidelidade e coragem em proclamar a verdade, mesmo diante da morte, o estabeleceram como um exemplo para todos os cristãos.
Inclusive, o testemunho de Estêvão e sua morte marcaram o início de uma era de perseguição à Igreja. Seu martírio também serviu como lição a respeito do custo do discipulado e da fidelidade a Cristo, bem como da importância de permanecer firme na fé, independentemente das circunstâncias.
Outros mártires além de Abel e Estêvão
A história do povo de Deus é uma história de mártires. Desde o período do Antigo Testamento muitas pessoas foram privadas de suas vidas neste mundo por não aceitarem negociar seu compromisso com o Senhor. Dessa forma, ao longo do registro bíblico e da história da Igreja Cristã, muitas outras pessoas seguiram os passos de Abel e Estêvão, sacrificando suas vidas por causa de sua fé em Deus.
Na verdade, nenhuma outra religião produziu tantos mártires como o Cristianismo, e isso já era esperado considerando que o próprio Senhor Jesus Cristo morreu crucificado, e quase todos os seus apóstolos que lideraram a Igreja em seus primeiros anos, foram martirizados.
De forma geral, esses mártires, com sua coragem e determinação, servem como exemplos inspiradores para todos os cristãos ao redor do mundo. Eles nos lembram da importância de permanecer fiel a Deus, mesmo diante das adversidades e perseguições.
No entanto, é importante que se sabia que o sangue desses mártires não ficará impune. Desde Abel, o primeiro mártir da Bíblia, do qual até mesmo o Senhor Jesus deu testemunho dele como um modelo de mártir que sofreu por sua fé, há um clamor a Deus para que a justiça seja feita contra aqueles que derramaram sangue inocente.
No livro do Apocalipse, por exemplo, o apóstolo João teve a visão das almas dos mártires que clamam pela justiça de Deus. Nessa visão, então, João viu que esses mártires receberam vestes brancas e foram encorajados a esperar um pouco mais de tempo até que se completasse o número daqueles que seriam martirizados por causa da Palavra de Deus e do seu testemunho (Apocalipse 6:9-11).
Na Bíblia, Cristo chama seus seguidores para serem suas testemunhas, e curiosamente a palavra “testemunha” traduz exatamente o termo grego de onde vem a palavra “mártir”. Portanto, apesar de todo esse sofrimento, os cristãos são convidados a perseverar na Fé, sabendo que o Deus que se assenta no trono do Universo está atento ao martírio do seu povo.